'Dilma não sofre machismo, ela é machista e centralizadora', diz Marcelo Tas
O repórter fictício Ernesto Varela, que nos anos 1980 encurralava figurões com perguntas incômodas, já se aposentou, mas seu intérprete Marcelo Tas não perdeu o traquejo quando o assunto é política. O apresentador do "Papo de Segunda" (GNT) faz avaliações no programa semanal e em seu site pessoal.
Na última semana, ele respondeu a um tuíte da deputada e ex-ministra de Direitos Humanos Maria do Rosário (PT-RS), que na ocasião defendeu o colega Jean Wyllys (PSOL-RJ) e o ator José de Abreu. Ambos cuspiram em seus ofensores após discussões de viés político.
Maria do Rosário argumentou que Wyllys e Abreu não agiram de caso pensado. "Quem reage à agressão não planeja como agir, quem agride, sim". Tas contestou: "Que argumento infeliz para justificar agressão. Você era ministra de Direitos Humanos mesmo? Difícil de acreditar."
José de Abreu perguntou o que Tas faria se estivesse em seu lugar. O jornalista não respondeu, mas postou uma foto vestido de mulher acompanhada da legenda "Preocupada em levar na cara um argumento de ‘intelequituau’ do PT."
Procurado pelo "F5", ele afirmou que a crítica foi pontual e à figura que ocupou o posto de ministra por quatro anos."Ela disse o seguinte: Ele [José de Abreu] estava de cabeça quente, foi agredido, então tudo bem cuspir na cara de uma mulher. É grave, porque pode servir de justificativa para o marido que chega em casa de cabeça quente e espanca sua mulher."
Marcelo Tas e José de Abreu se conhecem pessoalmente. Eles conviveram durante as gravações da novela "O Rebu", da qual o ator e a mulher do jornalista, Bel Kowarick, participaram.
"Vi o vídeo do Zé naquela situação [na briga no restaurante] e ele estava irreconhecível. É um grande ator por quem tenho respeito, mas em mulher não se bate nem com flor."
Tas se gaba por ser uma pessoa "não rotulável". Na época da faculdade [ele estudou na POLI e na ECA, USP], conta aos risos, conseguiu "apanhar da direita e da esquerda". Ele era diretor de um jornal anarquista, cargo que ocupou depois de vencer Gilberto Kassab (PSD) numa eleição direta.
Sua sexualidade também levanta dúvidas."As pessoas acham que eu sou veado. Não ligo, é o tipo de coisa que não me pega."
O que pega Tas é o confronto violento entre discursos acalorados. Para ele, o país vive uma "crise de adolescência por ter que decidir muito rapidamente o que vai ser quando crescer". Ele critica a polarização política, mas vê com bons olhos o clima de debate que tem tomado conta das conversas de bar (e dos almoços de família, e dos jantares entre namorados, etc).
O jornalista não foge de discussão com amigos, é declaradamente a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff, mas diz não ter nenhuma esperança com um eventual governo Temer.
Tas defende que Dilma seja impichada por conta das chamadas pedaladas fiscais. Ele, que em vários momentos da entrevista fala sobre machismo, quando perguntado se a presidente é vítima desse tipo de preconceito, afirma de forma veemente que não. "A Dilma não sofre machismo, ela é machista, é centralizadora".
Confira trechos da entrevista:
Polarização política
Acho essa situação toda muito rica, inclusive com seus efeitos colaterais [de eventuais desentendimentos]. Esse ambiente quer dizer que a gente tem sofrido as dores da saída da adolescência.
O que não acho positivo é o confronto. Existe diferença entre conflito e confronto. O conflito é algo que a gente não deve fugir, ele está no casamento, nas relações de colegas de trabalho. O confronto é você simplesmente cuspir numa pessoa ou chamá-la de coxinha, petralha.
O governo PT
Sou completamente contra o esquema criminoso de aparelhamento do Estado montado pelo PT. O partido usou técnicas que deixariam o Maluf corado. Na verdade, melhorou essas técnicas, inclusive as do Fernando Henrique, que comprou sua reeleição.
Impeachment
Durante muito tempo, me mantive contra. Agora, com as '60 bilhões' de pedaladas, sou favorável. Foram elas que nos trouxeram para esse buraco.
Esse papo de que todo mundo [presidentes anteriores e governadores] pedalou é balela, os estados não têm bancos públicos. A Dilma meteu a mão na Caixa, o que fez os juros aumentarem, e estragou a vida de um monte de gente.
O Impeachment também é um ato político, não é só técnico. Foi justo o impeachment do Collor? Foi, mas foi político. Ele teve a coragem que a Dilma não teve de pedir a renúncia.
Machismo na política
O Brasil é machista, o Congresso é machista, só tem homem velho lá dentro. Mas não acho que a Dilma sofra machismo, ela é machista e centralizadora. A Dilma não está sendo acusada porque é mulher, isso é uma falácia.
Saída
A gente precisa parar de ficar jogando no tabuleiro eleitoral, a gente precisa mudar as peças e reinventar o jogo. A discussão não é partidária e eleitoral, é sobre política.
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