"Me trataram como um moleque, um iniciante", diz Lobão
"Eu achei surreal, me trataram como um moleque", disse Lobão na tarde desta segunda-feira à Folha sobre o tratamento dado aos seus questionamentos sobre o festival Lollapalooza durante o anúncio das atrações do evento, que aconteceu na manhã de hoje em São Paulo.
O músico brasileiro, bastante conhecido no país por conta de sua extensa carreira solo, criou polêmica nas redes sociais durante o fim de semana após publicar um vídeo no YouTube em que convoca os artistas nacionais a boicotarem o festival, já que o evento teria reservado o horário das 10h às 15h para os brasileiros. Lobão afirma que, durante o anúncio, os organizadores do festival o desmentiram e que "mudaram de ideia" sobre o que lhe foi passado desde o início das negociações. Agora, a organização afirma que haverá bandas brasileiras tocando até às 23h, quando o festival encerra.
"Eles desmentiram que o horário reservado para os artistas nacionais era das 10h às 15h, quando, na verdade, esse é o ponto gravitacional da minha conversa", afirma Lobão. "E [os organizadores] ainda me disseram que o Velhas Virgens vai fechar um dos palcos. Ah, pelo amor de Deus. Eu estou falando de gente grande. Estou falando de 'mainstream'. Os caras estão me tratando como se eu fosse um amador. Eu tenho anos de história. Não sou um 'beginner' [iniciante] e queria muito que ele [Perry Farrel, criador do festival] soubesse com quem está falando, porque eu sei com quem eu estou falando."
"As pessoas têm de entender que eu sou, além do músico de 35 anos de carreira, um empreendedor de festivais e me identifico nesse aspecto com o Perry. Eu acho que sou um colega em vários aspectos dele", afirma Lobão. "As pessoas estão colocando como se eu estivesse reclamando do meu horário, mas eu estou declarando uma coisa muito mais grave do que isso. Estou dizendo que estão formando um gueto de brasileiros no Lollapalooza. Isso é fato."
Lobão explicou ainda como se deu a confusão. "Eu estava eufórico para participar do Lollapalooza. Aí, na quinta-feira passada, o meu agente, o Jorge [Chamon], estava todo feliz... Quer dizer, não tão feliz, porque o cachê era um cachê pífio. Mas eu falei que tudo bem, porque o Lollapalooza não é um festival como o Rock in Rio. Eu não posso dizer qual o valor porque ele não me dá esse... Eu só posso dizer que é muito abaixo do cachê que eu normalmente peço, uma coisa muito abaixo do que eu costumo tocar", conta.
"Quando eu soube que ia tocar das 14h às 15h, vi que tinha algo estranho. Daí liguei para o Sergio [Peixoto, da Geo Eventos, produtora do festival] e perguntei o porquê. E ele falou: 'cara, você sabe como é que é gringo, né. É tudo muito rígido. A gente não tem como modificar muito, mas eu te garanto que você vai fechar os brasileiros'. E eu falei: 'como assim, fechar os brasileiros?'. E aí o cara quis me convencer que eu era o mais importante dos brasileiros. E ele me falou que tinha essa regra que brasileiro só tocava das 10h às 15h e que estavam me dando o filé mignon. Isso é formação de gueto. Isso é muito grave", afirma Lobão. "Eles me pediram, inclusive, que eu não saísse do festival, porque eu era a atração principal do Brasil, e que eu era prioridade."
"Se você olhar para os headliners do Lollapalooza no Chile, são chilenos. Nos festivais na Argentina, os headliners são chilenos", engana-se Lobão, já que as atrações principais do festival em Santiago no ano que vem são Foo Fighters (EUA), Arctic Monkeys (Inglaterra) e Björk (Islândia).
Lobão comparou ainda o que aconteceu entre ele e o Lollapalooza ao ocorrido durante o festival SWU, quando as equipes do Ultraje a Rigor e da banda de Peter Gabriel brigaram no palco após Roger, vocalista do Ultraje, se recusar a tocar por menos tempo para não causar atraso ao show de Gabriel. "Conseguiu ser pior do que o que aconteceu no SWU com o Roger e o Peter Gabriel. Me deram um pedaço de merda pra eu fazer e eu disse não. É o fim da picada".
"E se ele insinuou que vai me mandar uma mensagem, como fez o Peter Gabriel com o Roger, isso não me satisfaz. Eu quero falar com eles olhando na cara deles. O festival dele [Farrell] está mentindo descaradamente sobre o line-up. Como o homem que honra as calças dele, ele tem que me dar satisfações pessoais. Estou aguardando ansiosamente. Quero apertar a mão dele. Quero ter o prazer de falar com ele. Tenho certeza que a gente vai se entender as mil maravilhas. De preferência, publicamente. A minha palavra está em jogo. Minha dignidade está em jogo", afirma Lobão.
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