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BBB 24: Cristãos no reality reacendem debate sobre programa entre fiéis

Líderes religiosos eram críticos ao programa no começo dos anos 2000, mas participantes que mostram sua fé ajudam a mudar este panorama

Isabelle faz oração para Davi não desistir do BBB 24 - Reprodução/Globoplay

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São Paulo

Entra ano, sai ano, e o Big Brother continua sendo uma espécie de tabu dentro das igrejas cristãs. Com o passar das edições, no entanto, mais e mais participantes professam sua fé durante o confinamento —e o assunto vai tomando novas formas.

Um trecho do salmo 23, um dos mais populares no Brasil, foi declamado por um dos participantes na euforia da comemoração pela sua permanência no jogo, e agora é veiculado nas mídias oficiais do reality.

"O Senhor é meu pastor e nada me faltará. Deitar me faz em pastos verdes. Guia-me mansamente a águas tranquilas e refrigera a minha alma. Guia-me pelas veredas da justiça, por amor ao Teu nome", recitou o baiano Davi, 21, depois da eliminação de Michel, no penúltimo Paredão.

Beatriz, 23, fez a mesma prece quando buscava forças para permanecer na prova de resistência do dia 9 de fevereiro, pouco antes de ser superada por Lucas. Desde o começo, Bia e Davi entoam hinos de louvores gospel e rebolam ao som de hits do funk, piseiro, axé e forró.

Eles não são os únicos cristãos a combinarem esses comportamentos dentro ou fora do reality, mas a prática é criticada por setores conservadores do cristianismo. Nas duas primeiras décadas dos anos 2000, líderes religiosos desincentivaram os fiéis a acompanharem o reality por este e outros comportamentos vistos no programa.

Em 2004, por exemplo, o mineiro padre Léo fez uma pregação baseada em um texto da Folha sobre o cancelamento do BBB em países árabes. O sacerdote ligado a Renovação Carismática Católica, núcleo que guarda semelhanças com as práticas evangélicas, disse que o voto para eliminar fere os princípios cristãos.

"Qual é a grande catequese que ensina o Big Brother? Que você, para ganhar na vida, tem que ir, pouco a pouco, eliminando as pessoas. Olha se não é o demônio que está aí?", pregou.

O pastor Silas Malafaia, 65, também fez coro às críticas. Mais de uma vez ele afirmou que os crentes que assistem ao programa deveriam se converter. O líder evangélico chegou a publicar no Twitter, agora X, uma opinião sobre os participantes da 16ª edição do reality show da Globo, oito anos atrás.

"Heróis de quê? Da imoralidade, safadeza, destruição dos valores morais, uma vergonha!", postou.

A envergadura dessas lideranças e o acesso delas aos meios de comunicação contribuíram para a construção do tabu para os fiéis de gerações diferentes. A expansão das redes sociais fez com que outras opiniões alimentassem o debate.

"Eu nasci em 1997 dentro de um contexto evangélico. Essa compreensão [sobre o BBB] era mais comum na minha infância, por volta de 2007, 2008. Me lembro de pastores colocando o programa nessa caixa de pecado. Também tinha profanidades impróprias para crianças", conta Luciana Petersen.

Aos 26 anos, Luciana é diretora geral do projeto Novas Narrativas Evangélicas e acompanha o BBB 24. Segundo ela, outras perspectivas sobre o entretenimento estão aparecendo nos ambientes cristãos.

Petersen disse ao F5 que o reality é interessante para se distrair e refletir sobre a humanidade. "Não sei se devem, mas os evangélicos com certeza podem assistir ao programa. Inclusive gravei um podcast sobre esse tema", afirmou.

O conteúdo está disponível desde o dia 18 de fevereiro no podcast Rádio Novas. Luciana também faz reflexões no episódio sobre o reality Casamento às Cegas e a monogamia. "Passar a ver beleza na humanidade nua e crua, talvez seja um dos maiores ensinamentos de Jesus", disse.

A diretora acredita em várias formas de ser uma pessoa evangélica e diz que o BBB tem evidenciado o crescimento ao aumentar a quantidade de participantes desta fé.

"Gil do Vigor foi um personagem que revelou ao grande público a possibilidade de ser gay e cristão", contou. Para ela, a frase do ex-participante "sou uma bicha, bandida, cachorra e evangélica" é reflexo da pluraridade desta fé.

Jacira Santanna, 56, é a mãe de Gil. Ao F5 ela disse que a participação do filho no BBB 21 foi autêntica. "Ele mostrou quem realmente ele é e no que acredita. Sempre falou em Cristo e até hoje participa e vive dentro da igreja. Foi assim que o criei", contou.

Dona Jacira, atualmente, se declara agnóstica e resignada, termo que descreve pessoas que assinaram uma carta para se desobrigar dos afazeres institucionais com uma instituição cristã.

"Ensinei meus filhos a respeitarem todas as religiões e a ter liberdade. Minha mãe foi do candomblé a vida inteira e eu acho lindo", falou. Ela aproveitou o momento para lamentar os episódios de intolerância religiosa sofridos por Fred Nicácio, no BBB 23.