Atriz antecipa relação lésbica com personagem de Regiane Alves em 'Vai Na Fé': 'Amor genuíno'
Priscila Sztejnman diz que personal trainer Helena vai resgatar Clara de casamento abusivo
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Priscila Sztejnman, que interpreta Helena em "Vai Na Fé" (Globo), chegou para confundir Clara, vivida por Regiane Alves na novela da 19h. A personal trainer demonstra com pequenos gestos e atitudes os sentimentos que tem pela aluna. A trama, que se desenvolve aos poucos, instiga a curiosidade dos espectadores, que já torcem por um final feliz entre as duas.
A carreira de Priscila na Globo começou há 12 anos, quando tinha 22 e foi contratada como autora na emissora. Apesar de atuar desde criança em peças de teatro autorais, quando entrou na vida adulta decidiu complementar os dotes artísticos e se formou em cinema e teatro pela Pontífice Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro.
Ela diz que a reação do público com o desenrolar da história das personagens a emociona e representa uma busca pelo amor-próprio, já que é isso que Clara tenta resgatar em meio ao relacionamento abusivo e conturbado com o marido, Theo (Emilio Dantas). Apesar dos percalços, Priscila afirma que Helena e Clara têm muito futuro pela frente e garante que a história vai ser bonita.
A intérprete comenta ainda o filme "Segundo Tempo", do qual participa, e fala sobre a repercussão da demissão do marido Vinicius Coimbra da Globo. A rescisão do profissional ocorreu em março de 2022 após denúncias de racismo nos bastidores da novela "Nos Tempos do Imperador" (2021), que era diretor artístico da produção.
Confira abaixo trechos da entrevista editada.
Como está se sentindo com a história de Helena e Clara na novela "Vai Na Fé" e com o desenrolar do envolvimento das duas personagens? Estou muito feliz. Acho que se pudesse definir a Helena em um verbo de ação seria despertar. Todo personagem tem função dramática na história, e a Helena tem essa função de despertar sentimentos e assuntos. Ela é uma pessoa questionadora, que está sempre se questionando sobre padrões sociais e o por que dos comportamentos. Na história, ela acende uma busca pelo amor-próprio, que é o primeiro e mais potente amor. Ela também fala muita coisa que eu concordo. É muito bom fazer um personagem com que você está de acordo em um sentido de coração. O meu coração está muito de acordo com o dela, e ela já está proporcionando mudanças na Clara. Está muito bonito e me fazendo muito bem viver ela, me conectando com sentimentos muito bons e filosofias de vida muito saudáveis.
Quais seriam as semelhanças entre vocês? Eu sou muito questionadora, sempre fui. Não gosto de entender as coisas de uma maneira dicotômica ou limitada, prefiro pensar e elaborar. A Helena é muito equilibrada e centrada. No começo, quando fiz a preparação, não tinha texto, então criei muito a partir da intuição e do contraponto ao Theo, o vilão da novela. E também de acordo com as necessidades que eu sentia para a Clara ser transformada. Pensei nas ferramentas que a Helena ia ter para transformar a aluna a partir desse lugar de mentora e professora da Clara.
A personagem já está proporcionando mudanças na Clara. O que tem no futuro das duas? Tem muito futuro, e um futuro que já é passado porque já foi gravado. Não quero dar spoiler, mas é uma história muito bonita, em que um amor genuíno entre as duas vai ser despertado. A minha personagem vai se apaixonar pela Clara, e a história vai ser uma busca através do feminino, uma não larga a mão da outra e elas se ajudam no desenvolvimento. O Theo representa tudo o que a Helena abomina, tudo o que ela luta contra. E acho interessante que a personagem nunca abaixa a cabeça para ele. Já gravamos uma cena dos dois, e ela sempre o enfrenta de uma posição confiante e autocentrada. As armas dela são o amor e a inteligência, muito mais potentes do que a violência.
Como avalia a recepção do publico com essa história? Estou amando, é a melhor parte. Já vi uma cena ser repercutida em vários lugares, em que a Helena fala para a Clara que sempre vai ter alguém que não vai reconhecer o seu valor, e que não é para permitir que essa pessoa seja você. Acho que as pessoas gostam de serem incentivadas e motivadas, ainda mais no mundo cruel e violento em que vivemos.
Qual reação você acredita que o Rafael (Caio Manhete), filho da Clara, vai ter com o envolvimento das duas? Acho a cara dela se preocupar com o Rafael. Toda mãe tem essa preocupação, mas, pelo que foi mostrado até agora, entendo que o filho quer ver a mãe feliz e bem. Ele vai incentivar ela a viver o amor que ela merece viver, um amor não encontrado na relação com o Theo.
Qual foi o seu processo para interpretar a Helena e se preparar para o papel? Minha preparação começou em assistir filmes para me inspirar, como "Retrato de uma Jovem em Chamas". Ali tem uma paixão e uma ingenuidade combinada com um questionamento de padrões. O filme "A Criada" também me inspirou, tem um mistério, sensualidade e uma conexão muito forte entre as duas personagens femininas que me alimentaram para construir a Helena. Eu também gosto muito de fazer playlist e escutar no caminho para a gravação, e coloquei Nara Leão, Ney Matogrosso e Liniker. A preparação tem várias camadas, desde intelectuais passando por artística, psicológica e física. Eu comecei a fazer natação, pois gosto sempre de fazer alguma movimentação corpórea de acordo com cada personagem. Sempre faço uma análise dos personagens porque é uma pessoa que tem uma alma. Eu e a Regiane sempre batemos o texto antes, enquanto estamos nos arrumando, e é o tipo de coisa que ajuda.
Como avalia a importância de mostrar um relacionamento abusivo sem agressão física para conscientizar o público? É um abuso psicológico, um mecanismo de controle que o Theo exerce sobre a esposa. Acho assuntos muito interessantes porque falam sobre machismo e feminismo de uma maneira profunda e delicada. Não é explícito, no meio de um diálogo tem uma violência, uma coisa que pega mal... O Theo só ama ele mesmo, é um amor egoísta e autoritário, hierárquico.
Agora você também está em cartaz com o filme "Segundo Tempo"… Lembrei agora, eu e Regiane temos isso em comum. O filme é do diretor Rubens Rewald, e ela coincidentemente fez o primeiro filme dele. Quando falei para ele que estávamos atuando juntas, ele adorou. É um filme muito bonito, sou suspeita para falar. Ele aborda descoberta das raízes, relacionamentos familiares, origens e memória. Ana, a minha personagem, é absolutamente diferente da Helena e de mim. Ela é bibliotecária e paulista, fiz o filme com sotaque paulista. Não me reconheço em absoluto. Quando leio qualquer roteiro, tenho que me emocionar e sentir que é um chamado.
Recentemente, Vinicius Coimbra, seu marido, falou pela primeira vez sobre a demissão da Globo e as acusações de racismo. Como vocês lidaram com as críticas e repercussões do caso? Acho muito difícil e delicado falar no plural, mas a entrevista foi necessária e pertinente de ser divulgada. É muito importante a verdade ser divulgada. Sempre existem várias verdades.