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'Um Lugar ao Sol': Cauã Reymond teve coach e consultou gêmeos para novela

Trama será a 1ª inédita na faixa das 21h da Globo desde a pandemia

Christian/Renato (Cauã Reymond) em "Um Lugar ao Sol" - Fábio Rocha/Divulgação

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São Paulo

Não são muitos os artistas que tiveram o desafio de viver dois papéis em uma mesma trama. Muito menos gêmeos, idênticos e com personalidades completamente diferentes. Mas Cauã Reymond, 41, está recebendo esse "presente" pela segunda vez na novela "Um Lugar ao Sol", que estreia na próxima segunda-feira (8) na Globo.

A trama tem a assinatura de Lícia Manzo, responsável por sucessos como "A Vida da Gente" (2011-2012) e "Sete Vidas" (2015), e chega envolta a muitas expectativas. Ela será a primeira novela totalmente inédita na faixa das 21h da emissora desde o início da pandemia, também é a estreia da autora no horário e começa já toda gravada.

"Amor de Mãe" (2019-2021) e a atual "Nos Tempos do Imperador" também foram obras "fechadas", exibidas com o final já determinado e gravado, independente da aceitação do público, mas a prática ainda é considerava nova no meio da dramaturgia, apesar de facilitar a construção dos personagens, afirma Cauã Reymond.

O ator é o protagonista dessa trama. Ele, que já tinha representado os gêmeos Omar e Yaqub na minissérie "Dois Irmãos" (Globo, 2017), agora dará vida a Christian e Renato, também gêmeos. Separados ainda bebês, eles seguirão caminhos muito diferentes sem saberem um do outro, até se reencontrarem já adultos.

Renato, que foi adotado quando pequeno, cresce no Rio de Janeiro, em uma família rica e com oportunidades que não dá valor, enquanto Christian cresce em um abrigo de Goiânia e ao completar 18 anos tem que se virar sozinho, trabalhando e estudando para realizar o sonho de cursar uma faculdade.

Reymond afirma que conversou bastante com gêmeos e contou com a ajuda de uma coach para fazer os personagens, mas destaca que teve a seu "favor o texto da Lícia, que apontava caminhos muito sólidos para os dois irmãos". "Além disso, comecei a preparação muito tempo antes, comecei a ensaiar com três meses de antecedência."

E olha que não faltaram percalços no caminho de "Um Lugar ao Sol". Escrito em 2018, o folhetim começou a ser gravado em 2019, com cenas no exterior, mas acabou paralisado duas vezes por causa da pandemia. Teve protocolos e mais protocolos de segurança, que foram se alterando ao longo das gravações.

"Esse é sem dúvida o trabalho mais difícil que já tive em complexidade", afirma o ator. "O Maurício [Farias, o diretor] e a Lícia me prepararam com reportagens, filmes, a gente fez leituras. Era meu desejo entregar um trabalho assim depois de tanto tempo longe das novelas, foram quase seis anos."

Além de toda a preparação, Reymond teve uma ajuda extra nas cenas em que os gêmeos aparecem juntos. Isso porque seu irmão na vida real, Pável Reymond, 34, foi seu dublê. "Foi muito especial", afirma Cauã, que diz ter encontrado segurança no olhar do irmão nas gravações mais difíceis.

"Minha mãe morreu há um ano e meio, e uma coisa que ela falou no leito de morte foi para que a gente continuasse unido para sempre. De alguma forma, ‘Um Lugar ao Sol’ nos trouxe esse lugar sincero", revelou o ator em conversa com a imprensa realizada na última quinta-feira (28).

"Ele era a pessoa que dava a referência a Cauã", afirma o diretor Maurício Farias, que acabou dando um personagem a Pável, que aparecerá em alguns capítulos. "Ele tinha alguma experiência amadora, mas foi incrível. A gente colocou ele em uma verdadeira roubada, entrou em num lugar de trabalho com muita pressão."

Mas "Um Lugar ao Sol" não é sobre dois irmãos separados ainda pequenos, nem sobre o reencontro deles. Renato, na verdade, morre logo após conhecer Christian, ao subir o morro para pagar uma dívida do irmão. Esse então decide agarrar a oportunidade de conquista um lugar ao sol assumindo a identidade de Renato.

Para Manzo, Cauã Reymond acaba interpretando três personagens na novela: Renato, Christian e Chistian se passando por Renato. "Eu vi os 30 primeiros capítulos e você vê ali um menino desvalido dentro daquele terno, aquela pose poderosa, mas com o olhar perdido, de menino desvalido. É um terceiro personagem", afirma a autora.

E quem espera um vilão nessa terceira persona pode se decepcionar. Manzo diz que seus gêmeos são diferentes dos de outras novelas, como Ruth e Raquel, de "Mulheres de Areia" (Globo, 1993). Para ela, a história "é sobre uma pessoa obstinada pela vida que não teve. "A ideia não era vilanizar, ele não mata o irmão, ele não conspira", diz.

"Uma coisa que aprendemos cedo é não julgar o personagem que vai fazer. Esses dois irmãos me geram muita reflexão, tinha momentos que me deixavam perplexo e outros em que eu tinha muita compaixão. Eles nos fazem pensar sobre o que você faria para ter uma vida digna, até onde se corromperia", completa Reymond.

BÁRBARA E LARA

Seja vilão ou não, Christian vai mudar a vida de duas pessoas em sua busca por uma vida melhor. Lara (Andréia Horta), sua noiva, será levada a acreditar que ele morreu, ao trocar de lugar com Renato. E Bárbara (Alinne Moraes), namorada de Renato, encontrará nesse novo homem a versão que sempre esperou de seu amado.

"Ela fica despedaçada. Ela é muito corajosa e quer viver aquele amor. E por isso fica despedaçada e leva muito tempo para se recuperar. Ela depois até se dá uma chance, mas mantém essa paixão meio escondida", afirma Andréia Horta, 38, que está no ar atualmente na reprise de "Império" (Globo, 2014-2015).

Em "Um Lugar ao Sol", a atriz dá vida a uma personagem diferente das que costuma interpretar, geralmente muito fortes, como Maria Clara, de "Império", e Rosa, de "Liberdade Liberdade" (2016). Lara é colorida, tem riso solto, é leve, segundo descrição da própria atriz, feita durante conversa com a imprensa.

"Ela é uma mulher muito simples, naturalmente bonita, com roupas simples, todos os detalhes dela me encantavam muito", diz a atriz, que pôde usar seu sotaque mineiro para fazê-la. "Fui trabalhando ela, fui tentando encontrar delicadeza até no sofrimento dela. A Lara vem com um sofrimento de amor, que talvez seja inédito para mim."

Um outro tipo de delicadeza e sofrimento será encontrado em Bárbara, personagem de Alinne Moraes, 38, que volta a se relacionar com irmãos gêmeos em uma trama. Em "Viver a Vida" (Globo, 2010), Luciana, personagem da atriz, se envolve com os irmãos gêmeos Jorge e Miguel, interpretados por Mateus Solano, 40.

"Nunca fiz essa relação entre os dois papéis. Diferente da Luciana, a Bárbara acha realmente que ele continua sendo o Renato, ela não consegue enxergar. A realidade da Bárbara é muito distorcida sobre várias coisas, até mesmo sobre ela, eu acho", afirma a atriz, que classifica sua personagem como ingênua.

Para Moraes, a personagem está longe de ser uma vilã, apesar de algumas atitudes equivocadas. "Ela cria armadilhas para ela mesma cair", brinca a atriz. "Acho que ela precisava da verdade, não apenas da terapia. E quando ela vê que o Renato não é quem ela acha, ela se perde ainda mais. A relação dos dois é muito tóxica."

"Me pego com pena dela em muitas sequências", completa a autora, Lícia Manzo. "Acho ela engraçada. Mas muito carente, sem autoestima, como se não fosse boa para nada. Ela engravida e perde o bebê, então se sente um imenso fracasso."