Televisão

Dalton Vigh elege personagem de 'Duas Caras' um dos melhores: 'De vilão a herói'

Trama de 2007 inspirada em José Dirceu chega ao Globoplay nesta 2ª

Dalton Vigh (Adalberto Rangel / Marconi Ferraço) - Montagem

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

São Paulo

A história de um homem que, após roubar toda a fortuna da mulher com quem se casou, a abandona sem deixar vestígios, e faz uma série de cirurgias plásticas para assumir uma nova identidade: a do empresário de sucesso Marconi Ferraço.

Esse é o enredo de "Duas Caras", novela de Aguinaldo Silva, exibida entre 2007 e 2008 na Globo, e que entra no catálogo do Globoplay a partir desta segunda-feira (30).

Embora seja uma obra de ficção, o autor já revelou que a história de Marconi Ferraço saiu da realidade. Precisamente da vida do ex-ministro José Dirceu (PT-SP).

"Não me interessou o lado político, mas a história de vida dele, um homem que fez uma operação plástica, transformou-se em outra pessoa e viveu durante anos assim, sem que ninguém desconfiasse que ele tinha um passado anterior e essa persona que havia assumido", disse o autor no livro “Autores: Histórias da Teledramaturgia”, do Projeto Memória Globo.

"Dito isso, a novela não tinha mais nada a ver com José Dirceu", prossegue ele no livro, segundo o site Teledramaturgia, de Nilson Xavier. Exilado do Brasil na Ditadura Militar, Dirceu fez uma cirurgia plástica em Cuba e passou quatro anos clandestino em Cruzeiro d'Oeste, no Paraná, com o nome de Carlos Henrique Gouveia de Mello.

Para fazer o personagem, o ator Dalton Vigh, 57, diz ter se baseado no próprio texto. Ele lembra que Ferraço tinha uma história bem complicada desde a infância —e em nada semelhante à do ex-ministro.

Ferraço nasceu como Juvenaldo, e foi vendido pelos pais quando criança ao inescrupuloso Hermógenes (Tarcísio Meira), que o rebatizou como Adalberto e o ensinou todos os tipos de trapaças.

Já adulto, ele dá um golpe no próprio mestre e vê na rica órfã Maria Paula —Marjorie Estiano em sua estreia como protagonista— a vítima perfeita para o seu golpe. Ele se casa com ela, rouba toda a sua fortuna e some do mapa, sem saber que a deixou grávida.

Mesmo com as plásticas, Maria Paula o reconhece anos depois já como Ferraço e coloca em prática o plano de vingança que acalentou durante anos.

Vigh afirma que o papel foi um dos melhores personagens que ele já fez, até porque ele teve um final diferente da previsão inicial. A ideia era que ele morresse, assassinado pela vilã Maria Sílvia (Alinne Moraes). "Mas no meio da trama, começou a surgir uma torcida para o Ferraço ficar com a Maria Paula. E eu falava: gente, mas o cara roubou tudo dela?", relembra, aos risos.

"O legal da novela é exatamente isso, você nunca sabe para onde ela vai. Poder fazer um personagem que tem essa curva dramática, do vilão ao herói, é raro, é difícil encontrar isso na carreira", ressalta.

Outra curiosidade, comenta ele, é que o nome da novela encontra semelhança com um desejo seu. Explica: "Eu sempre quis ser ator por conta de viver outros personagens. O ser famoso não fazia parte dos meus planos. Você se tornar conhecido era uma coisa meio 'mal necessário'".

"Eu sempre falava assim: se eu pudesse ter duas caras, uma para viver, e uma para trabalhar, seria ótimo. Quando me convidaram para fazer a novela que chamava 'Duas Caras', eu falei: caramba."

Hoje, Dalton Vigh diz já estar mais acostumado com esse assédio do público, embora não se sinta confortável ao causar tumulto ou aglomeração —e isso mesmo antes da pandemia. "Essa coisa, quando as pessoas ficam excitadas demais, eu fico com vergonha, na verdade", afirma.

O ator destaca também como aparecer em uma novela em horário nobre ainda causa comoção. "As pessoas reconhecem, é impressionante. Quando 'Fina Estampa' estreou no meio da pandemia, em uma das poucas vezes que eu sai na rua, que fui no caixa eletrônico, as pessoas me reconheceram, e eu estava de máscara", relata sobre a reprise da novela de 2011-2012, em que interpretou o chef René Velmont.

Vigh diz ser um canceriano saudosista, "nostálgico desde criança", e que gosta de rever tramas antigas. Conta ter ficado até agoniado por "Duas Caras" nunca ter sido reprisada em 14 anos.

"Eu falava: não tem Vale a Pena Ver de Novo da novela? É que tem a coisa do horário também, né, ela teria que sofrer muitos cortes para ser exibida na faixa [da tarde], até porque tinha a coisa do pole dance", afirma ele.

A "coisa do pole dance" é um dos grandes frissons da novela e que gerou problemas para a Globo já durante a sua primeira exibição, 14 anos atrás. Alzira, papel de Flávia Alessandra, é uma enfermeira que, à noite, se esconde sob uma máscara e faz sucesso apresentando a "dança do poste" em uma casa noturna.

O seu motivo era nobre. Juntar dinheiro para pagar a cirurgia do marido adoentado, Dorgival (Ângelo Antônio). Mas, para o Ministério da Justiça, o "excesso de cenas sensuais" da personagem motivaram a reclassificação etária da trama como "inadequada para menores de 14 anos" —antes era 12 anos. O fato é que a novela popularizou a prática de pole dance no país.

Outro grande destaque de "Duas Caras" é o carismático Juvenal Antena, personagem de Antonio Fagundes, líder e fundador da favela da Portelinha, e que vive um romance proibido com Alzira

DE VOLTA

Após mais um ano de angústia diante das incertezas provocadas pela Covid-19, Dalton Vigh retornou na sexta-feira (27) ao SBT para os preparativos do retorno das gravações de "Poliana Moça".

"Eu já estava até duvidando se algum dia a gente iria voltar", admite o ator. Por causa da pandemia, todo o elenco de "Aventuras de Poliana" chegou a ser dispensado pela emissora. Na história, ele interpreta Pendleton.

"Agora, vamos ter um ano de gravação de novela pela frente com perspectiva de extensão", antecipa. Com o fim da primeira temporada da novela, o SBT está há mais de um ano sem produções de teledramaturgia nacionais inéditas no ar.

"Estava com saudade disso, de encontrar as pessoas, dar risada", diz o ator sobre a retomada das gravações. Durante o isolamento, Vigh fez alguns trabalhos como a peça online "O Urso", do autor russo Tchekhov, em parceria com o Grupo TAPA.

"A gente fez no teatro, mas sem plateia. É meio estranho, mas acho que como resultado ficou bom. É bem provável que eu possa fazer outro texto com eles [Grupo Tapa]", diz.

Também em julho, Vigh gravou uma participação em uma série da Disney+, que ele diz não poder entrar em detalhes. Já vacinado, o ator afirma estar preocupado com uma piora da pandemia por causa da variante delta e da flexibilização do confinamento.

"Muita gente não tem consciência que não dá para aglomerar. Como eu já tenho uma certa idade, eu não sinto falta de ir para boteco, para restaurante ou esse tipo de coisa. Acho que se eu fosse solteiro, estivesse morando sozinho, talvez, fosse muito mais difícil conviver com solidão, distanciamento. Mas com duas crianças de cinco anos e um cachorro, você tem sempre o que fazer dentro de casa", conclui aos risos ele que é pai dos gêmeos Arthur e David, frutos do seu casamento com a atriz Camila Czerkes.