Fora da Globo, Monica Iozzi prepara programa sobre política e lança filmes e séries
Atriz fala sobre ataques a Felipe Neto e indica produções para ver na quarentena
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Monica Iozzi, 38, está há cinco meses de quarentena. Não tem sido fácil, diz a atriz e apresentadora. "Mas estou tentando me manter razoavelmente calma, ativa, estudando, fazendo as minhas coisas, pensando nos projetos", afirma.
E são muitos os planos. Como atriz, ela conta que deve fazer duas séries: uma para uma plataforma de streaming, e outra para um canal da TV paga (em ambos, ainda não pode dar detalhes dos projetos). Também vai participar de uma produção na RTP, emissora portuguesa.
Além disso, pouco antes do início da pandemia, terminou de gravar o filme "Turma da Mônica - Lições", em que interpreta Dona Luísa, mãe de Monica. Espera ainda que os cinemas reabram para lançar o longa "Mar de Dentro", drama em que interpreta Malu, uma mulher que vive os dilemas de uma gravidez não desejada. "É um filme que foi muito importante para mim, uma transição muito importante no meu trabalho de atriz."
Iozzi também se prepara para voltar a apresentar –função que ela exerceu com grande sucesso ao lado de Otaviano Costa no extinto Video Show, da Globo, entre 2015 e 2016. A proposta agora é bem diferente. Em vez de falar de novelas e dos bastidores da TV, ela vai abordar um assunto que costuma gerar polêmica: política.
A proposta da atração, que ainda não tem nome e está programada para estrear em 2021 no Canal Brasil, é desmitificar o assunto e abordá-lo de forma didática, mas sem ser chato. "É a minha vontade de falar sobre política para qualquer pessoa, de qualquer idade, e de forma muito dinâmica", relata ela, fazendo questão de ressaltar que o objetivo é ser imparcial.
Monica Iozzi falou sobre esse e outros assuntos, como sua saída da Globo, os ataques que o youtuber Felipe Neto vêm sofrendo e o seu otimismo sobre o futuro da internet, em quase uma hora de conversa por telefone com o F5. Antes de terminar a entrevista, deixou o recado: "Se puder, fique em casa."
Leia a seguir os principais trechos:
SAÍDA DA GLOBO
Iozzi atuou na emissora de 2014 ao início deste ano. Começou como comentarista do Big Brother Brasil 14. Em 2015, ela integrou o elenco da novela "Alto Astral". Na sequência, estourou como apresentadora do Video Show. Fez ainda a série "Vade Retro" (2017), ao lado de Tony Ramos. Seu último trabalho na Globo foi como Kim, empresária de influenciadores digitais em "A Dona do Pedaço" (2019).
Ao contrário de outros artistas que estão sendo dispensados pela emissora, partiu dela a decisão de deixar a empresa em busca de oportunidades mais plurais, segundo afirma. "Quando você está com um contrato longo, claro que tem um lado maravilhoso, de estar numa empresa legal, em que as pessoas te respeitam. Mas você também perde a oportunidade de explorar outros lugares. Comecei a sentir um pouco falta disso de, de repente, conseguir dar uma olhada em projetos de cinema, por exemplo, que contratada seria mais difícil de fazer", explica.
A atriz e apresentadora, que se lançou na TV em 2009 após vencer um concurso e se tornar repórter do extinto CQC (2008-2016), na Band, conta que sempre teve muita liberdade na Globo, mas que a incomodava o fato de negar muitas propostas de trabalho dentro da emissora. "Chega um momento que você ficar negando muitos projetos que a empresa que você trabalha te oferece não é legal nem para você nem para a empresa", diz.
E, segundo ela mesma frisa, nada a impede de voltar a atuar na emissora em propostas pontuais.
PROGRAMA SOBRE POLÍTICA
Assim que soube que Iozzi estava de saída da Globo, o Canal Brasil a procurou com uma proposta bem convidativa. "Foi muito legal, porque eles falaram: 'A gente quer você, e você pode fazer o que você quiser'", relembra. Desta forma, ela decidiu que era hora de colocar em prática um desejo antigo seu, um programa sobre política.
A atração, que ainda não tem nome, vai estrear em 2021 e terá 13 episódios semanais, de meia hora cada. A ideia, revela a atriz, é desmistificar a política, entrevistando especialistas, conversando com as pessoas nas ruas, e com conceitos explicados por meio de animações.
Segundo ela, os roteiros do projeto estão bem adiantados, mas as gravações ainda não começaram por causa da pandemia do novo coronavírus. Fã de ciências e física, mas completamente leiga nos temas, Monica Iozzi conta que se inspirou em atrações que abordam esses assuntos de forma didática.
"Eu vi um desses programas que era o cara explicando o que é física quântica, e o conceito básico, eu super peguei. A gente não quer transformar ninguém em especialista, mas a gente quer que as pessoas tenham uma relação mais próxima com a política."
Cada episódio terá um tema central. Um deles, por exemplo, vai falar sobre as relações entre política e religião; outro sobre as influências da tecnologia na política, e a importância da internet e das redes sociais nos processos eleitorais. A atração vai explicar também o que são os partidos políticos, o porquê eles são necessários, e como eles funcionam no Brasil e em outros lugares do mundo.
"A gente quer desvendar um pouco as engrenagens da política. Tentar falar para as pessoas que a política engloba todos os aspectos da nossa vida. Ela não é só lá o parlamentar fazendo leis, não é só campanha eleitoral. Política também está no nosso dia a dia. Há episódios em que vamos falar da política nossa, do cidadão comum", afirma.
Um dos objetivos, aponta Iozzi, é elucidar essa visão que existe no Brasil que política é um assunto chato ou que os políticos são todos bandidos. "A ideia é que seja totalmente imparcial, é para qualquer pessoa que tenha qualquer visão política para entender um pouco mais como funciona. Vamos ouvir gente de todos os lados: intelectual de esquerda, de direita, economistas liberais e não liberais", diz. "Estou bem empolgada", conclui.
ESPERANÇA SOBRE O FUTURO
Crítica ao governo de Jair Bolsonaro (sem partido), Monica Iozzi afirma ter esperanças sobre o futuro do país. "Eu acho que a gente está num ponto tão difícil que a tendência é melhorar, né, porque realmente se piorar, se o caos que a gente está vivendo piorar, eu não sei o que será de nós."
A atriz diz que já vê entre os mais jovens um interesse e um envolvimento maior no tema. "O segredo é a gente focar nessa ideia de transformar cada jovem em um ser político, pensante mesmo, que se interesse por política", pontua.
Na visão dela, não há outra saída, porque o sistema não vai mudar. "Enquanto todo o mundo não estiver mais de olho, não vai mudar. A gente sempre vai ser governado por alguém e não tem também como garantir que essas pessoas [eleitas] não serão corruptíveis em algum nível. Então, você tem, sim, que pesquisar para saber quais são as melhores propostas [dos candidatos]. Não dá para ficar votando de orelhada."
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
Iozzi acaba de lançar "Sofia", uma áudio série do Spotify, que aborda as influências do mundo virtual na vida real. Na trama, ela interpreta Helena, uma mulher que está passando por um momento delicado, com um divórcio complicado e muitas frustrações no trabalho. Ela consegue um emprego na empresa dona da Sofia, que é um serviço de inteligência artificial semelhante às assistentes virtuais Siri (da Apple), e Alexa (da Amazon).
Mas, quando ela começa a trabalhar no local, descobre que a Sofia na verdade não é um programa de computador. São centenas de pessoas que sabem tudo sobre a vida dos usuários do sistema. "E aí ela [Helena] começa a se intrometer na vida das pessoas que atende, e isso começa a afetar a vida dela também", conta a atriz.
Embora seja uma história ficcional, para Iozzi, a série dialoga com o momento atual, em que a internet e as redes sociais são como uma extensão de cada um. "A gente tem que ser muito responsável com o que a gente posta, sim. Às vezes, dependendo do que você posta, da informação que você passa, você pode ser uma influência muito positiva na vida de alguém. Mas também pode ser uma presença muito negativa. Você pode destruir a vida de alguém", diz.
HATERS E FELIPE NETO
Quando começou a ter um público maior, lá em 2009 ao ingressar no CQC, Iozzi afirma que ficou um pouco assustada com as reações de amor e ódio que recebia nas redes sociais. Logo, porém, ela conta que percebeu que não fazia sentido se preocupar ou reverberar os chamados haters.
"São coisas às vezes tão descabidas que é muito nítido que a pessoa, talvez, tenha muito mais problemas com ela mesma, com a vida dela. E, às vezes não é uma coisa também tão pessoal. Tem gente que entra na internet, muitas vezes com perfis falsos, para atacar geral, não é só você ."
Com isso, Iozzi afirma que consegue lidar bem. Outra coisa, diz ela, são os ataques que vêm sendo feitos contra o youtuber e influenciador Felipe Neto, ou contra a Natura pelo fato de a empresa contratar Thammy Miranda para a sua campanha do Dia dos Pais. "Aí a gente está falando de uma engrenagem, quase mesmo como uma quadrilha, porque tem dinheiro envolvido nisso. Não é uma expressão espontânea, há robôs, uma ação organizada."
Para a atriz e apresentadora, o que está acontecendo com o youtuber é muito grave, "é um crime" que precisa ter o envolvimento da polícia e do judiciário para a responsabilização dos seus autores. "O que estão fazendo com Felipe [Neto] é criar uma série de factoides que envolvem ele em crimes, e crimes gravíssimos. Estamos falando de um grupo de pessoas que se organizou para criar fatos que criminalizam uma outra pessoa que é completamente inocente", afirma –fake news associam o youtuber à pedofilia.
OTIMISMO SOBRE O FUTURO DA INTERNET
Apesar da situação delicada, Monica Iozzi diz observar um movimento interessante da sociedade civil e de algumas instituições cobrando ações mais efetivas para responsabilizar e exigir dessas redes (Facebook, Twitter e Instagram) que atuem para evitar ações como a que atingem Felipe Neto.
"As plataformas são riquíssimas, ganham muito dinheiro. Não tem desculpa para não fazer uma fiscalização muito grande em cima de crimes, desde conteúdo pornográfico, perfis falsos, fake news, até discursos de ódio. Elas têm dinheiro, elas têm mecanismos para fazer isso, então, elas precisam ser responsabilizadas", salienta.
Para Iozzi, é importante lembrar que a internet é muito recente como parte da vida das pessoas. Ela afirma ver o meio ainda como uma grande promessa de ser um espaço para a discussão de ideias e democratização da informação, educação e cultura. "A gente está desperdiçando tudo o que a internet poderia oferecer de bom, e estamos a usando para criar muita coisa ruim. Mas eu sou esperançosa, porque, como eu disse, é muito recente. Então, a gente está descobrindo ferramentas para fazer isso."
Como exemplo, a atriz cita as fake news, que são um fenômeno muito recente, mas que se mostrou muito poderoso a ponto de influenciar as eleições em países como os Estados Unidos e o Brasil. "Isso veio com uma força muito grande e é muito perigoso. Mas medidas estão sendo tomadas. E a gente tem que cobrar cada vez mais."
Outro fator que precisa ser refletido pelas empresas e pelos usuários das redes, na opinião de Iozzi, são os algoritmos e como eles estão influenciando o que as pessoas leem, como elas se informam e até o que consomem. "Nesse momento que a gente vive essa polarização, os algoritmos, na verdade, alimentam cada vez mais a polarização. Quem é a favor do governo só começa a ler coisas do governo, e quem é contra, só lê coisas contra. E nesse meio ainda tem as fake news. Os algoritmos são muito ruins para disseminação de uma informação mais eclética."
MOVIMENTOS ANTIRRACISTAS
Monica Iozzi diz observar que toda vez que acontece algo muito ruim sempre há uma resposta, mesmo que esta demore um pouco. Como exemplo, ela cita a onda de protestos e os movimentos antirracistas que surgiram após a morte de George Floyd, nos EUA. "Essas ocupações [por personalidades negras] nas redes de artistas e influenciadores são um ótimo sinal e tem que continuar. É uma ação que deve ser perpetuada", diz.
Com 4 milhões de seguidores no Instagram (a atriz não está mais no Twitter nem no Facebook), Iozzi passou a dividir a sua página na rede social com o influenciador AD Junior para aprofundar a discussão sobre o racismo. A parceria começou no início de junho e, segundo ela, tem sido muito positiva.
"A gente precisa fazer o dinheiro rodar entre todos. Não adianta também a gente pensar: 'Aí que legal, vamos mostrar o discurso'. Sim, isso é importantíssimo, mas a gente precisa inserir as pessoas não brancas no mercado, o dinheiro precisa girar ali também. Você divulgar o trabalho dessas pessoas é na esperança disso", afirma.
INDICAÇÕES DE FILMES E SÉRIES
Isolada com o namorado, o administrador Gabriel Moura, Monica Iozzi afirma que a arte está salvando a quarentena dela. Praticamente diariamente, ela e Moura curtem uma sessão de cinema, em casa. "Com a chegada dessas plataformas todas, filmes que seriam muito difíceis a gente ter acesso, estão disponíveis", comenta.
A pedido do F5, a atriz indicou algumas produções que viu durante o período, como a série "After Life", disponível na Netflix, que acompanha Tony, vivido pelo comediante Ricky Gervais, logo após ele perder a mulher para um câncer. "Ai você pensa: 'Nossa, que trágico'. Mas não. É sensacional, humor inglês que eu amo. É lindo, todo o mundo tinha que ver. Você chora, dá risada, você se surpreende", diz.
De filme, ela recomenda o brasileiro "Partida", dirigido por Caco Ciocler, e que mostra um grupo de brasileiros que pega um ônibus rumo ao Uruguai para conhecer o ex-presidente Pepe Mujica. Outra dica dela é o longa "A Vizinhança do Tigre" (2014), do mineiro Affonso Uchoa. Já sobre curtas, ela cita "Recife Frio", do cineasta Kleber Mendonça. "É uma das coisas mais geniais que eu vi na minha vida", afirma.
As pessoas estão valorizando mais a arte? Iozzi diz acreditar que sim. Seu parâmetro é ver a mobilização de pessoas que não são do meio artístico defendendo iniciativas culturais como a aprovação da lei Aldir Blanc, que apoia financeiramente trabalhadores do setor afetados pela crise.
"Imagina se estivesse em casa e não tivesse um filme, uma série, uma novela para ver? Imagina se não tivesse um livro bom para ler? Acho que teve muita gente que brigou ao lado da gente com isso e continuou brigando, porque ficou ainda mais gritante [na pandemia] a importância da arte", conclui.