Sérgio Malheiros fala sobre casal inter-racial em 'Verão 90': 'Tema é importante e ainda atual'
'Muitas pessoas não entendem que há consequências para esses ataques'
Ator de cidade grande, Sérgio Malheiros, 25, encarna um alter ego para viver um advogado surfista na nova novela da faixa da 19h da Globo, “Verão 90”. Agora como Diego, que entrou na trama nesta semana, ele levanta questões sobre os direitos dos negros em 1990, luta que também leva para sua vida pessoal.
"Sei que a fama me blindou bastante de ataques racistas durante a minha vida, mas acho que o principal desafio é aquele racismo estrutural, dos olhares, da falta de representatividade e daquelas situações em que a pessoa não vê como uma ofensa e sim só uma opinião", diz o ator, que iniciou a carreira no programa Gente Inocente (Globo, 2000).
Malheiros já revelou que alguns casos de preconceito costumam acontecer quando está com a atriz e cantora Sophia Abrahão, 27, com quem namora desde 2015. Ele os considera um casal inter-racial famoso, e diz que as pessoas olham torto e "sem esconder" para os dois.
Entre trabalhos da televisão e cinema, e o sonho de se tornar efetivamente um diretor, Sérgio ainda reserva tempo para dividir um mundo apenas com a namorada, com quem ainda deseja oficializar a relação em cerimônia simples, mas ainda sem data.
Confira alguns trechos da entrevista com Sérgio Malheiros:
F5 - Como se preparou para interpretar Diego em “Verão 90”?
Sérgio Malheiros - Foi bem intensa. Tanto ao puxar o histórico brasileiro social da época quanto à parte física. Eu já tinha surfado há algum tempo, mas nada com tanta regularidade e mais por diversão, porém nos últimos meses tive que pegar firme, principalmente porque o personagem é um surfista de ondas gigantes.
Eu me encontrei com o surfista Carlos Burle em uma ação que fizemos no Rio de Janeiro, e ele me deu vários toques a respeito da modalidade. Já para a personalidade de Diego foquei mais em documentários, livros e filmes da época, buscando encontrar as referências que os jovens tinham nos anos 1990.
Em relação ao discurso dele, é algo que se assemelha muito ao meu, e essa proximidade trouxe uma familiaridade maior, o que facilitou um pouco. Diego é um cara que fica indignado com as situações que ele e a família passam por causa de sua cor e vai atrás para mudar isso. Ele quer mudar o ambiente que vive da forma como puder, e enxerga no direito o caminho para isso.
Nos anos 1990, você era criança. Há algo de que se recorda e sente falta, especificamente dessa época?
Eu sinto um pouco de falta do ambiente onde cresci, de brincar bastante e ter essa leveza que a criança tem, mas é uma nostalgia boa. A família do meu personagem é muito simples, então foi algo que pude relacionar nas gravações. Lembro bastante das roupas da época e me diverti relembrando de tudo isso.
Muita gente se lembra com saudosismo da década de 1990. Aquela época era melhor ou pior que hoje?
Acredito que toda a época tem algo de inesquecível, mas em 1990 a opressão era muito mais forte. Ainda somos oprimidos, claro, mas hoje temos um poder de fala maior por conta da tecnologia, das redes sociais, e conseguimos alcançar mais pessoas, dar voz a questões importantes. O espaço do negro era quase inexistente e por mais que hoje ainda não vivamos no cenário ideal de igualdade, é melhor do que antes. Mas há vários aspectos dos anos 1990 que eu tenho saudade: a música, as brincadeiras na rua, as novelas e os desenhos.
Qual a relação de Diego com a personagem de Marina Moschen, com quem vive um romance.
Eu não quero dar muito spoiler, mas vai ser uma relação interessante. Diego é um cara muito correto e do bem. Ele está sempre pensando no próximo e na família. É um universo diferente que Larissa [Marina Moschen] conhece como companheiro. Os dois vão enfrentar também muito preconceito, por ela ser branca e ele negro, será um tema muito importante que vamos levantar, porque ele ainda é atual. Tudo leva o tempo certo para acontecer e, se for para ser, será.
Como está o clima de gravações? Com quem você mais se deu bem?
Todo mundo está em uma vibe muito boa, mas tenho contracenado mais com Marina, Ícaro Silva, Caio Paduan e Kayky Brito. Teve uma galera que foi fazer aulas de surfe e acabamos ficando bem próximos também.
Qual o principal desafio que enfrentamos com o racismo?
É uma questão complicada, porque sei que a fama me blindou bastante de ataques racistas durante a minha vida, mas acho que o principal desafio é aquele racismo estrutural, dos olhares, da falta de representatividade e daquelas situações em que a pessoa não vê como uma ofensa e sim só uma opinião.
Muitas pessoas ainda não entendem que há consequências para esses ataques, mas estamos mostrando aos poucos isso a elas. A forma como lidamos é estar ali, não se intimidar nem recuar quando essas situações acontecem.
Sophia disse que vocês têm interesse em se casar, apesar de o assunto ficar em segundo plano por conta dos vários trabalhos. É uma vontade sua neste momento?
Nós falamos a respeito, mas estamos vivendo um momento de cada vez. Já moramos juntos e estamos curtindo isso agora. Quando oficializarmos, será algo simples, para amigos e família. Não somos muito tradicionais nesse ponto.
Você e Sophia trocam dicas de atuação?
A gente se ajuda e apoia bastante, sim. Às vezes, nós batemos o texto quando sinto que preciso de um olhar diferente para aquela cena, mas Sophia está bem focada num caminho diferente agora. [No dia 11 de janeiro, Sophia apresentou pela última vez o Vídeo Show, que deixou de ser exibido na Globo depois de 35 anos.]
Tem vontade de fazer papéis mais diferentes do que já fez?
Com certeza. Ainda quero fazer papéis que me desafiem como profissional, que me tirem da zona de conforto. Tive isso recentemente com o Willbert, da série “Impuros” (Fox, 2018). Foi uma transformação de personalidade bem extrema à minha e gostei muito dessa oportunidade. Gosto de personagens desconstruídos e que tenham uma história e tema importantes para contar. Como artista, quero levar para a casa e vida das pessoas uma mensagem todos os dias, temos uma responsabilidade em cima disso.
Você ainda tem o desejo de virar diretor e ficar por trás das câmeras?
Não acho que largaria a atuação, porque é uma das vertentes que amo e que me complementam como profissional, mas ainda tenho alguns planos em paralelo na carreira como diretor. Tenho muito a aprender ainda e estou caminhando para isso. Continua sendo um grande desejo expandir os trabalhos da Malheiros Filmes.
Quais são os seus planos para 2019?
Por enquanto estou bastante focado na novela, que hoje é a minha prioridade. Nas telonas, no final de fevereiro estreia o longa “Cinderela Pop”, que é super divertido, e “Cine Holiudi 2”, no segundo semestre.