Pupila de Ludmilla, Marvvila quer ser referência no pagode feminino
Ex-The Voice, carioca se destaca em ritmo majoritariamente masculino
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Aos nove anos de idade, enquanto corria pelos corredores de uma igreja localizada em Bento Ribeiro, no subúrbio carioca, a cantora Marvvila, hoje com 21 anos, nem imaginava que seu destino não seria no gospel, mas no pagode.
“Aos 13 anos, as meninas da escola levavam cavaquinho e percussão e eu começava a cantar na aula Péricles, Sorriso Maroto e Alexandre Pires. Fui estendendo esse amor e me apaixonei”, relembra a jovem que nasceu em uma família cristã.
Hoje, 12 anos depois, a artista, cujo nome verdadeiro é Kassia Freire Marvila, tem como meta ser aceita em um ritmo majoritariamente masculino e, assim, auxiliar outras como ela a se aventurarem no universo do pagode.
“No começo era motivo de medo, já que no pagode sempre vemos muitos homens cantando. Medo da galera não me aceitar nem de ser aprovada. Só cantava em casa até eu ir para a rua e perceber que as pessoas sentiam falta de ter uma mulher no ritmo.”
Mas foi ao entrar no programa The Voice (Globo), em 2016, na época com 16 anos, que tudo começou a mudar. Aquela era a sua maior oportunidade de mostrar talento e fazer com que uma chavinha mudasse em sua mente.
“Tinha o sonho de viver da música, mas sempre enxergava como algo distante. Eu precisava acreditar mais em mim. Vi a parada tomar mais forma. Até hoje muita gente me reconhece na rua e diz que torceram por mim. O programa me deu respeito na rua”, revela.
Quero ser referência e ser respeitada. Saber que através do meu som inspiro outras mulheres que não têm a coragem que eu tive
A partir do reality musical da Globo muitas outras mudanças vieram para a vida de Marvvila. Após viralizar com vídeos caseiros, a cantora Ludmilla, 25, a convidou para sua casa para cantarem juntas. Era a realização de mais um sonho.
“Eu então fingi costume para não assustar. Fui à casa dela pela primeira vez, criamos afinidade e quando vi estava lá sempre. Um dia ela disse que tinha a ideia de gravar um disco de pagode e me chamou. A Lud me deu um empurrão e tive portas mais abertas”, afirma.
O disco em questão é o “Numanice - Ao Vivo”, lançado este ano por Ludmilla nas plataformas digitais pela Warner Music e no qual a artista deixa o funk de lado e envereda para o pagode. As duas chegaram a gravar juntas a música “Não é por Maldade”, mas no DVD, por estratégia da gravadora, a canção ganhou a voz de Bruno Cardoso.
“O nome forte dela no pagode ajudou a mim e a outras mulheres. A Ludmilla enveredar para o pagode foi importante para fortalecer um pouco mais a cena. Abraçar a causa como mulher ajuda todas as outras”, opina Marvvila que diz ter como referência também Marília Mendonça, 25, e Alcione, 73, por seu empoderamento.
Apesar do pouco tempo de carreira, Marvvila já colhe os frutos de seu bom trabalho, tanto nas rádios quanto nas mídias digitais. Seus números são expressivos como mostram levantamentos solicitados pelo F5 ao Spotify e à Deezer.
No Spotify, a carioca tem 297.403 ouvintes mensais e mais de 4.000 seguidores na plataforma. As cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre (RS) são as que concentram a maior parte de seus fãs. A canção com mais plays é “A Cada Beijo”, seguida de “Dona de Mim”.
Já na Deezer ela possui mais de 5.600 seguidores e já é bastante ouvida por usuários de países como Estados Unidos, Irlanda, França e Portugal. A faixa etária que mais aprecia seu som fica entre 26 e 35 anos seguida pela faixa entre 18 e 35 anos.
No YouTube, as músicas “Dizendo por Dizer” e “A Cada Beijo”, esta última seu mais recente lançamento, têm 2,3 milhões e 1,9 milhões de visitas, respectivamente.
Marvvila, no entanto, ainda espera ter um caminho longo a seguir: “Minha vida foi toda baseada no processo de perda de medos. Estou ainda me descobrindo”, afirma.
MULHERES NO PAGODE
A entrada de Ludmilla no pagode abre portas para que mais mulheres possam seguir o mesmo caminho, segundo o produtor musical Otávio de Moraes. Segundo ele, um caminho louvável e muito interessante seguido pela funkeira.
“É sobre motivação e ampliação de horizontes. Essa coisa do artista que dá uma pausa na carreira e muda o foco, faz um álbum diferente da sua proposta original, eu acho legítimo e até fundamental, pois você precisa beber de outras fontes”, opina.
“Mulher cantando esse tipo de repertório que era quase exclusivo dos homens é ótimo. Que venham outras”, completa ele, que afirma ser difícil definir um motivo para a ausência da mulher nesse tipo de ritmo. Mas, talvez, possa ser ratificado por um retrospecto de poucas oportunidades como um todo.
“Há poucas mulheres em vários estilos e até no próprio sertanejo. Os homens sempre tiveram mais protagonismo com duplas. Antes da Maiara e Maraisa tinham poucas com essa representatividade. E no pagode nem se fala. Não me lembro de outras”, reflete.
“Não sei se esse fato está ligado ao machismo ou a algo social. Talvez seja pelo teor das letras. Mas creio que as mulheres têm de ter esse espaço”, completa.
Na opinião do especialista, Marvvila tem uma voz potente e é realmente talentosa. “Traz um frescor ao gênero, nova abordagem e jeito de cantar”, diz. Segundo ele, quanto mais mulheres se interessarem pelo ritmo, melhor para a música.
“Vejo uma grade possibilidade de ascensão do pagode. É um gênero que é muito popular, as pessoas gostam mesmo. E essa movimentação da Ludmilla e de outras mulheres reforça isso. Tem espaço, é importante e fundamental essa participação maior.”
Para Marvvila, é só o começo de uma batalha de mudança e aceitação. “Quero poder ser inspiração e motivo de encorajamento para outras que temem não ser aceitas. Recebo mensagens de outras meninas que se encorajaram.”