Jolene é a mulher que adoraria poder dizer: 'Não quero seu marido feio'
Clássico de Dolly Parton foi regravado por Beyoncé em versão nada gentil com a moça do título
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Jolene, Jolene, Jolene, eu estou te implorando, não tomes o meu homem. Jolene, Jolene, Jolene, por favor, não o tomes, só porque você pode. Uma das músicas mais conhecidas e bonitas do mundo começa assim. Foi composta pela cantora de country Dolly Parton e se tornou um ícone cultural da dor de corno, sendo regravada por vários artistas. Mais recentemente, Beyoncé fez uma versão para seu álbum Cowboy Carter.
Bem mais combativo, o eu lírico de queen Bey lembra um pouco Zilu Camargo nos anos 90 —na época, a mãe de Wanessa Camargo marcava firme o entorno do então esposo Zezé. A canção perdeu a vulnerabilidade intrínseca à original, lançada em 1973 e que até hoje nos faz pensar em várias narrativas, da bissexualidade à mais pura paranoia.
Na sua obra prima, Dolly Parton dedica versos a falar sobre como Jolene é linda, com seus olhos cor de esmeralda e cabelos ruivos. Suplica para que a bonita não fique com seu marido. É a dor de uma pessoa que está prestes a perder a pessoa que ama e se dispõe a se humilhar diante da outra. Em uma sociedade que valoriza o discurso do autoempoderamento, o eu lírico da Jolene original é uma joia da fragilidade.
Naquele momento, ele pouco se importa com a superação, o autocuidado, autoestima ou essas coisas que o Instagram tenta vender. É o mais puro e cristalino sofrimento, é uma pena que não poderemos ver uma versão brasileira por Adriana Calcanhotto e Marília Mendonça juntas.
Porém, uma das belezas da música, da poesia e da arte de forma geral é deixar um espaço para a imaginação. Creio que muita gente deve imaginar a Jolene bem flertativa, tendo um caso com o marido alheio. Mas sempre que ouvi essa música só consegui imaginar a bela Jolene chegando na academia de ginástica e sendo simpática com todos.
E, por causa de um singelo sorriso trocado com um feioso na fila para usar o supino, ela virou alvo do ciúme de sua esposa, que nesse momento estava sentada na cadeira adutora, fechando as pernas com ÓDIO.
Penso isso porque essa exata situação aconteceu comigo quando eu tinha uns 18 anos, com a diferença de que eu sequer era simpática ou sorridente. Minha antipatia não impediu o marido de olhar para mim, e a esposa, de ficar com ciúme. Ainda que ela não tenha implorado para que eu não ficasse com o marido feio dela, ouvi, sim, quando ela o levou para um canto e lhe deu uma bronca.
Depois de uns dias, eles sumiram daquela academia. Projetei minha existência na bela canção de Dolly Parton e nos meus devaneios a Jolene olha para a esposa e diz: "Fica tranquila, ninguém quer beijar seu marido feio".
Outros enredos são possíveis. Vai que o eu lírico da canção e seu homem são um casal entediado que decidiu ser moderno, foi para uma festinha, trocou uns beijos com Jolene e o resultado foi uma mulher obcecada que não sabe se quer Jolene de marmita ou se está com medo que o casamento termine?
E se a moça que canta está perdidamente apaixonada pela outra e fez uma canção para reafirmar que quer manter seu casamento heteronormativo em vez de se entregar ao desejo por uma bela ruiva, sendo Jolene uma música queer disfarçada de hétero?
É divertido elaborar as histórias por trás da canção, mas sua compositora já contou qual foi a inspiração e é um fato bastante comezinho. O marido de Dolly Parton (com quem ela é casada desde 1966!) andava passando muito tempo na agência bancária de papo com uma funcionária. Ela ficou com ciúme, falou para ele parar de gracinhas, e usou a situação singela para criar um clássico.
Existe uma lenda de que ela teria composto Jolene e "I Will Always Love You" no mesmo dia, mas a cantora já desmentiu isso e disse que uma foi feita dias depois da outra.
Enquanto isso, a versão de Beyoncé não deixa muita dúvida. Ela avisa a uma Jolene que cerca seu marido que é para ela nem se engraçar para cima dele. O eu lírico deixa claro que quer defender seu casamento e sua família, que assim como Jolene tem várias outras gatas desesperadas atrás de seu mozão, mas ela conhece esses joguinhos e não está para brincadeira.
Nem tudo que um artista faz é autobiográfico, ainda mais uma artista como Beyoncé, que trabalha com vários compositores. Mas ela pode, sim, quem sabe, estar falando das moças que cercam o rapper Jay-Z, com quem é casada há 16 anos. O que não falta é fofoca de que ele traiu Bey várias vezes —e a diva pop insinuou isso em seu álbum Lemonade.
Diante disso tudo, a polêmica rapper Azealia Banks deu uma de suas opiniões ácidas depois de ouvir a nova Jolene: "Quem é essa adversária imaginária que ela acha que quer se envolver com Jay-Z em 2024? Ela precisa mudar de assunto. Ninguém, absolutamente NINGUÉM, acha ele atraente."
Aguardo ansiosa para que Jolene responda aos pedidos de entrevista e esclareça logo se ela é comedora de casados ou apenas uma moça que queria viver em paz sem se envolver em dramas de casal.