Tá na hora de parar de bancar o fodão e assumir que o sexo não foi legal
Sexo ruim é muito praticado e pouco cantado, diz Daniel Furlan, do Choque de Cultura
Já é assinante? Faça seu login
Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:
Oferta Exclusiva
6 meses por R$ 1,90/mês
SOMENTE ESSA SEMANA
ASSINE A FOLHACancele quando quiser
Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.
Eu ri muito na época que os Avassaladores lançaram a música "Sou foda, na cama te esculacho, na sala ou no quarto, no beco ou no carro".
Não duvido da promessa dos meninos e a música é divertida. Mas é mais um caso de homens exaltando suas habilidades sexuais que geralmente são nulas. Eis que conheci a música "Sexo Ruim", no disco "Tropical Nada", projeto musical de Daniel Furlan –bastante lembrado por ser o péssimo pai e aparentemente péssimo motorista de van Renan, do Choque de Cultura. Será que ele está avisando na canção que também é péssimo na cama?
Calma, não é bem assim. A letra narra uma noite cuja transa casual de primeira não foi legal "Uau que sexo ruim, uau, pouca coisa é boa". Fala do estranhamento de acordar na casa de um desconhecido, escovar os dentes ou pelo menos fazer um bochecho com a pasta, cuspir naquela pia que nunca viu, acordar num quarto estranho. "É quando a realidade bate, você percebe que não se encontrou no corpo da outra pessoa assim como não se encontra naquele banheiro".
O trecho "eu te engoli e você nem sabia" me remete diretamente para aquele sexo oral em que o cara está no lugar tão errado que você nem sabe o que está rolando. Ele não tinha pensado nisso, mas admite que é uma interpretação possível. Porém, o que está por trás do sexo ruim? "A primeira vez tem a magia legal de você fazer uma coisa que nunca fez antes e que nunca vai sentir de novo, mas a intimidade também é massa porque melhora muito o sexo. Só que esse começo também pode dar muito errado".
Minha experiência como mulher? Sexo ruim, de primeira, é infelizmente bem comum. Muitas vezes é ótimo, só que frequentemente segue um protocolo assim: ele chupa seu peito direito e então o esquerdo e aí apressadamente faz o que ele pensa que é sexo oral, mas é só umas lambidas na sua uretra –às vezes ele pula essa parte e empurra sua cabeça para chupar o pau dele, então faz um grande drama para colocar a camisinha e se segue o refrão da maravilhosa Dama do Pagode, "ele soca fofo, enforca errado, ele geme fino, ele bate fraco".
E a sequência é: ou eles te dão um ghosting ou querem te encontrar de novo achando que abalaram. Nem sei o que é pior. "Vai ver ele quer se redimir, eu me motivo a transar de novo quando acho que mandei mal", diz Daniel. Eu garanto que raramente é o caso, acredito que os caras acharam o sexo bom, afinal eles gozaram, muitas vezes rápido. Ele esclarece que a letra não é sobre a performance do outro, mas sobre o próprio desempenho quando não rola química.
A Dama do Pagode e o Daniel Furlan fazem estilos diferentes. Ela, paredão baiano, ele, rock. Mas ambos têm coragem de expor uma realidade triste. "O sexo ruim é muito praticado, mas muito pouco cantado". Por favor, falemos e cantemos mais sobre isso! Não adianta você comer várias minas e não achar o grelo de nenhuma delas ou sequer procurar.
No disco, senti também uma exaltação do charme da mulher blasé. "A indiferença é charmosa, irresistível, alguém que não se interessa é descomunal; é uma coisa de não querer entrar num clube que me aceite como sócio". Acho triste demais músicas de mulheres se arrastando por um cara que não dá bola, mas amo homens cantando sobre isso (reparação histórica) –Alex Turner, no disco "AM", do Artic Monkeys, faz isso o tempo todo. É que o mais comum é homens* serem acostumados a receber atenção e performar indiferença.
Mas fica meu conselho para o Daniel, para o Alex, para a Duda Beat e Marina Sena, mulheres que falam muito de quem não corresponde. SAI DESSA GALERA! O eu lírico é livre e deve poetizar sobre tudo, refletir a sociedade. Só que na vida real gostar de quem gosta de você é gostoso D+. Falo por experiência própria, depois de anos fingindo que não me importo resolvi deixar claro que me importo mesmo e cansei de homens que querem ser cortejados e fazer joguinhos mesmo que estejam super a fim.
Tem sido muito bom, recomendo. Economiza tempo, faz bem pra pele, faz bem pro coração e principalmente faz bem pro cérebro, que não fica obcecando "será que estou sendo emocionada demais?", "será que ele leu minha mensagem?", ou seja, economiza também em Rivotril.
*caso não tenho ficado bem claro, nem todo homem!