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"São os filhos do Bolsa Família, que não fez controle de natalidade", escreveu Betty Faria, repostando um vídeo publicado pelo jornal O Globo no X, antigo Twitter, que mostra um bando de jovens fazendo um arrastão entre os bairros cariocas de Ipanema e Copacabana.
A declaração surpreendeu muita gente. Betty sempre se declarou "rebelde", e sua história de vida confirma isto. Namorou quem quis, desafiou a caretice imposta pela ditadura militar e criticou Regina Duarte por ter aceitado o cargo de secretária da Cultura no governo Bolsonaro. No ano passado, votou em Ciro Gomes no primeiro turno, e em Lula no segundo.
Claro que o tribunal da internet reagiu na hora. Choveram comentários etaristas, acusando a atriz do terrível defeito de ser velha. Mais contundentes ainda foram as respostas que lembravam que João de Faria Daniel, filho de Betty com o diretor Daniel Filho, foi investigado por tráfico de drogas em 2019.
A postagem infeliz foi retirada do ar. Nesta sexta (8), Betty Faria fez algo que poucos, em situação parecida, costumam fazer: assumiu o erro. Não falou que suas palavras haviam sido "tiradas de contexto", a desculpa-padrão nesses casos. Foi corajosa.
"Eu estava com ódio das violências cometidas e não escrevi que o país precisa de escolas (em) tempo integral para eles não irem para o crime", escreveu Betty a uma fã que a defendia no X. "Realmente foi muito errada a minha declaração e deu chance para o ódio latente".
A um outro admirador, que a aconselhava a "pensar mais antes de falar", respondeu: "Tem razão, mas é muita raiva, viu? A gene anda na rua com medo e maus pensamentos, é duro, viu?".
De fato, as imagens fartamente divulgadas pela TV são estarrecedoras. Os criminosos cercam suas vítimas, roubam bolsas e celulares e agridem quem tentar impedi-los. A Zona Sul do Rio de Janeiro nunca foi um lugar seguro, mas a violência nas ruas atingiu um patamar absurdo.
No entanto, estes mesmos vídeos também revelam que os assaltantes são rapazes pobres. Muitos só estão de calção, sem camisa ou calçado. Quase todos são pretos ou pardos. Provavelmente, não vieram de longe: moram nos morros de Ipanema e Copacabana, cujas favelas são vizinhas a prédios de luxo.
Ou seja, é a cristalização de um gravíssimo problema social. Uma juventude abandonada pelo Estado e pela sociedade encontra no crime a única maneira de sobreviver. E geram pânico nos habitantes dos metros quadrados mais caros do país, que se veem tomados por "maus pensamentos".
O controle da natalidade é um deles. Que tal esterilizar todas as mulheres pobres? Assim não nascem mais pobres! Pronto, problema resolvido. Esta falsa solução já foi discutida a sério várias vezes, e dorme no inconsciente de muitos membros da elite brasileira.
Esta não foi a primeira polêmica na internet que atingiu Betty Faria em 2023. Em abril, a atriz se atreveu a sair em defesa de Patrícia Poeta, quando Manoel Soares ainda dividia o "Encontro" com a apresentadora. Foi atacada por Bruno Gagliasso nas redes, que a chamou de "nova Regina Duarte".
Em outubro, Alexandra Marzo, filha de Betty com o falecido ator Cláudio Marzo, desabafou que a mãe é uma "sociopata", e a acusou de dar bebida alcóolica a sua filha Giulia, que é menor de idade e mora com a avó.
Nenhuma dessas tretas atingiu a estratosfera como essa agora. Eu mesmo cheguei a cancelar Betty Faria. Escrevi um post no meu blog pessoal lamentando que ela tivesse se juntado a Regina Duarte e Cássia Kis, formando com elas uma "tristíssima trindade de atrizes reacionárias".
Agora é a minha vez de dizer que errei e pedir desculpas. Betty Faria continua sendo a rebelde que sempre foi, e seu coração e mente seguem nos lugares certos. Sim, ela escreveu algo horrível e impensado, mas quem nunca?
Cancelar também cansa. Prefiro ouvir todo mundo e mudar de ideia do que proferir sentenças irrevogáveis, como se eu fosse o dono da verdade. Ninguém é. Todos erramos. Bem-vindo ao mundo.