Claudia Raia faz entrada triunfal, mas 'Terra e Paixão' continua com problemas
Falta à trama de Walcyr Carrasco a grandiosidade mítica de 'Pantanal'
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Foi uma cena curta, exibida no último bloco do capítulo desta terça (24) de "Terra e Paixão". Emengarda, vivida por Cláudia Raia, é literalmente jogada na rua pelos seguranças de um hotel carioca, depois de meses sem pagar a conta. Mas o impacto foi tão grande que o nome da atriz logo entrou para a lista de assuntos mais comentados do X (antigo Twitter).
O fato é que o Brasil estava com saudade de Claudia Raia. Seu último papel numa novela foi em "Verão 90", há mais de quatro anos. Claro que ela não sumiu da mídia. Participou de alguns programas e ancorou uma temporada de "Decora", no GNT. Acima de tudo, teve um terceiro filho, Luca, aos 56 anos de idade. Sua gravidez extemporânea rende até hoje discussões na internet.
Depois de Eliane Giardini e Rafael Vitti, Cláudia é mais um nome de peso que entra, meio de supetão, para o elenco de "Terra e Paixão". O folhetim de Walcyr Carrasco é um ponto fora da curva na carreira do autor, que acumula sucessos estrondosos em todas as faixas horárias. A Globo tem feito o que pode para aumentar a audiência do carro-chefe de sua grade de programação, mas os resultados ainda estão abaixo do esperado.
Com a saúde fragilizada, Walcyr recebeu primeiro o reforço de Thelma Guedes, que assumiu a coautoria da novela. A equipe de roteiristas também conta agora com Dora Castellar, recém-saída de "Amor Perfeito". Todos têm o dever de criar tramas que segurem o interesse do público até janeiro de 2024, quando termina a novela.
Vai ser difícil. O conflito central de "Terra e Paixão", entre o malvado fazendeiro Antônio La Selva (Tony Ramos) e a mocinha Aline (Bárbara Reis) simplesmente não empolga – talvez porque todo mundo saiba que Aline sairá vitoriosa no final.
No futuro, "Terra e Paixão" será mais lembrada pelos personagens que trazem alívio cômico. A paixão entre Ramiro (Amaury Lorenzo) e Kelvin (Diego Martins) pode até se tornar um marco na história da representatividade LGBTQIA+ na televisão brasileira.
A dominatrix Anely (Tatá Werneck) e o falso italiano Luigi (Rainer Cadete) também divertem. Aliás, é para este núcleo que Cláudia Raia irá entrar: Emengarda é mãe de Luigi, e tão trambiqueira quanto o filho.
Mas todos eles são figuras laterais e suas cenas estão mais para esquetes de humor, sem influência no desenrolar da trama principal. E essa trama é óbvia, é mundana, sem a conotação épica que tinha "Pantanal".
A comparação com o remake da novela de Benedito Ruy Barbosa, exibido em 2022, é inevitável. "Pantanal" foi o último grande êxito da Globo na teledramaturgia. Nenhum dos títulos atualmente no ar sequer chega perto.
"Pantanal" era mítica, era transcendental. Usava arquétipos enraizados na cabeça da maioria das pessoas. Mesmo com sequências violentas, transportava o espectador para um universo mágico, diferente da chatice do cotidiano.
Já "Terra e Paixão" é um arremedo de bangue-bangue, com personagens meio banais. Não tem grandiosidade, não oferece escapismo. É "déjà vu" ao quadrado, num momento em que boa parte do público anseia por coisas novas. Ou, pelo menos, muito bem elaboradas, como foi "Pantanal".
Claudia Raia fez uma entrada triunfal na novela, e é provável que sua presença faça crescer a a audiência. O carisma da atriz é evidente, e ela surge em cena na hora mais do que certa. Mas será o bastante?
A pergunta pode até ser ampliada. A Globo está aprendendo, a duras penas, que não basta uma novela ter temática rural para emplacar. Fica o alerta para "Renascer", a sucessora de "Terra e Paixão", e mais uma releitura de um texto de Benedito Ruy Barbosa. Será que o público já tem apetite para mais uma "agronovela"?