Tony Goes
Descrição de chapéu jornalismo mídia

Suposta denúncia de garoto de programa contra ex-SBT é ponto baixo da imprensa brasileira

Não há a menor prova de nada, e o caso pode ser uma simples armação

Suposta denúncia de garoto de programa contra ex-SBT é ponto baixo da imprensa brasileira - Sergey Vinogradov/Unsplash

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Os sites que cobrem celebridades são pródigos em manchetes inócuas, que anunciam fatos banais como se fossem notícias relevantes. Um marco do gênero é o célebre "Caetano estaciona no Leblon".

A ânsia de gerar cliques também faz com que a intimidade dos famosos seja devassada. Foi o que aconteceu com a atriz Klara Castanho, que teve um segredo exposto e foi julgada em praça pública.

Algo semelhante está acontecendo agora. Um garoto de programa procurou um jornalista para "denunciar" um cliente, ex-apresentador do SBT, que teria defecado durante o ato sexual. Não demorou para o próprio profissional do sexo revelar o nome do suposto cliente, quebrando o código de honra que rege seu ofício.

Diversos sites repercutiram a "denúncia", como se se tratasse de um crime grave. Não, não é, assim como não é crime contratar os serviços de um prostituto. Grave mesmo é tratar como verdadeira uma história da qual não há a menor prova. Só as palavras do garoto de programa.

Mesmo se houvesse provas, e daí? A quem interessa saber disso? O caso é um exemplo fulgurante da categoria "mais do que queríamos saber".

Figuras públicas estão mesmo mais expostas do que pessoas comuns: é um dos ônus do sucesso. Mas não é possível que não haja limites. O que alguém faz entre quatro paredes, obviamente com o devido consentimento de todos envolvidos, é problema só dele.

O pior é que este episódio pode ser mentira, pura e simples. O tal do apresentador tem lá seus desafetos, e talvez esteja sendo vítima de uma armação. Não tenho a menor admiração profissional pelo cara, mas ninguém merece passar pelo que ele está passando.

Jornalismo sério não publica boatos. Tudo tem que ser checado e rechecado, pois o potencial de dano costuma ser grande. O caso da Escola Base, em que inocentes foram execrados por causa de reportagens mal elaboradas, deveria nos servir de alerta.

Mas, quando o assunto é a vida pessoal de uma celebridade, parece que vale tudo. Muitos famosos contribuíram para isso, ao escancarar detalhes privados nas redes sociais ou em entrevistas a podcasts. Agora o público se acha no direito não só de saber absolutamente tudo, como também de julgar tudo e cancelar quem não andar na linha.

Sim, criamos um monstro. Cabe a nós, jornalistas de entretenimento, manter o nível elevado e não ceder à tentação da baixaria. A lama gera engajamento e repercussão, mas também costuma tragar quem se aproxima dela.