Já é assinante? Faça seu login
Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:
Oferta Exclusiva
6 meses por R$ 1,90/mês
SOMENTE ESSA SEMANA
ASSINE A FOLHACancele quando quiser
Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.
Vamos combinar uma coisa? Não se pergunta em público sobre o órgão sexual de ninguém. Esse tipo de questionamento só pode ser feito em situações da mais absoluta intimidade. Tipo, entre quatro paredes, quando já está rolando um clima. Em frente às câmeras? Jamais.
Essa regrinha óbvia de etiqueta foi quebrada pelo cantor sertanejo Bruno, que faz dupla com Marrone. Na sexta passada (12), ao ser entrevistado pela repórter Lisa Gomes, do TV Fama (RedeTV!), ele perguntou sem rodeios: "você tem pau?". Lisa, que é transexual, fechou a cara, mas continuou a entrevista.
O vídeo vazou na internet e teve repercussão imediata. Bruno foi acusado de transfobia nas redes sociais. Lisa desabafou ao F5: "Nunca me senti tão humilhada na minha vida, e olha que já sofri muito preconceito".
Na segunda (15), Bruno publicou um pedido de desculpas em seu perfil no Instagram. "Fui totalmente infantil, fui totalmente inconsequente", disse o cantor. "Acho que não tem como voltar no tempo e é pedir perdão."
Pelo menos ele não alegou que suas palavras foram tiradas do contexto nem se desculpou com quem "por acaso" tivesse se sentido ofendido. Ainda telefonou para Lisa, em busca de reconciliação. Não colou: a repórter declarou que continua pensando em processá-lo.
Lisa tem bons motivos para desconfiar da sinceridade de Bruno. O sertanejo acumula polêmicas em sua carreira. Já fez piadas machistas e homofóbicas no palco. Perguntou para a apresentadora Flávia Viana, que estava grávida, se ela conhecia o pai do bebê. Em visita a Dubai, tirou uma foto ao lado de um foragido da Justiça brasileira. Adivinha quem ele apoiou nas últimas eleições?
Bruno também acumula processos, e o pedido de desculpas a Lisa Gomes soa como a tentativa de evitar mais um. Pelo jeito, não vai dar certo. Porque a transfobia do cantor é evidente: ao perguntar sobre o órgão da repórter, ele deixa implícito que ela não pode ser mulher.
Só que pode. O entendimento atual é que basta a pessoa se sentir pertencente a um gênero para que todo mundo a respeite como tal. O conceito de "nascer num corpo errado" está ficando para trás. Como diz a cantora trans Candy Mel, "não há nada de errado como o meu corpo".
Os transexuais de hoje não precisam mais passar por cirurgias de redesignação de gênero, que são caras, complicadas e, muitas vezes, insatisfatórias. Podem manter o "equipamento original", "de fábrica", e ainda assim se declararem do gênero oposto.
Se você ainda está na dúvida, fique tranquilo: praticamente todas as mulheres transexuais que você conhece têm pau, e nem por isso deixam de ser mulheres.
Lisa Gomes está tomando tranquilizantes desde sexta, mas eu torço para que seu sofrimento se reverta num avanço para a causa LGBTQIA+. O preconceito de Bruno vem da ignorância, e um caso como este pode servir para que muita gente entenda melhor o que é a transexualidade.
Porque, de certa forma, estamos todos transicionando. De um estado de desconhecimento e estranheza em relação ao transexuais para uma atitude de acolhida e reconhecimento. Tomara.