Sem surpresas nem tapa na cara, cerimônia do Oscar transbordou emoção
Cerimônia voltou a ter um único anfitrião e passou longe das polêmicas
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"Meus banshees ficaram presos no meu Inisherin", disse Jimmy Kimmel, enquanto arrumava as calças depois de aterrissar de paraquedas no palco do Dolby Theatre, em Los Angeles.
A primeira piada feita pelo anfitrião da 95ª cerimônia de entrega do Oscar também foi sua mais ousada. Nem mesmo o tabefe que Will Smith proferiu em Chris Rock no ano passado mereceu algo mais mordaz. "Se alguém nesse teatro cometer algum ato de violência a qualquer momento deste show, ganhará o Oscar de melhor ator", arriscou Kimmel, e só.
O tom ameno do comediante, que apresentou o evento pela terceira vez, parece ter sido proposital. A Academia de Hollywood não queria uma festa polêmica, nem nada que ofuscasse os prêmios em si. Talvez por isto mesmo tenha recusado o pedido do presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, para mandar uma mensagem em vídeo a ser exibida durante a cerimônia.
Depois de dois anos atípicos, o Oscar voltou ao normal. Todas as 22 categorias tiveram seus vencedores anunciados no palco, ao contrário do que aconteceu no ano passado. Ao invés dos múltiplos anfitriões, a Academia voltou ao formato consagrado de um único apresentador principal, e pela mais singela das razões: é melhor para os índices de audiência.
Por outro lado, esta foi uma cerimônia pouco memorável. Com 11 indicações (duas delas na mesma categoria, atriz coadjuvante), "Tudo ao Mesmo Tempo em Todo o Lugar" venceu sete troféus. O filme demonstrou uma força inusitada, já que é bastante polarizador: tem gente que ama, tem gente que odeia.
Um pouco mais surpreendente, mas só um pouco, foi o vigor do alemão "Nada de Novo no Front", que levou quatro estatuetas: além de filme internacional, também prevaleceu nas categorias de fotografia, som e direção de arte.
O predomínio desses dois títulos fez com que ótimos longas como "Tár", "Os Fabelmans", "Elvis" e "Os Banshees de Inisherin" voltassem para casa de mãos abanando. Mas, se a variedade e a qualidade da safra de 2022 não foi devidamente reconhecida pela Academia, o que não faltou na noite de domingo (12) foi emoção.
Ke Huy Quan foi às lágrimas quando venceu como ator coadjuvante, contagiando boa parte da plateia. O ator já tinha feito o mesmo em seus vários discursos de agradecimento ao longo desta temporada de premiações, mas sua vibração era genuína: depois de 20 anos no ostracismo, o astro mirim de "Os Goonies" e "Indiana Jones e o Templo da Perdição" deu uma das mais espetaculares voltas por cima da história do cinema.
A veterana Jamie Lee Curtis, com os olhos molhados, dedicou seu prêmio aos pais, os falecidos atores Tony Curtis e Janet Leigh, que foram indicados ao Oscar, mas nunca venceram. Brendan Fraser, melhor ator por "A Baleia", também desatou em prantos ao lembrar o período que passou esquecido pela indústria do entretenimento. Só Michelle Yeoh, melhor atriz por "Tudo ao Mesmo Tempo...", foi um pouco mais contida, mas nem tanto.
As cinco indicadas ao Oscar de melhor canção voltaram a ser apresentadas ao longo da cerimônia, depois de terem sido relegadas ao pré-show no ano passado. Apesar da presença de megastars como Rihanna e Lady Gaga, a vencedora foi mesmo "Naatu Naatu" do filme indiano "RRR". Nem tanto pela música em si, mas pela complicadíssima e sensacional coreografia, reproduzida em minúcias no palco por um grupo assombroso de bailarinos.
A única piada mais pesada da noite foi disparada por Hugh Grant, que apresentou um prêmio ao lado de sua parceira em "Quatro Casamentos e um Funeral", Andie MacDowell. "Andie usou hidratante todos os dias nos últimos 29 anos, e vejam como ela continua deslumbrante", disse o ator inglês. "Eu nunca usei hidratante na vida, e agora pareço um saco escrotal."
Na transmissão pela TNT, Ana Furtado se mostrou desenvolta e à altura da tarefa, apesar de atropelar de quando em quando seus colegas Michel Arouca e Camila Morgado. Esta, aliás, se revelou uma comentarista precisa e bem informada, bastante capaz de opinar.
Foi uma cerimônia longuíssima, como de costume. Durou quase três horas e meia, um desafio que só cinéfilos de carteirinha costumam enfrentar. Foi bonita, foi comovente, foi esquecível. Não renderá assunto pelo resto do ano, porque não teve tapa na cara —e, na verdade, isso é bom.