Tony Goes
Descrição de chapéu Televisão LGBTQIA+

Terceiro episódio de 'The Last of Us' já é um dos grandes momentos da TV em 2023

Série da HBO atinge novo patamar com subtrama sobre casal gay

Nick Offerman e Murray Bartlett no terceiro episódio de 'The Last of Us' - Liane Hentscher/HBO

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Depois de umas 700 temporadas de "The Walking Dead" e seus derivados, além de uma dúzia de filmes de temática semelhante, meu interesse pelos mortos-vivos se esgotou. Não aguento ver mais nada em que criaturas estropiadas perseguem humanos saudáveis num cenário pós-apocalíptico. Já bastam os zumbis da vida real.

Foi por isso que o primeiro episódio de "The Last of Us" não me fisgou. A nova série da HBO, como tudo que leva a marca do canal, tem produção requintada e elenco de primeira linha. Mas também tem mortos-vivos: fujam para as colinas.

OK, tecnicamente os monstrengos de "The Last of Us" não são zumbis, porque (ainda) não morreram. São pessoas que foram infectadas por uma mutação de um fungo do gênero Cordyceps, que invade e domina o organismo de seu hospedeiro. Na natureza, esses fungos costumam atacar formigas e outros insetos. Na ficção, têm o potencial de dizimar a humanidade.



Acontece que, na prática, os infectados de "The Last of Us" agem quase que exatamente como os batalhões de mortos-vivos que invadiram a cultura pop na última década. Bastou um deles aparecer na série para eu desistir de acompanhá-la.

Duas semanas depois da estreia, já mudei de ideia. O responsável por esta reviravolta foi o terceiro episódio desta primeira temporada, exibido pela HBO no domingo passado (29) e disponível na plataforma HBO Max.

O ano mal começou, mas já se pode dizer que "Por Muito, Muito Tempo" é um dos grandes momentos da TV em 2023. Com uma hora e 15 minutos, praticamente a duração de um longa-metragem, o episódio é envolvente, emocionante e, apesar de focar dois personagens que não aparecerão mais, joga para a frente a trama principal da série.

A partir daqui, virão alguns spoilers. Se você ainda não viu "Por Muito, Muito Tempo", pare de ler neste ponto.

Depois de mostrar os protagonistas Joel, vivido por Pedro Pascal, e Ellie, papel de Bella Ramsey, em sua jornada rumo ao oeste do que sobrou dos Estados Unidos, a ação se desloca para Lincoln, uma comunidade no interior do estado de Massachusetts.

A pequena cidade está quase às moscas: praticamente todos seus habitantes foram evacuados. Sobrou um: Bill, um "sobrevivencialista", que conseguiu se esconder. Uma vez sozinho, Bill saqueia as lojas abandonadas da região e faz estoques de quase tudo em sua casa, de vinhos caros a roupas femininas.

Bill é interpretado por Nick Offerman, da série "Parks & Recreation", e ostenta a aparência assustadora de um dos invasores do Capitólio em janeiro de 2021. Sabe usar armas e construir cercas eletrificadas. Tem absoluta confiança em si mesmo e desconfia de todos os demais. É quase uma caricatura de um militante da extrema-direita.

Só que Bill também tem um segredo, que é revelado quando chega um estranho em sua propriedade. Frank é o único remanescente de um grupo que tentava ir de Baltimore a Boston. E é encarnado pelo ator Murray Bartlett, o gerente do hotel da primeira temporada de "The White Lotus". Como Bartlett é um especialista em personagens homossexuais, não tive dúvidas quando o vi surgir em cena: vêm cenas de amor gay por aí.

E vêm mesmo. Depois do estranhamento inicial, Bill e Frank se apaixonam, e vivem juntos por duas décadas em isolamento quase total. Vemos cenas dessa vida em comum ao longo dos anos, esperando a todo momento pelo pior.

Mas o desfecho da história do casal é surpreendentemente terno. Dadas as circunstâncias, quase um final feliz. Até porque não envolve diretamente nenhum morto-vivo –perdão, nenhum infectado.

"The Last of Us" surgiu como um videogame em 2013, e os fãs mais radicais reclamaram que este terceiro episódio se afasta muito da história original. Frank e Bill aparecem no game, mas a subtrama deles foi muito mais aprofundada na série. Essa galerinha precisa aprender que televisão é outra coisa.

Mas trata-se de uma minoria. Nas redes sociais e nas críticas, já surgiu um movimento clamando por prêmios Emmy para todos os envolvidos.

"Por Muito, Muito Tempo" tirou seu título de uma música da cantora Linda Ronstadt, "For a Long, Long Time", que toca em momentos-chave do episódio. Hoje aposentada, Ronstadt voltou ao topo das paradas, num efeito semelhante ao que aconteceu com Kate Bush e sua "Running Up That Hill", canção que foi descoberta pelas novas gerações depois de entrar na trilha sonora da quarta temporada de "Stranger Things".

Fiquei tão tocado por este terceiro episódio que agora decidi assistir a "The Last of Us" até o fim. Vai ver que o Cordyceps me pegou.