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Tom Jobim, Led Zeppelin, Elton John, Britney Spears, Alanis Morrisette, Andrea Bocelli, Taylor Swift, Justin Bieber e Lizzo. Esse grupo heterogêneo de superstars acaba de ganhar uma nova integrante: a brasileira Anitta, que, como todos eles, foi indicada —mas não ganhou— ao Grammy de Melhor Artista Novo; ou, na formulação mais comum por aqui, Revelação do Ano.
É uma pena, claro. Até porque as expectativas estavam infladas: muitos sites especializados apontavam o favoritismo da nossa conterrânea e diziam que seus rivais mais próximos seriam a banda italiana Måneskin e a rapper Latto.
No final, deu uma zebra absoluta: ganhou Samara Joy, uma excelente cantora de jazz, mas com um repertório e um estilo de interpretação que parecem congelados na década de 1950. Com tantos nomes novos que realmente estão expandindo as fronteiras da música popular, nesta categoria o Grammy foi pior do que conservador: foi velho.
Não foi a primeira vez nem deve ser a última. O maior prêmio da indústria fonográfica mundial age de maneira errática há décadas. Às vezes corre para consagrar novidades que desaparecem no ano seguinte. Em muitas outras ignora fenômenos do tamanho de Madonna, que só começou a ser reconhecida pela Academia de Gravação depois de 15 anos de sucesso estrondoso.
E, quando na dúvida, o Grammy apela ao jazz. Foi assim em 2008, quando Amy Winehouse levou todos os troféus a que estava indicada —menos o de álbum do ano, que foi para "River: The Joni Letters", de Herbie Hancock, um trabalho que pouca gente ouviu e evaporou sem deixar marcas.
No ano passado, aconteceu algo semelhante. Dividido entre inovadores como Billie Eilish, Kanye West e Lil Nas X, o Grammy deu seu prêmio principal a Jon Batiste, um músico multitalentoso que já passeou por diversos gêneros, mas que pode tranquilamente ser classificado como jazzista da velha guarda.
Não tenho nada contra o jazz. Não é o tipo de música que eu costumo ouvir, mas reconheço a qualidade e o virtuosismo dos nomes que povoam o gênero. Herbie Hancock, Jon Batiste e Samara Joy são todos músicos de primeiríssima linha. Também são todos meio chatos.
O jazz sempre foi, e ainda é, um laboratório de experimentação. Para o jazz vale tudo: arriscar novos instrumentos, misturar-se com qualquer coisa, jogar as regras às favas. Esperanza Spalding, que venceu o Grammy de Revelação do Ano em 2011, é um caldeirão borbulhante de ideias.
O mesmo não pode ser dito de Samara Joy. "Linger Awhile", seu segundo e mais recente álbum, é uma delícia de se escutar. Arranjos aveludados, voz poderosa, composições à prova de bala. Se estivéssemos em 1956, seria um divisor de águas. Só que não estamos.
"Âin, Anitta também não tem nada de novo", há de reclamar alguém. De fato, a carioca de Honório Gurgel não oferece um mix absolutamente original ao mercado internacional. Poderia ter investido mais na divulgação do funk brasileiro, mas preferiu arriscar menos. Ela é hoje uma estrelinha adjacente ao universo do reggaetón, o ritmo portorriquenho que vem dominando as paradas mundiais e tem Maluma e Bad Bunny como grandes expoentes.
Mas Anitta também tem um frescor, uma atitude e, sim, um sabor tipicamente brasileiro, que a destacam da manada de cantoras que surgem e somem todos os anos. Ela já mostrou que chegou para ficar –está aí há mais de dez anos– e tudo indica que sua trajetória ainda está no começo.
Lizzo foi derrotada em 2020 como artista nova e neste domingo (5) saiu da cerimônia com o cobiçadíssimo troféu de Gravação do Ano. Doja Cat, que concorreu na mesma categoria no ano seguinte, está prestes a se tornar uma estrela daquelas que até a sua mãe conhece. E há o caso exemplar de ninguém menos que Tom Jobim. Nosso grande compositor foi batido pelos Beatles em 1965, mas conquistou muitos outros Grammys –inclusive o Lifetime Achievement Award, pelo conjunto da obra, talvez a maior honraria de todas.
Com vários hits no currículo, Anitta tem mais é que focar no futuro. Foi uma honra ser indicada ao prêmio de Revelação do Ano e vergonha nenhuma tê-lo perdido. O que interessa agora são os próximos Grammys.