O que aprendemos com a reação de Giovanna Ewbank ao ataque racista contra seus filhos
É óbvio que a repercussão seria outra se a atriz fosse negra
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A cena viralizou no sábado (30) e imediatamente se tornou um dos assuntos mais comentados nas redes sociais. Em um restaurante na Costa da Caparica, próximo a Lisboa, Giovanna Ewbank defende aos gritos seus filhos Bless e Titi de uma mulher que os atacou com impropérios racistas.
A fúria da atriz é impressionante. Ela xinga a racista de "filha da puta", diz que esta merece levar um soco e, num momento que não foi captado por nenhum dos vídeos que circulam na internet, dá um tapa na cara da agressora.
Giovanna imediatamente foi alçada à condição de heroína nas redes, e com razão. Sua cólera lavou a alma de muita gente. Num país em que toda semana eclode pelo menos um caso aviltante de racismo nos telejornais, foi mesmo reconfortante ver uma racista sendo presa em flagrante.
Não demorou para que surgissem comentários questionando o que teria acontecido se fosse uma mãe negra defendendo seus filhos. Levantou-se, com muita propriedade, a questão do privilégio branco. Giovanna só foi ouvida porque é uma mulher branca. Se fosse negra, era bem capaz de ter sido ela levada presa.
A própria Giovanna admitiu isto em uma entrevista exibida pelo Fantástico (Globo) neste domingo (31). "Eu sou uma mulher muito consciente dos meus privilégios (...) vou fazer jus ao nome privilégio branco e vou combater de frente".
Bastante emocionada, a atriz reconheceu que bateu mesmo na cara da racista. Ao seu lado, seu marido Bruno Gagliasso logo esclareceu: "Na verdade, ela não agrediu, ela reagiu. Não confunda a reação do oprimido com a ação do opressor".
Há algumas lições a se tirar deste episódio. A primeira delas é que o racismo é intolerável, sob qualquer circunstância. Não há diálogo possível com racistas. Quem presenciar uma atitude como a desta senhora portuguesa deve reagir como Giovanna: aos berros. Ah, sim, e chamar a polícia.
Outra coisa: as vítimas não precisam ser seus filhos. Qualquer pessoa que sofrer um ataque racista merece ser defendida imediatamente por quem estiver por perto. A luta antirracista é responsabilidade do Estado, da sociedade e de cada um de nós.
A outra lição é a prevalência do privilégio branco. Uma mulher negra que reagisse com a mesma ira que Giovanna seria chamada de louca, agressiva, selvagem e daí para baixo.
Por fim, mais uma vez foi demonstrado como o racismo se imiscui sorrateiramente entre nós, para de repente dar as caras num sábado de sol à beira-mar, onde todo mundo estava apenas se divertindo. Em Portugal, no Brasil, no mundo inteiro.
Entre todas as reações a este caso, há uma realmente lamentável: a do cantor Conrado, que, além de duvidar das razões da reação de Giovanna Ewbank, reiterou que, em sua douta opinião, inexiste o racismo estrutural no Brasil. Sugiro a ele um bom colírio, que desembace sua visão.
Adivinha quem é o candidato à Presidência apoiado por Conrado.