Tony Goes

Série sobre o assassinato de Daniella Perez é o melhor 'true crime' já feito

Dois primeiros episódios de 'Pacto Brutal' estão disponíveis na HBO Max

Morte de Daniella Perez completa 30 anos - HBO Max/Divulgação

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Eu estava em Buenos Aires para passar o Réveillon de 1992 para 1993. Na tarde do dia 29 de dezembro, uma terça-feira, eu procurava um restaurante no bairro da Recoleta para almoçar. Antes de comer, parei numa banca cheia de jornais brasileiros, já que aquela região é muito frequentada pelos turistas daqui. E me horrorizei com as manchetes: Daniella Perez havia sido assassinada na noite anterior.

Esse crime bárbaro foi um daqueles acontecimentos de que todo mundo se lembra onde estava quando ficou sabendo, tal qual o 11 de setembro. Era simplesmente inimaginável que uma jovem atriz havia sido morta, com requintes de crueldade, por um colega do elenco da novela "De Corpo e Alma", que então ocupava a faixa das 21 horas na Globo, e a mulher deste. Um choque tão grande que ofuscou até mesmo a renúncia de Fernando Collor à presidência, ocorrida no mesmo dia.

O caso recebeu enorme atenção da mídia durante os anos seguintes, à medida em que novos detalhes iam aparecendo, e culminou com a condenação dos assassinos Guilherme de Pádua e Paula Thomaz, em 1997, a 19 anos e meio e a 18 anos de cadeia, respectivamente. Como já estavam presos desde 1993, ambos receberam liberdade condicional em 1999 por terem cumprido um terço da pena.

O assassinato de Daniella Perez foi, talvez, o crime de maior repercussão de todos os tempos no Brasil por envolver pessoas famosas e pelas circunstâncias absolutamente sinistras em que ocorreu. Era apenas questão de tempo que essa história escabrosa fosse adaptada para uma minissérie do gênero "true crime", que esmiúça casos policiais que se tornaram célebres.

Esta série é "Pacto Brutal: o Assassinato de Daniella Perez", cujos dois primeiros episódios chegaram nesta quinta (21) à plataforma HBO Max (serão cinco ao todo). Os diretores Guto Barra e Tatiana Issa colheram depoimentos da família e dos amigos da vítima, além de advogados e autoridades que participaram do caso. Um trabalho meticuloso e muito bem editado que segura a atenção do espectador –mesmo que muitos de nós já saibamos muito do que aconteceu.

O primeiro episódio é especialmente doloroso de se assistir. Acompanhamos, passo a passo, o que foi o último dia da vida de Daniella. E sofremos juntos com sua mãe, a autora de novelas Gloria Perez, e seu marido, o ator Raul Gazzola, à medida em que eles descobrem que o pior aconteceu.

Os diretores se recusaram a entrevistar Guilherme de Pádua, Paula Thomaz e seus advogados. Defendem esta decisão dizendo que não querem dar palanque aos dois assassinos, que mudaram suas versões sobre o ocorrido diversas vezes (atualmente, um joga toda a culpa no outro, livrando a própria cara).

O bom jornalismo manda que todos os lados de uma questão sejam ouvidos. Acontece que, neste caso, a questão está resolvida há décadas. "Pacto Brutal" assume um lado, o da vítima, e se propõe a enterrar de uma vez por todas o boato de que Daniella e Guilherme viviam um caso extraconjugal.

O resultado é nada menos do que a melhor minissérie de "true crime" já feita no Brasil. O gênero, ainda incipiente entre nós, ganha agora uma referência de alta qualidade, contra a qual as produções futuras serão comparadas.

Mas há um aspecto nessa história escabrosa que permanece obscuro. Por que, afinal, Guilherme de Pádua e Paula Thomaz mataram Daniella Perez? Ele teria querido se vingar de Gloria Perez, porque a autora não deu a seu personagem Bira o destaque com que o ator sonhava. Ela teria exigido uma prova de amor do marido, eliminando aquela que enxergava como uma ameaça a seu casamento.

Essas duas motivações são fúteis, terríveis e irracionais. Daniella morreu com 18 perfurações no corpo, provavelmente feitas com um punhal –e não com uma tesoura como foi divulgado na época (a arma do crime jamais foi encontrada). Um horror tão grande que faz com que seu assassinato continue a assombrar os brasileiros.