Tony Goes

Série 'Faz-Me Rir', da criadora de 'Dix Pou Cent', é uma das boas surpresas do ano

Protagonistas são quatro jovens comediantes parisienses de stand-up

Cena da série 'Faz-Me Rir', com Mariama Gueye e Younès Boucif - Mika Cotellon /Divulgação

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Esqueça as tragédias de Shakespeare, os equilibristas do Cirque du Soleil, os shows de sexo explícito. De todas as artes cênicas, nenhuma é mais difícil do que a comédia stand-up. Nem mesmo a mulher do atirador de facas enfrenta um desafio tão grande quanto o do comediante que sobe sozinho ao palco, tendo que fazer rir a plateia impiedosa que tem pela frente.

"Faz-Me Rir" é o nome brasileiro da nova série de Fanny Herrero, a showrunner francesa responsável pela aclamada "Dix Pour Cent" (ambas disponíveis na Netflix). O título original, "Drôle", significa "engraçado". Não foram bem escolhidos, pois induzem o espectador a crer que vai rolar de rir. Não vai. Mesmo assim, a série é uma das boas surpresas de 2022.

Os protagonistas são quatro jovens comediantes parisienses, em diferentes estágios da carreira. Bling, vivido por Jean Siuen, tem origem vietnamita e já fez um certo sucesso. Hoje é o dono de um concorrido clube de stand-up, o Drôle, que dá nome à série. Mas sua indisciplina faz com que suas piadas fiquem cada vez mais sem graça, a ponto de ele ser vaiado para fora do palco.

Nézir, papel de Younès Boucif, ainda é iniciante, e seu talento como roteirista logo o transformará num profissional disputado. Aïssatou, feita por Mariama Gueye, se torna uma estrela da noite para o dia, depois que um vídeo seu viraliza. Por fim, Apolline, interpretada por Elsa Guedj, está disposta a abdicar de sua vida de burguesinha para encarar os holofotes.

Os quatro personagens são muito bem construídos, e as interações entre eles deixam "Faz-Me Rir" interessante. Sua diversidade reflete a França moderna e multicultural. Só Apolline, a única branca do grupo, não sofre com o racismo.

Todos eles são forçados a fazer escolhas difíceis entre a vida pessoal e a profissional. A belíssima Aïssatou é casada e tem uma filha de três anos, mas seu marido não a apoia totalmente. Ele quer ter logo outro filho, mas ela prefere esperar mais um pouco –afinal, sua carreira está decolando. Mas Aïssatou engravida, e o casal é obrigado a discutir se aborta ou não.

Nézir, que trabalha durante o dia como entregador, precisa desesperadamente de dinheiro. Sua ascensão profissional também o levará a colidir, por diferentes razões, com seus amigos Bling e Aïssatou. Ele e a patricinha Apolline se apaixonam, formando o casal mais feio da TV desde Nélio e Dolores, de "Nos Tempos do Imperador". Mas, como no caso do par da novela, a química entre eles é palpável.

Bling luta para não descer ladeira abaixo, mas não muito. Ele desperdiça as duas grandes chances que recebe ao longo da temporada, levantando a suspeita de que é um caso perdido.

Com apenas seis episódios, a primeira safra de "Faz-Me Rir" é agradável de se ver. As locações se concentram no lado B de Paris: bairros periféricos, lojas de imigrantes, vielas aonde os turistas não vão. O glamour de "Dix Pour Cent" raramente dá as caras.

Acima de tudo, "Faz-Me Rir" confirma o talento de Fanny Herrero, uma especialista em extrair comédias dramáticas do mundo do showbiz. Só não assista achando que irá rir muito.