'Pantanal' estreia sem pressa de arrastar o espectador para dentro da história
Primeiro capítulo da novela teve imagens belíssimas e grandes atuações
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Paisagens deslumbrantes. Música épica. Revoada de pássaros. Sol se pondo. Gado filmado de cima, desenhando formas geométricas. Mais paisagens deslumbrantes.
O primeiro bloco de "Pantanal" não teve a menor pressa em atirar o espectador para dentro da história. A nova atração da Globo na faixa das 21 horas estava mais interessada em criar clima. Em demarcar território. E também, é claro, em maravilhar, com tomadas de um apuro técnico inédito na nossa TV.
A versão original da novela, exibida em 1990 pela extinta TV Manchete, ficou famosa pelo ritmo lento. Belíssimas imagens da natureza, em que dramaturgicamente não acontece nada, seriam chamadas de encheção de linguiça em qualquer outro contexto. Mas, 32 anos atrás, "Pantanal" serviu de bálsamo para um público sofrido, que teve suas economias confiscadas pelo governo Collor.
"Pantanal" foi um raríssimo programa que abalou a hegemonia da Globo no Ibope. Não por acaso, quase todos os profissionais envolvidos haviam vindo da emissora líder, e para lá voltaram assim que acabou a novela –como o autor Benedito Ruy Barbosa, o diretor Jayme Monjardim e quase todo o elenco.
O caso entrou para o folclore da TV brasileira. Ruy Barbosa ofereceu "Pantanal" para a Globo, que a recusou por causa dos altos custos de produção. Talvez tenha sido uma decisão acertada. Mesmo fazendo sucesso, a novela abriu um rombo insanável nas contas da Manchete, que fechou as portas em 1999.
Mas os tempos mudaram, e agora essa trama em fogo baixo estreia na Globo quase como uma tábua de salvação. A emissora não poupou esforços desde que anunciou sua produção (lá se vão quase três anos). Inclusive de marketing: "Pantanal" foi promovida em quase todas as atrações da Globo, algo que "Um Lugar ao Sol" não ganhou.
Deu certo, pelo menos neste momento. O primeiro capítulo chegou a alcançar 29 pontos na Grande São Paulo, bem mais que os costumeiros 22 de sua antecessora. Nas redes sociais, internautas se derreteram pela fotografia primorosa e pelas atuações intensas. Vai ver que "Pantanal" era mesmo o folhetim de que o Brasil de 2022 estava precisando?
É difícil destacar qual ator se destacou mais nessa estreia. Irandhir Santos compôs um Joventino visceral. Renato Góes reafirmou seu carisma de protagonista como o jovem José Leôncio. As sobrancelhas de Juliana Paes, que faz Maria Marruá, chegaram a assustar de tão espessas.
Só Irandhir volta na segunda fase, vivendo um neto de seu primeiro personagem. As fases, aliás, são uma característica da escrita de Benedito Ruy Barbosa, mantida por seu neto Bruno Luperi, que assina o roteiro atual.
A rigor, houve até uma fase zero no primeiro episódio do novo "Pantanal", com um José Leôncio adolescente perdendo a virgindade para uma prostituta, numa cena até ousada para os padrões do horário.
O Brasil de hoje não é mais o mesmo de 1990. Nossa democracia, que parecia consolidada, tem se revelado frágil. Minorias encontraram suas vozes e fazem reivindicações. Também deixamos de ser uma potência industrial emergente: fechamos várias fábricas e focamos energia no agronegócio, hoje o motor da nossa economia. É nesse país arcaico e moderno ao mesmo tempo que estreia "Pantanal".
As reações positivas à estreia fazem crer que essa trama pouco inovadora, mas muitíssimo bem realizada, dará sobrevida às novelas tradicionais, tão ameaçadas pelas séries. E olha que a Juma Marruá, agora vivida por Alanis Guillen, ainda nem apareceu.