Tony Goes

Fábio Porchat diz que é ateu, mas pensa em se formar em teologia

Humorista estuda a Bíblia para escrever especiais de Natal do Porta dos Fundos

Cartaz do especial de Natal do Porta dos Fundos - Divulgação

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Fábio Porchat está pronto para mais uma batalha. "Te Prego Lá Fora", o oitavo especial de Natal do Porta dos Fundos, do qual ele é roteirista, estreia nesta quarta (15) exclusivamente na plataforma Paramount +. Pela primeira vez, o programa foi realizado em animação, o que permitiu cenas de violência gráfica ou que resvalam para a pornografia. Ou seja: pode desagradar muita gente.

Não seria a primeira vez. Alguns dos especiais anteriores tiveram recepções bastante polêmicas, para dizer o mínimo. "Se Beber, Não Ceie", lançado em 2018, ganhou o prêmio Emmy Internacional de melhor comédia, mas chegou a ser banido em Singapura. O de 2019, "A Primeira Tentação de Cristo", desencadeou uma série de processos na Justiça (o Porta dos Fundos ganhou todos). Como se fosse pouco, a sede da produtora no Rio de Janeiro ainda sofreu um atentado a bomba, um caso ainda sem solução.

O que talvez surpreenda muita gente é que Fábio Porchat pesquisa muito os textos bíblicos na hora de escrever os roteiros dos especiais. Ele ainda envia as primeiras versões para líderes religiosos, como os pastores Caio Fábio e Henrique Vieira. "De modo geral, eles sempre se divertem", conta o humorista, em entrevista por chamada de vídeo. "E me mandam sugestões, apontam caminhos e até sugerem piadas. O que não significa necessariamente que eu vá mudar tudo o que eles falarem".

Pergunto se ele mesmo está se tornando um estudioso da Bíblia. "Eu penso em fazer faculdade de teologia. Tenho muito interesse por religiões. Acho uma pena que as aulas de religião no colégio costumem se concentrar no catolicismo. Seria tão rico a gente entender as religiões pelo mundo, porque uma vai meio que derivando da outra".

Isto não quer dizer que Porchat tenha se convertido a alguma fé. "Eu não acredito em nada. Sou ateu, até que me provem o contrário", prossegue ele. "Mas acho que o próprio Jesus é um cara a ser seguido. Um cara que, há 2.000 anos falava de amor, de perdão. Hoje em dia, se você falar de amor, já leva um tapa na cara. Imagina naquela época".

"Eu não acredito em rezar para alguém que está nos ouvindo. Não entendo alguém agradecer a Deus pelo alimento que está comendo. Mas acho legal nos darmos conta de que tem gente passando fome e que temos sorte de ter teto e comida. Perceber que muita gente não tem o que comer desperta a bondade no coração das pessoas. Quanto mais tivermos consciência dos nossos privilégios, mais empatia teremos pelo próximo. Acho que era isso o que Jesus pregava. Era empatia o tempo todo".

Está ficando mais difícil fazer piada com Jesus? Afinal, além dos oito especiais de Natal, o Porta dos Fundos já lançou mais de 50 esquetes de temática religiosa. "Sim, porque a gente já teve muita ideia, já fomos por vários caminhos", responde Porchat. "Mas este ano surgiu a possibilidade de fazer uma animação. Também gostei de escrever um Jesus adolescente, ainda meio inseguro com seus poderes, e mandá-lo para uma high school no estilo americano. Acho que isso nunca havia sido feito antes".

"Meu olhar para Cristo não é para o lado sagrado, é para o humano. Será que ele já nasceu bondoso, ou foi aprendendo? Eu acho que foi aprendendo. Talvez por isto a Bíblia suprima a vida de Jesus dos 12 aos 30 anos. Muitos evangelhos foram suprimidos".

Ainda mais controverso do que o Jesus cheio de espinhas no rosto e meio descontrolado que aparece em "Te Prego Lá Fora" é a própria figura de Deus, retratado, segundo o próprio Porchat, como um "tiozão". No especial, ele transa com muitas mulheres, joga Playstation e faz piadas velhas.

"Eu quis fazer o Deus do Antigo Testamento. Um deus vingativo, que metia medo", afirma Porchat. "Ele deve pensão alimentícia a Maria... Acho OK fazer um Deus que tem defeitos. Afinal, Ele é tudo. Ele está no meio de nós".

Com tanta familiaridade com textos religiosos, Fábio Porchat já tem duas ideias para o próximo especial de Natal do Porta dos Fundos. Se elas não vingarem, poderão ser aproveitadas para outras coisas. "Um dia ainda vou fazer um stand-up sobre a Bíblia", ri ele.