Tony Goes

Será que estamos prontos para ver novela no streaming?

Estreia de 'Verdades Secretas 2' levanta questões interessantes

Cena de "Verdades Secretas 2" - Globo

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As novelas foram fundamentais para a consolidação da TV aberta não só no Brasil, mas em toda a América Latina. O formato se desenvolveu no rádio, sob forte influência dos folhetins do século 19, com um objetivo claro: forçar o público a sintonizar, quase todos os dias, na mesma estação, no mesmo horário. Uma história contada aos poucos é a maneira mais certeira de fidelizar a audiência.

As primeiras novelas da televisão brasileira duravam poucos meses e tinham poucos personagens. Com o passar dos anos, foram ganhando maior duração, mais subtramas, núcleos de humor, ações de merchandising. Uma novela moderna é todo um universo, em que o enredo principal é só um dos elementos.

Esse inchaço também gerou problemas. Toda novela tem a famosa “barriga”: aquela fase em que nada de realmente importante acontece.

Por isto mesmo, as novelas tradicionais não se prestam a um dos hábitos surgidos com as plataformas de streaming: o chamado binge-watching, que no Brasil virou maratona. Só os fãs mais aguerridos conseguem assistir a quatro ou cinco capítulos seguidos de sua novela favorita. O restante de nós se exaspera com tamanha encheção de linguiça.

No entanto, mesmo com o crescimento meteórico das séries, as novelas seguem sendo o gênero mais popular entre os brasileiros. Um fenômeno tão enraizado na nossa cultura que várias plataformas estão se movendo para incluir novelas nacionais inéditas em seus catálogos.

A primeira delas estreia nesta quarta-feira (20), no Globoplay. “Verdades Secretas 2”, de Walcyr Carrasco, também inova por ser a continuação de uma obra exibida em 2015, retomando vários dos personagens originais.

Serão 50 capítulos ao todo, cerca de um terço do número habitual de uma novela convencional. A Globo trabalhou com este formato na faixa das 23 horas durante alguns anos da década passada, e chegou a batizá-lo de “supersérie” –o nome, pelo jeito, não pegou.

O Globoplay irá disponibilizar 10 capítulos por semana, e ainda não há previsão de exibição na TV aberta. Quando houver, também deve haver cortes entre as 67 cenas de sexo (mais do que uma por episódio).

Aliás, a campanha de lançamento de “Verdades Secretas 2” vem insistindo que a novela é um fruto proibidíssimo, cheio de sequências quentes e polêmicas, para atiçar a curiosidade do público e convencê-lo a assinar a plataforma.

Erotismo também não deve faltar em “Dona Beija”, cuja primeira versão foi exibida pela extinta TV Manchete em 1986. A produtora Floresta comprou os direitos do texto original e, depois de adaptá-lo, pretende gravá-lo com Grazi Massafera no papel principal (o contrato da atriz com a Globo termina no final deste mês). Ainda não foi confirmada a plataforma, mas o mercado aposta na Netflix.

Esses dois projetos têm muito em comum. Além das já citadas cenas eróticas, ambos dão nova embalagem a produtos já conhecidos. A duração mais enxuta é mais adequada para o ambiente do streaming, e a presença de caras famosas traz familiaridade para o espectador.

Mesmo assim, o sucesso ainda é uma incógnita. Novela é um hábito arraigado. Vamos mudar nossa maneira de consumi-las? Ou elas é que mudarão, para se adequar aos novos tempos? Mais importante: a garotada que hoje só quer saber de séries irá se interessar por esse gênero, que elas identificam com as gerações mais velhas? Como se vê, gancho é o que não falta.