Comunicado lamentável da RedeTV! sobre Sikêra Jr. não convence ninguém
Emissora se diz a favor da diversidade, mas não irá punir apresentador
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Um email enviado pela assessoria de imprensa da RedeTV! chegou à caixa-postal de diversos jornalistas na noite desta terça (30), pouco depois das 20 horas.
O conteúdo foi prontamente divulgado aqui no F5: abalada pelo escândalo causado pelas declarações de Sikêra Jr. no programa Alerta Nacional de sexta (25), a emissora diz que "reprova veementemente todos os tipos de discriminação e preconceito" e que "vem a público manifestar condenação a qualquer expressão de homofobia".
"Veementemente"? Nem tanto. No parágrafo seguinte, o texto afirma que o apresentador "desculpou-se publicamente durante o programa da última terça-feira, reconhecendo o equívoco de suas declarações perante a todos que se sentiram justificadamente ofendidos e a todos os seus telespectadores, o que certamente servirá para o seu aprimoramento pessoal e profissional".
Ou seja: ele já pediu desculpas, então está desculpado. Nenhuma sanção será aplicada, nenhuma providência será tomada. A Rede TV! não é uma empresa homofóbica, mas, se algum de seus funcionários quiser ser, então tudo bem.
Além de flagrantemente hipócrita, o comunicado também é risível. Alguém acredita mesmo que Sikêra Jr. seja capaz de se aprimorar pessoal e profissionalmente?
A emissora sabia muito bem quem ele era quando o contratou. José Siqueira Barros Júnior já era um sucesso de audiência em Manaus com o programa policialesco e sensacionalista Alerta Amazônia, no ar até hoje, quando a RedeTV! o convidou para comandar uma atração de alcance nacional, a partir de janeiro de 2020.
Sikêra Jr. logo se notabilizou em todo o país por suas tiradas machistas, homofóbicas e contra os "maconheiros". Também já deu palanque ao senador Flávio Bolsonaro (RJ), o filho do presidente envolvido no esquema das rachadinhas, e atacou a imprensa inúmeras vezes.
Portanto, não adianta nada a RedeTV! declarar que tal comportamento "não representa, de forma alguma, o posicionamento e o respeito da emissora à diversidade e população LGBTQIA+". Sikêra Jr. não se revelou homofóbico apenas na sexta passada.
Como se não bastasse, o comunicado ainda chegou tarde, cinco longos dias após o escândalo explodir nas redes sociais. Nesse meio tempo, o perfil Sleeping Giants BR no Twitter, que combate fake news e discursos de ódio, iniciou a campanha #DesmonetizaSikêra, pressionando empresas a deixar de anunciar no programa Alerta Nacional ou no canal do apresentador no YouTube.
Está dando certo. TIM, HapVida, Magazine Luiza, Casa Bahia, Ford e Nívea já avisaram que não irão patrocinar mais nada que tenha a ver com Sikêra Jr.. O apresentador se tornou uma figura radioativa, e um problema grave para a RedeTV!, tanto para as finanças como para a imagem do canal.
Fosse uma emissora séria num país sério, Sikêra Jr. já teria sido demitido. Como estamos no Brasil, poderíamos sonhar com pelo menos uma suspensão do programa Alerta Nacional por alguns dias, uma multa ao apresentador ou mesmo um pedido de desculpas mais sincero.
Ele reiterou que continua sendo contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo, que há dez anos já é legalizado no Brasil. Quem nega a cidadania plena aos homossexuais incorre no crime de homofobia.
Só que Sikêra Jr. também é um defensor ardente da família Bolsonaro e suas políticas destrutivas —se não por ideologia, por interesse financeiro. O apresentador recebeu R$ 120 mil da Secom (Secretaria Especial de Comunicação Social) para defender a cloroquina e o imaginário "tratamento precoce", que não têm eficácia no combate à Covid-19.
E a RedeTV! tem todo o interesse em agradar ao governo Bolsonaro, pois está de olho nas verbas da propaganda estatal. Com a debandada de tantos anunciantes, talvez sejam as únicas que lhe restem.