Tony Goes
Descrição de chapéu jornalismo

Campanha lançada por William Bonner no JN divide opiniões na internet

Internautas especulavam que o jornalista anunciaria a sua aposentadoria

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"Hoje vai ter um momento especial no JN", disse William Bonner em um vídeo postado nas redes sociais nesta quinta-feira (10). "Eu sei o que é. Mas vocês não sabem."

Foi o bastante para que a blogosfera se assanhasse. Será que o editor-chefe e apresentador do Jornal Nacional (Globo) iria anunciar sua aposentadoria? Bonner tem apenas 57 anos de idade, mas não é de hoje que se fala em seus prováveis sucessores na bancada do mais importante telejornal do país.

A surpresa finalmente chegou, no final da edição do JN desta quinta. Foi o lançamento da campanha institucional "Fatos e Pessoas", que divulgará mensagens pessoais de jornalistas do Grupo Globo para membros de suas famílias. A ideia é mostrar que esses profissionais são tão humanos quanto qualquer um de nós, submetidos às mesmas pressões que atingem a todos.

A primeira reação dos internautas foi de frustração. "Só isso?", perguntaram alguns, que assistiram ao noticiário na esperança de um evento cataclísmico. Pouco depois, a campanha em si foi alvo de críticas e elogios, mostrando que até nisso estamos divididos.

Houve quem se emocionasse para valer. A voz embargada de Renata Vasconcellos, que quase irrompeu em lágrimas ao final do noticiário, mostrou que a iniciativa está mesmo sendo levada muito a sério nas Redações da Globo.

E houve quem se incomodasse. "Jornalista não é notícia. Notícia é notícia", tuitou um repórter deste jornal. Todos têm razão.

Num mundo ideal, jornalistas seriam apenas o fio condutor entre os fatos e os leitores ou espectadores. A rigorosa apuração da notícia não se misturaria a traços pessoais, aparências, idiossincrasias.

Na prática, não é assim que acontece. Todos temos nossos repórteres e colunistas favoritos, na TV ou nos jornais. Alguns deles expõem um pouco de suas intimidades nas redes sociais, e arrastam milhões de seguidores.

Isto é bom? Em certa medida, não, pois jornalismo e entretenimento são coisas distintas. Mas somos humanos. Queremos saber detalhes da vida daquele apresentador simpático. O mundo moderno, com suas infinitas janelas virtuais, bate tudo num grande liquidificador, transformando a todos em celebridades.

Este mesmo mundo põe em xeque, o tempo todo, a credibilidade da imprensa profissional. É saudável que surjam inúmeros sites noticiosos de todas as tendências, oferecendo ângulos diversos e opiniões inusitadas sobre a realidade. Mas é terrível que proliferem as fake news, veiculadas de maneira criminosa por toda a internet.

Conheço gente com nível superior que rejeita os jornais, quaisquer jornais, mas acredita piamente num vídeo apócrifo e mal editado que recebeu pelo WhatsApp. É para estas pessoas, que julgam que toda a mídia está nas mãos de poucos e que os anônimos dos aplicativos é que trazem a verdade, que se destina a campanha da Globo.

"Fatos e Pessoas" quer humanizar o que é visto por alguns como uma máquina impessoal. Quer mostrar que aquele profissional que é xingado nas redes também tem pais, filhos, carne, osso. Não chega a ser novidade, mas desvendar os bastidores do jornalismo ajuda a desmistificar a profissão.

Vai dar certo? Não sei. O Brasil de 2021 não para de surpreender negativamente, e o fundo do buraco não chega nunca. Mas qualquer iniciativa para reverter a maré de horrores é válida. Pelo menos, alguém está reagindo.