Curta e longa ao mesmo tempo: o curioso destino da novela 'Amor de Mãe'
Interrompida em março, trama de Manuela Dias só deve voltar ao ar em 2021
Já é assinante? Faça seu login
Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:
Oferta Exclusiva
6 meses por R$ 1,90/mês
SOMENTE ESSA SEMANA
ASSINE A FOLHACancele quando quiser
Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.
Nos primórdios da televisão brasileira, eram comuns as novelas intermináveis. "Redenção", da extinta TV Excelsior, ficou dois anos no ar, entre 1966 e 1968. Essa marca foi batida recentemente pela "primeira temporada" de "As Aventuras de Poliana", mas a atração infantil do SBT foi um ponto fora da curva. Na Globo e na Record, uma novela costuma durar seis ou sete meses.
A não ser, é claro, que ela vá mal de audiência. Como foi o caso de "Em Família" (2014), de Manoel Carlos, ou "Babilônia" (2015), de Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes Braga, ambas da faixa das 21 horas da Globo. As duas foram encurtadas, permanecendo pouco mais de cinco meses no ar.
Já "Amor de Mãe", título que marca a estreia de Manuela Dias como autora principal, terá, ao todo, menos de cinco meses de conteúdo inédito. Ao mesmo tempo, entre a data de sua estreia –25 de novembro de 2019– e seu término, em algum momento do primeiro semestre de 2021, terá se passado mais de um ano.
Este destino bizarro se deve, é claro, à pandemia do novo coronavírus. Como aconteceu com toda a produção da teledramaturgia nacional, o folhetim teve suas gravações suspensas abruptamente em meados de março, quando o novo coronavírus começou a fazer vítimas no Brasil.
Por sorte, a trama conseguiu ser interrompida com um gancho forte: o atropelamento de Rita (Mariana Nunes) por Thelma (Adriana Esteves). A mãe biológica de Camila (Jéssica Ellen) foi morta pela mãe adotiva de Danilo (Chay Suede), que na verdade é Domênico, cuja mãe biológica é Lourdes (Regina Casé). Entendeu?
Essa relativa confusão pode ser uma das explicações para o fato de "Amor de Mãe" não ter se transformado em um estouro de audiência. A novela foi elogiadíssima pela qualidade dos diálogos, pelo desempenho do elenco e pela direção primorosa de José Villamarim, a ponto de adquirir ares de obra-prima quando comparada às suas antecessoras "A Dona do Pedaço", de Walcyr Carrasco, e "O Sétimo Guardião", de Aguinaldo Silva, esculhambadas pela crítica. Mas seus números no Ibope, embora satisfatórios, nunca atingiram um patamar fenomenal.
Talvez atinjam quando a novela voltar. A curiosidade em torno do desfecho aumentou durante a quarentena, e estamos todos enjoados de tantas reprises. Além do mais, a reta final de "Amor de Mãe" promete ser bombástica: serão apenas 23 capítulos. Tudo será resolvido em apenas quatro semanas, ao invés das 12 inicialmente previstas.
Este encolhimento da trama não vem sem polêmicas. Circulam notícias de que alguns dos atores principais, como Taís Araújo, Murilo Benício e Vladimir Brichta, estariam insatisfeitos com o pouco tempo que terão para concluir a trajetória de seus personagens. A Globo decidiu focar na trama principal –a busca de Lourdes por seu filho Domênico– em detrimento de todas as outras histórias paralelas.
Outra razão para o encurtamento é financeira. Atores como Irandhir Santos e Humberto Carrão são contratados por obra certa, e estão recebendo há meses sem trabalhar. A Globo precisou estender esses vínculos, mas pelo menor tempo possível.
E ainda há o coronavírus, que não poupou o elenco. Jéssica Ellen teve Covid-19, e felizmente já está curada. Mas a ameaça da doença fará com que as gravações, marcadas para recomeçar no dia 10 de agosto, se desenrolem em ritmo lentíssimo, cercadas de cuidados.
Todas essas complicações fizeram com que a estreia de Manuela Dias no espaço mais nobre da TV brasileira fosse algo sui generis. Depois de mais de uma década como colaboradora em séries e novelas da casa, a autora viu sua carreira deslanchar com as minisséries "Ligações Perigosas" e "Justiça", ambas exibidas em 2016.
O sucesso (especialmente dessa última) foi tão grande, que ela se viu catapultada para a faixa das 21 horas –algo que Duca Rachid e Thelma Guedes, com quem trabalhou em "Cordel Encantado" (2011) e "Joia Rara" (2013-2014), ainda não conseguiram.
"Amor de Mãe" deveria ter estreado em maio de 2019, logo após "O Sétimo Guardião". Por ordens de Silvio de Abreu, a novela perdeu seu lugar na fila e foi substituída por "A Dona do Pedaço". Lançada no final do ano –um período ingrato, por causa dos feriados– ainda teve que enfrentar a pandemia, que será incorporada ao texto dos últimos capítulos.
Entrará para a história como uma das mais curtas novelas do horário, e também uma das mais longas. Um paradoxo digno dos melhores folhetins.