Falta de anfitrião dá agilidade ao Oscar, mas também tira personalidade
Pelo segundo ano seguido, entrega do prêmio não teve apresentador principal
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“Por que os Oscars não têm mais um mestre de cerimônias?”, perguntou Steve Martin a Chris Rock. A resposta foi certeira: “Twitter”.
Os dois comediantes fizeram o discurso de abertura da 92ª cerimônia de entrega do Oscar, que aconteceu em Los Angeles neste domingo (9). Ambos já haviam sido os anfitriões oficiais em edições passadas do prêmio –portanto, foram “rebaixados”, segundo eles mesmos.
Piadas à parte, foi mesmo o Twitter o maior responsável pela extinção do posto de anfitrião. O comediante escalado para a função no ano passado, Kevin Hart, foi “desconvidado” depois que vieram à tona antigos tuítes seus, carregados de homofobia.
Os organizadores do show, então, tomaram uma decisão ousada: não chamaram ninguém para o lugar de Hart, rompendo uma tradição de décadas. Uma sucessão de astros famosos apresentou os diversos prêmios, e a solução foi elogiada pela crítica. O público também gostou: depois de anos de quedas contínuas, a audiência do Oscar de 2019 deu uma ligeira subida.
A fórmula –ou ausência dela– foi repetida em 2020. O resultado foi um programa ágil, quase sem “barriga”. Ajudou muito o fato de os nove filmes indicados ao prêmio principal não terem apresentações individuais, como em anos anteriores, o que funcionava como um breque de mão no ritmo da cerimônia.
Em compensação, a falta de um anfitrião “costurando” a noite aumentou ainda mais a sensação de incoerência. O Oscar 2020 não teve uma cara: teve várias, nem sempre harmoniosas entre si. Pareceu uma sequência de momentos aleatórios ao invés de um espetáculo cuidadosamente planejado por meses a fio.
Nada foi mais estranho do que o número de Eminem. Na cerimônia de 2002, o rapper não se apresentou, nem foi buscar sua estatueta de melhor canção por “Lose Yourself”, do filme “8 Mile: Rua das Ilusões”. Os produtores acharam que seria uma boa ideia trazê-lo ao palco, 17 anos depois. A plateia vibrou, mas será que a garotada de hoje sabe quem é o cara? Billie Eilish, a queridinha do momento, tinha um ano de idade quando Eminem ganhou seu Oscar.
A própria Billie não se saiu muito bem. Sua interpretação de “Yesterday”, dos Beatles, tornou lúgubre um momento que já é solene por natureza: o segmento “In Memoriam”, que homenageia artistas e técnicos mortos no ano que passou.
As melhores performances musicais foram as de Janelle Monaé e Billy Porter, no politicamente corretíssimo número de abertura, e a do veterano Elton John, que defendeu com brio a canção vencedora da categoria, “I’m Gonna Love Me Again”, de sua cinebiografia, “Rocketman”. Pena que não dividiu os microfones com Taron Egerton, seu intérprete no filme, com quem ele faz dueto na gravação.
Já os discursos trouxeram uma novidade: os vencedores que se excederam em seus agradecimentos não foram enxotados do palco pela orquestra, como em anos anteriores. Só o pessoal de “Parasita”, que subiu em peso quando o filme sul-coreano teve uma vitória surpreendente na categoria principal, recebeu um apagar de luzes quando seus discursos se estenderam. Mas aí a plateia VIP reagiu e, aos gritos, conseguiu que as luzes se acendessem de novo.
No momento em que escrevo esta coluna, ainda não foram divulgados os números da audiência da cerimônia de 2020 nos Estados Unidos. Se forem bons, é quase certo que a festa de 2021 tampouco terá um anfitrião.
Mas eu gostaria que ele voltasse, e já tenho até uma sugestão: Maya Rudolph e/ou Kristen Wiig, que foram engraçadíssimas apresentando os prêmios para melhor direção de arte e melhor figurino.