Tony Goes

Por que Carlos Bolsonaro publicou fotos de Thammy Miranda e seu bebê?

Atitude do vereador gera reações nas redes sociais, e ainda não foi esclarecida

O vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) - Caio César-4.abr.2017/CMRJ

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Um casal tradicional, formado por um homem e uma mulher, não pode ter filhos pela maneira convencional. Recorre, então, à inseminação artificial. Escolhe um doador com características físicas semelhantes às do marido e, nove meses depois, nasce um bebê lindo e saudável.

Essa é uma história banal, que se repete todos os dias. Mas virou manchete na semana passada por causa da colisão entre dois personagens que sequer se conhecem pessoalmente: Thammy Miranda e Carlos Bolsonaro.

Thammy, como todo mundo sabe, é um homem transexual. Ele ainda mantém o nome feminino que lhe foi dado por sua mãe, a cantora Gretchen, e com o qual ficou conhecido por papéis como o da investigadora Jô, na novela “Salve Jorge” (Globo).

Foi logo depois da novela que Thammy, então lésbica assumida, começou o processo de transição. Retirou os seios, cortou os cabelos, tomou hormônios masculinos. E se casou com Andressa Ferreira.

As redes sociais não demoraram a perceber a semelhança entre o novo visual de Thammy e o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), o filho Zero Dois do presidente da República. Alvo de fofocas quanto à sua misteriosa vida pessoal, Carlos foi zoado sem dó por internautas preconceituosos, que acham que a transexualidade é um defeito moral.

Antes muito presente no Twitter, Carluxo (seu apelido na família) afastou-se da web no final de 2019. Depois de um curto período de silêncio, ele já voltou a se manifestar, mas evitando polêmicas que possam abalar o governo do pai.

Por alguma razão, Zero Dois achou que seria engraçado postar em seu perfil fotos de Thammy, Andressa e o recém-nascido, Bento, sem legenda nenhuma. Não precisava: seus seguidores, que parecem acreditar em idiotices como a chamada “ideologia de gênero”, despejaram milhares de comentários atacando a família de Thammy.

 

Pegou mal, claro. A própria Gretchen, que não tem papas na língua e sabe muito bem usar a internet a seu favor, irrompeu na timeline do vereador, cobrando explicações e ameaçando processá-lo.

Mas a defesa mais surpreendente veio da ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves. Conhecida por suas posições conservadoras (para não dizer retrógradas), Damares condenou os ataques ao bebê, pedindo respeito a ele. Poderia também ter pedido respeito a toda a família de Bento, mas não o fez. E não perdeu a oportunidade de comemorar que, em uma das fotos retuitada por Carlos, Thammy veste azul e Andressa veste rosa.

Este episódio é só mais uma das bizarrices que o Brasil vem enfrentando ultimamente, e será esquecido em poucos dias. Mas também é um sintoma da nossa própria ignorância. Ainda não aprendemos a encarar os homens trans como apenas homens, ponto. Também estamos transacionando.

O imbróglio revela também, mais uma vez, as contradições do atual governo, que se pretende liberal na economia e conservador nos costumes. Em termos políticos, ser liberal significa ser a favor da pouca intromissão do Estado na vida das pessoas, e isso vale para tudo. Ou deveria valer.

O que sobra é uma certa dó de Carlos Bolsonaro. Volta e meia ele emite sinais oblíquos de que é uma pessoa conturbada, com dificuldades para se expressar direito. Tá tudo bem, Carluxo?