Tony Goes

A liberdade de expressão está virando um valor negociável, diz Julia Stockler

Atriz está na série Jungle Pilot, na novela Éramos Seis e no filme A Vida Invisível

Carol Duarte e Julia Stockler em cena de 'A Vida Invisível', de Karim Aïnouz - Divulgação

Depois de 15 anos de carreira, Julia Stockler finalmente se tornou uma atriz requisitada. A carioca de 31 anos está em três projetos de grande visibilidade, que estão sendo lançados ao longo de um mês e meio.

O primeiro a sair foi a série “Jungle Pilot”, que estreou em 15 de setembro no canal pago Universal TV. O epicentro da trama é uma pequena empresa de táxi aéreo da Amazônia. “Jungle Pilot” foi escrita por Carol Garcia, Davi Kolb e Pedro Perazzo, com redação final de Bianca Lenti, e dirigida por Belisario Franca e Marcia Faria. Quase todas as externas foram feitas na região de Manacapuru, a cerca de 120 km de Manaus.

Mas Julia não chegou a viajar para gravar suas cenas, realizadas no Rio de Janeiro. Ela faz Larissa, a filha adolescente do piloto Maciel (Álamo Facó). Logo no primeiro episódio, um avião pilotado por ele cai no meio da floresta, com uma sacola recheada de dinheiro. A bolada se torna objeto de disputa entre Larissa, seu tio Julio (Démick Lopes) e uma gangue de narcotraficantes.

“Nós demos sorte”, conta Julia por telefone, com uma ponta de ironia. “Quando rodamos 'Jungle Pilot' em outubro do ano passado, a Amazônia não estava nas manchetes do mundo inteiro. Estreamos no momento certo”.

O papel de Larissa exigiu muito esforço físico da atriz, que tem várias cenas de ação. O oposto do que pede seu personagem em “Éramos Seis”, que estreou na Globo, na faixa das 18 horas, no dia 30 de setembro.

Justina aparece rapidamente no livro de Maria José Dupré, mas ganhou uma nova dimensão nesta quarta adaptação televisiva da obra. “Ela sofre de um distúrbio no espectro do autismo, que a medicina do começo do século passado não tinha condições de diagnosticar”, conta Julia.


A atriz preferiu não ler o romance, assim como não leu “A Vida Invisível de Eurídice Gusmão”, de Martha Batalha. Ou melhor: foi proibida de lê-lo pelo diretor Karim Aïnouz, que o adaptou para seu filme “A Vida Invisível”.

O longa entrou em cartaz no Nordeste no dia 19 de setembro e no resto do país em 30 de outubro, e foi selecionado pelo Brasil para disputar uma indicação ao próximo Oscar de filme internacional. Nesta sexta (18), será exibido em uma sessão de gala no Theatro Municipal de São Paulo, dentro da programação da Mostra Internacional de Cinema.

“O roteiro do Karim é bem diferente do livro”, explica Julia. E acrescenta que o set de Aïnouz é fortemente controlado: não são permitidos telefones celulares, e os atores, além de sempre serem chamados pelos nomes de seus personagens, não podem falar com os demais integrantes da equipe. Nem mesmo com os profissionais com quem têm contato direto, como maquiadores e figurinistas.

“Foi, de longe, meu trabalho mais difícil até hoje”, diz Julia, que faz Guida, a irmã de Eurídice (Carol Duarte). As duas atrizes até se parecem fisicamente, mas não se conheciam. Precisaram de uma preparação intensa para convencer como duas irmãs muito próximas, separadas pela moral tacanha do pai.

Em setembro passado, Julia Stockler esteve em cartaz na Casa de Cultura Laura Alvim, no Rio de Janeiro, com a peça “Gravidades”, escrita e interpretada por ela e Laura de Araújo. O espetáculo é uma homenagem a uma amiga comum, a atriz Flora Diegues, que morreu em junho.

Mesmo com tantos trabalhos, ela teme pelo futuro da arte no Brasil. “Estamos atravessando um momento delicado”, diz Julia, referindo-se aos cortes na área da cultura e às ameaças de volta da censura. “A liberdade de expressão está virando um valor negociável, e não podemos aceitar isto.”