Saída do armário de Ludmilla é importante para a cultura brasileira
Cantora revelou namoro com bailarina e recebeu apoio nas redes sociais
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A música popular brasileira tem uma longa tradição de cantoras que gostam de mulher. Desde, pelo menos, os anos 1970, circulam boatos de que grandes estrelas femininas estariam namorando suas empresárias, atrizes da Globo ou mesmo algumas fãs mais exaltadas.
Na década seguinte, nomes como Marina Lima ou Ângela Ro Ro passaram a não fazer mais segredo de suas vidas amorosas. Já neste século, vimos Cássia Eller, Ana Carolina e Daniela Mercury assumirem envolvimentos homossexuais, sem que isto decretasse o fim de suas carreiras.
Mas o caso de Ludmilla é diferente. Algumas de suas predecessoras eram cantoras de nicho, conhecidas apenas por um segmento do público. Outras já haviam passado do auge do sucesso quando saíram do armário. Ludmilla, que revelou esta semana estar namorando a bailarina Brunna Gonçalves, é uma artista de primeira grandeza no atual cenário brasileiro, com enorme apelo popular.
“Ah, mas ela só quer se promover”, dirão os homofóbicos enrustidos. Pode ser, mas qual o problema disso? Ludmilla está lançando um projeto ambicioso, o álbum e DVD ao vivo “Hello Mundo”, e precisa de toda mídia que for possível.
Além do mais, nestes tempos de obscurantismo, não é sensacional que a revelação de um caso homossexual possa impulsionar a carreira de um artista? Eu quero morar num país assim.
Ludmilla não chegou a causar grande surpresa com a novidade, pois já havia se proclamado bissexual há alguns anos. Tampouco a internet reagiu com horror: pelo contrário, as manifestações de apoio (e até de inveja) invadiram os perfis da cantora e de sua namorada nas redes sociais.
Claro que nem tudo são flores. Há quem não esqueça o fato de Ludmilla ter curtido uma postagem de Jair Bolsonaro no final do ano passado, apesar de ela já ter esclarecido que foi por engano. Também existe quem não perdoe a suposta isenção da artista durante as eleições presidenciais, quando ela não apoiou explicitamente a campanha do #EleNão.
Essas críticas são exemplos do que os americanos chamam de “whataboutism” (“mas-e-aquilo-ismo”, em uma tradução bem capenga): a exigência absurda de que uma figura pública apresente uma ficha totalmente limpa e coerente, e a lembrança de episódios aleatórios do passado que, teoricamente, enfraquecem o significado do que está se passando agora.
Pois o significado da revelação de Ludmilla é poderoso. A cantora, que nunca teve papas na língua, demonstra mais uma vez que é dona de seu próprio nariz e que não depende do patriarcado para nada.
É justamente disso que os falsos machões sentem medo. De ficarem obsoletos e serem dispensados, sem a menor cerimônia.
Quando uma mulher negra de origem humilde se empodera ao ponto de assumir tranquilamente um namoro lésbico, é um sinal de que o Brasil está mesmo mudando. Quer os reacionários queiram, quer não.