Tony Goes

Último capítulo de 'O Sétimo Guardião' foi chocho e mal executado

Novela de Aguinaldo Silva conseguiu uma rara unanimidade: ninguém gostou

Gabriel (Bruno Gagliasso) dá de cara com Luz (Marina Ruy Barbosa) tentando entrar em caverna desconhecida - Globo
São Paulo

A sequência de abertura do episódio final de “O Sétimo Guardião” prometia uma certa tensão. Olavo (Tony Ramos) e seus capangas tentaram conquistar à bala o casarão que escondia a fonte de águas milagrosas. Gabriel (Bruno Gagliasso) e sua turma resolveram reagir, também à bala.

O que seguiu foi o tiroteio mais capenga da história da TV brasileira. Os atores nem fingiram que tentavam se proteger das supostas balas. O espectador também não precisou dar a mínima.

Duas mortes que poderiam ter algum impacto foram jogadas na lata do lixo. Valentina (Lília Cabral) alvejou Olavo, que morreu resmungando “que merda” – uma referência ao texto e à direção?

Laura (Yanna “Cigana Igor” Lavigne), ao ver o pai morto, chorou, gritou e se desesperou, sem verter nem sombra de lágrima. Na cena seguinte, com os olhos devidamente molhados por algum maquiador, a moça atirou em Luz (Marina Ruy Barbosa) e atingiu Gabriel. 



A divulgação da Globo dizia que o herói se sacrificaria para proteger a mocinha. Não foi o que se viu na tela: o sétimo guardião morreu por acaso, de um tiro mal dado. Um resumo do que foi a novela.

Depois de meses se arrastando no horário nobre, “O Sétimo Guardião” tentou chutar o pau da barraca. O nome da assassina que estava eliminando os guardiães da fonte foi revelado com dias de antecedência pela imprensa – era Judith (Isabela Garcia, uma das poucas coisas boas da novela) – e ninguém ligou. O destino trágico de Bruno também vazou, e ninguém sequer piscou.

Tamanha indiferença contaminou toda a equipe, a começar pelo próprio autor. O último capítulo parece ter sido escrito com o pé. Valentina se despediu de Marcos Paulo (Nany People, outro ponto luminoso na escuridão) duas vezes, em duas cenas consecutivas e idênticas. Direção e elenco tampouco se esforçaram. Todo mundo queria acabar logo e partir para outra.

Foi uma pena, e também um desperdício. “O Sétimo Guardião” talvez tivesse rendido uma boa minissérie, como aquela que Aguinaldo Silva anda dizendo por aí que está louco para fazer. Mas, prejudicada por controvérsias desde sua concepção e crivada de problemas nos bastidores, a novela parece ter nascido amaldiçoada. Nem um banho em sua própria fonte mágica teria adiantado.

O fracasso pode ter sido um ponto fora da curva, mas também mais um passo no tão comentado declínio da “novela das nove”, o mais relevante produto cultural brasileiro das últimas cinco décadas. A missão de reverter o quadro sobrou para Walcyr Carrasco, cuja “A Dona do Pedaço” estreia na próxima segunda (20). Popularesco e até apelativo, o autor é a solução mais óbvia para quase toda crise da Globo.

“O Sétimo Guardião” bem que tentou inovar, trazendo elementos do cinema de horror para uma faixa horária onde reina a pasmaceira. Também quis voltar no tempo, propondo um novelão à moda antiga, cheio de autocitações à obra pregressa de Aguinaldo. Nada funcionou. Já vai tarde.