Será que novela 'Órfãos da Terra' deveria mesmo passar na faixa das 18h?
Produção da Globo impressiona pelo tema e pela produção
Uma animada festa de aniversário é interrompida pela chegada de guerrilheiros. Um deles está gravemente ferido. Os outros falam para os convidados fugirem. Tarde demais: uma bomba atinge a casa, e vai tudo pelos ares.
O primeiro bloco de “Órfãos da Terra” foi muito mais impactante do que o de qualquer uma de suas antecessoras na faixa das 18h da Globo, conhecida pelas tramas açucaradas.
Nas redes sociais, os internautas se derramaram em elogios pela produção requintada, semelhante à dos melhores seriados americanos. Mas também levantaram uma questão pertinente: a novela não deveria estar sendo exibida num horário mais tardio?
De fato, é estranho ver tanta gente ferida na TV aberta quando ainda nem escureceu lá fora. Por outro lado, há a sensação de que “Órfãos da Terra” precisou ser suavizada para ser exibida tão cedo. A guerra civil na Síria e o drama dos refugiados, temas da trama de Thelma Guedes e Duca Rachid, renderiam cenas ainda mais fortes em faixas horárias mais tardias.
Quando submeteram a sinopse de “O Sal da Terra” à Globo, há cerca de dois anos, as autoras haviam passado por uma experiência traumática. “O Homem Errado”, que marcaria a estreia delas no horário nobre, foi cancelada quando a produção estava prestes a deslanchar. Em seu lugar, entrou “O Outro Lado do Paraíso”, de Walcyr Carrasco.
Concebida originalmente para as 18h, “O Sal da Terra” foi “promovida” a supersérie, para a faixa das 23, e teve seu nome alterado para “Filhos da Terra”. Só em agosto do ano passado que ganhou o título atual. A cúpula da emissora também decidiu que a faixa das 18h era, afinal de contas, o horário mais adequado para a trama.
De qualquer forma, a julgar pela ótima estreia, “Órfãos da Terra” é o que nenhuma outra produção atual da dramaturgia da Globo consegue ser: uma novela relevante, que vai além do mero escapismo e dialoga com problemas contemporâneos.
E tudo isto sem abrir mão dos elementos folhetinescos. O primeiro capítulo terminou com o encontro entre Jamil (Renato Góes) e Laila (Julia Dalavia), em um campo de refugiados em Beirute. O problema é que a moça está sendo cobiçada pelo cruel sheik Aziz (Herson Capri), patrão do rapaz.
“Dono” talvez não seja um termo mais adequado. Jamil chegou a ir para a cadeia para livrar Aziz de uma acusação de assassinato. Esse sacrifício absurdo talvez tivesse sido melhor explorado no horário nobre: às 18h, só vimos Jamil pouco antes de ser preso e, depois de uma elipse, já novamente em liberdade.
O esmero da direção de arte e dos efeitos especiais não foi refletido em todas as atuações. Alguns atores ainda estão “duros”, recitando seus textos de maneira artificial. E por que, no núcleo sírio, tem uns que falam com sotaque e outros não?
Mas tudo isto é detalhe, e facilmente sanável. O importante é que “Órfãos da Terra” chega no momento em que muitos brasileiros acham que o país está sendo invadido por imigrantes, pondo em risco nossos empregos e até mesmo nossa cultura. Nada como uma boa novela para dar um close no drama dos refugiados e mostrar que não é nada disso.
Mesmo assim, acho que “Órfãos da Terra” seria ainda melhor se fosse exibida mais tarde.