Marasmo do BBB 19 escancara o desgaste do formato
Programa não mobiliza mais nem a audiência, nem os próprios jogadores
O Big Brother estreou no Brasil de maneira enviesada, em 2001, no SBT. Casa dos Artistas nada mais era do que uma versão com celebridades do reality show que vinha causando furor mundo afora, e que Silvio Santos quase produziu por aqui em parceria com a Endemol. No último momento, SS dispensou os holandeses e exibiu uma variante do formato, o que lhe rendeu um processo na Justiça – mas também a maior audiência alcançada até hoje por sua emissora.
De fato, os brasileiros nunca haviam visto nada parecido. Um grupo de pessoas trancafiado em uma casa durante meses, agindo como se as câmeras não estivessem ali. É curioso pensar que a primeira “Casa dos Artistas” não tinha prova do líder, do anjo, de resistência, nadica de nada: só um bando de famosos (ou nem tanto) falando bobagem. O sucesso foi estrondoso.
Meses depois, a Globo finalmente estreou o Big Brother Brasil, no começo de 2002. O formato ainda estava fresco e o Ibope foi consagrador, tanto que houve duas edições do reality naquele ano. A partir de 2003, apenas uma, sempre no primeiro trimestre. A audiência foi caindo aos poucos, como era de se esperar, mas ainda se mantém em um nível atraente (e os custos relativamente baixos do programa mais do que justificam sua sobrevivência).
A ingenuidade dos primeiros participantes foi dando lugar ao cinismo e ao profissionalismo. Nos primeiros anos, muitos dos concorrentes queriam mesmo era engatar carreira como ator ou apresentador – uns poucos conseguiram, como Sabrina Sato ou Grazi Massafera.
Naquela época pré-redes sociais, a saída para manter a fama era posar nu para uma revista (que quase não existem mais) ou fazer presença VIP em eventos cada vez mais insignificantes.
No final da década, começaram a chegar ao BBB jogadores que estavam lá para isso mesmo: jogar. Gente que assistia ao programa desde o início, conhecia todas as regras e pegadinhas, sabia como conquistar a simpatia do público. Engatar um romance logo nos primeiros dias de confinamento virou uma tática frequente. Fingir-se de morto (os populares “samambaias”) também.
Agora chegamos ao ponto em que a maioria dos participantes nem está mais tão interessada no prêmio final ou em seguir carreira no showbiz. Querem mesmo é ter milhões de seguidores no Instagram, o suficiente para atrair patrocinadores. Por isto, quase ninguém mais entra em polêmicas ou solta declarações comprometedoras.
E o resultado está aí: o BMB, ou Banho-Maria-Brasil. O reality show que já causou comoção na internet e até levantou temas relevantes como feminismo ou homofobia virou uma colônia de férias, onde todo mundo se abraça o tempo todo. Uma chatice sem fim.
A produção não sabe mais o que fazer para apimentar o jogo. Até acorrentou os candidatos uns aos outros, mas não adiantou. O BBB 19 já atingiu a irrelevância e caminha célere para o esquecimento.
Culpa dos produtores de elenco, que escolheram as pessoas erradas? Talvez. A tão sonhada batalha entre engajados e isentões nunca rolou. Mas não dá para negar que oBig Brother está na curva descendente de sua trajetória.
Há quase 20 anos no ar, o programa cansou. Conhecemos demais aquelas casas e aquelas regras. Os jogadores não têm mais a inocência de outrora, e o público anseia por novidades.
Sei que eu digo isso todo ano, mas nunca senti isto tão fortemente: parece que a era do Big Brother Brasil está mesmo chegando ao fim.