Tony Goes

Cerimônia dos Globos de Ouro foi morna e bem comportada

Discursos de agradecimento tiveram pouca política e muita emoção

Lady Gaga vence Globo de Ouro de melhor música com "Shallow" - Mario Anzuoni-6.jan.2018/Reuters

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A "maior festa de Hollywood" encolheu. Depois de alguns anos recheados de piadas grosseiras e discursos políticos contundentes, a cerimônia de entrega dos Globos de Ouro de 2019 foi muito mais recatada do que de costume.

No lugar de Ricky Gervais, que praticamente insultava a plateia, ou da dupla Tina Fey e Amy Poehler, que dava um tom gaiatamente feminista à premiação, os globos escalaram Andy Samberg e Sandra Oh como os anfitriões deste ano. Ele, um ótimo comediante, consagrado pela série “Brooklyn Nine-Nine”; ela, uma grande atriz dramática, mas que também possui um afiado timing cômico.

E, no entanto, os dois juntos resultaram em um banho de água morna. Foi até proposital: o discurso de abertura, quando alguns dos astros presentes são provocados sem dó, dessa vez só teve elogios. A suposta graça era o tom agressivo dos apresentadores.

"Gina Rodriguez! Você é... bonita". "Jeff Bridges! Eu queria que você... fosse o meu pai." O que era para ser irônico descambou para a mera rasgação de seda.

O contraste com as edições recentes do prêmio foi gritante. Em 2017, logo após a eleição de Donald Trump para a Presidência dos Estados Unidos, Meryl Streep fez um discurso libertário que entrou para a história. No ano passado, foi a vez de Oprah Winfrey inflamar meio mundo. Além disso, quase todas as atrizes usaram preto em 2018, em sinal de protesto aos abusos sexuais que grassam na indústria do entretenimento.

A cor voltou ao tapete vermelho em 2019, e o clima geral se tornou mais ameno. Talvez seja a falta de um grande escândalo envolvendo alguma celebridade nessa época. Ou vai ver que as pessoas estão simplesmente exaustas de tanta polarização. 

Nem mesmo o álcool, servido durante o jantar que antecede a cerimônia, ajudou a lubrificar os premiados. O único ator que pareceu estar ligeiramente embriagado foi Jeff Bridges, que aceitou o troféu Cecil B. De Mille por sua longa carreira no cinema. Mesmo assim, não cometeu nenhuma gafe: só esbanjou charme e simpatia.

Alguns discursos escaparam um pouco da monótona recitação de nomes. Christian Bale, que venceu como melhor ator de filme cômico por “Vice”,  agradeceu a Satã –segundo ele, uma inspiração para compor seu personagem, o ex-vice-presidente americano Dick Cheney.

O feminismo também deu as caras. Patricia Clarkson, melhor atriz coadjuvante em série ou minissérie de TV por “Objetos Cortantes”, disse que o diretor Jean-Marc Vallée exigiu tudo dela, "menos sexo –e é assim que deve ser". Regina King, melhor atriz coadjuvante de cinema por "Se a Rua Beale Falasse", prometeu que os filmes que produzirá daqui em diante terão equipes pelo menos 50% femininas.

O papel da mulher na sociedade foi destaque no discurso de Glenn Close, melhor atriz de filme dramático por "A Esposa". A veterana desbancou a favorita na categoria, Lady Gaga por "Nasce uma Estrela", e foi às lágrimas. Seu discurso de agradecimento foi aplaudido de pé (inclusive por Gaga) e pavimentou seu caminho rumo ao Oscar, que dessa vez não deve lhe escapar.

No final, a vitória de "Bohemian Rhapsody" como melhor longa dramático causou alguma controvérsia. O "filme do Queen" teve críticas ruins, apesar de estourar nas bilheterias do mundo inteiro. E ninguém se lembrou de mencionar o diretor Bryan Singer, afastado das filmagens antes do final e acusado de assédio sexual.

Mesmo assim, foi pouco para sacudir a modorra. Talvez estes Globos de Ouro só sejam lembrados no futuro por uma gracinha inesperada: a presença da "garota da água", a modelo Kelleth Cuthbert, no fundo das fotos de vários famosos no tapete vermelho. Nasce uma estrela?