Entre remakes, sequências e adaptações, por onde andam as obras originais?
Após o enésimo 'Alien' e uma versão sem brilho de 'Cem Anos de Solidão', é cada vez mais difícil encontrar obras realmente novas
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Nada se cria, tudo se copia. Essa máxima é cada vez mais verdadeira no cinema, no streaming ou na TV. A sensação é de que navegamos numa onda sem fim de remakes, sequências e adaptações.
Reservei o início do ano para dar uma olhada em "Cem Anos de Solidão", a aguardada série da Netflix, a adaptação finalmente autorizada do clássico do colombiano Gabriel García Márquez.
É uma série ruim? Não chega a tanto. Dá para valorizar a produção luxuosa? Bastante. Mas... a coisa toda parece só uma leitura ao pé da letra e pouco inspirada do livro do Gabo.
O realismo mágico da obra aparece sem o brilho e a magia que encantou gerações. A cada nova série, a lógica da Netflix fica mais clara: ostentar uma produção luxuosa, mas sem arriscar em nenhuma linha do roteiro para não desagradar os assinantes.
O problema é que criar algo a partir da premissa de agradar quem quer que seja nunca rendeu boa arte. Saudades de quando Coppola pegava um best-seller chamado "O Poderoso Chefão" e criava algo ousado em cima, sem copiar linha a linha o livro que lhe deu origem.
Também aproveitei os dias de descanso para ver "Alien: Romulus", o último filme da franquia "Alien", que pela primeira vez ganhou a direção de um latino-americano, o uruguaio Fede Alvarez. Como fanático da franquia, estava ansioso pelo novo episódio.
Trata-se de um mau filme? Tampouco. Mas parece que o único propósito de "Romulus" é ficar inventando novas situações dos aliens encurralando os humanos, uma mera sequência das caçadas que já vimos antes. Com uma diferença brutal: Sigourney Weaver, uma baita atriz, foi trocada pela sem sal da Cailee Spaeny, a mocinha de "Priscila".
Duro de engolir. Pelo menos, há um personagem bem interessante, o androide emocionado Andy, vivido com brilho pelo jovem britânico David Jonsson (da série "Industry"). Um pingo de originalidade num oceano de repetição.
Outro filme nos cinemas, "Nosferatu", é a enésima releitura do mito do conde vampiro. Os comentários no Letterbox passam longe do entusiasmo. Depois de "Drácula de Bram Stoker", a obra-prima que Copolla dirigiu nos anos 90, parece que nenhum filme de vampiro consegue chegar nem perto.
"O Auto da Compadecida 2" repete boa parte da história do primeiro, apenas trocando os personagens que rodeiam João Grilo e Chicó. O elenco inteiro está ótimo, Matheus Nachtergaele e Selton Mello retomam bem seus personagens, ninguém deixará de dar boas risadas... Mas a sequência não prima pela originalidade.
No mundo das novelas, a Globo está firme na intenção de produzir remakes para o horário nobre. A nova versão de "Renascer" não teve a mesma repercussão ou a audiência de "Pantanal", mas desde que foi anunciado o remake de "Vale Tudo", que estreia no final de março, não se fala em outra coisa.
Desde os anos 80, a Globo não via tanta expectativa em torno de uma novela meses antes de ela estrear. Com tamanho barulho, não sobra muito motivo para a emissora investir em histórias originais.
Talvez por um certo cansaço desse excesso de reciclagem, um filme como "Ainda Estou Aqui" tenha chegado ao público como uma bela surpresa –com o bônus de trazer de volta uma Fernanda Torres dramática após longos anos de comédia na TV.
E talvez pelo mesmo motivo, um filme como "Emília Perez", que vai estrear cercado de polêmicas, também tem impactado uma boa parte do público, goste-se ou não do resultado. Afinal, não é todo dia que se faz um musical ambientado no narcotráfico e tendo uma mulher trans como protagonista.