Thiago Stivaletti
Descrição de chapéu Filmes Televisão

Documentário retrata com afeto e delicadeza a demência de Maurício Kubrusly

Filme que abriu a Mostra de Cinema de Gostoso estreia no próximo dia 4 no Globoplay

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Maurício Kubrusly ao lado da mulher, Beatriz Goulart, em cena do documentário do Globoplay - Globo

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Se fizermos um levantamento das pessoas mais marcantes que já passaram pelo Fantástico, Maurício Kubrusly será um dos primeiros a serem lembrados. O carioca que adotou São Paulo foi um dos precursores na TV de um formato de matéria em que o repórter mergulha e interage com o cenário e com seus entrevistados, sempre atento ao detalhe mais curioso. Suas reportagens eram, antes de tudo, divertidas e deliciosas de se ver.

Numa reportagem da série que celebrou os 50 anos do Fantástico, no ano passado, ficamos sabendo que Kubrusly, hoje com 79 anos, sofre há algum tempo de demência frontotemporal, condição que provoca a perda de neurônios e da memória. Hoje, de todas as pessoas da sua vida, o jornalista só reconhece a mulher, a arquiteta e educadora Beatriz Goulart.

Foi a partir da repercussão dessa matéria que Beatriz decidiu contar a história do marido no documentário "Kubrusly - Mistério Sempre há de Pintar por Aí", que abriu a Mostra de Cinema de Gostoso, no litoral do Rio Grande do Norte. O filme estreia no dia 4 de dezembro no Globoplay.

MÚSICA E MEMÓRIA

Dirigido por Evelyn Kuriki, que trabalhou com Kubrusly por 15 anos no quadro "Me Leva, Brasil", do Fantástico, e por Caio Cavechini, diretor de documentários da Globo, o filme se constrói em dois tempos diferentes. O primeiro é o ritmo frenético de suas reportagens, desde a primeira que fez na Globo, em 1985, quando entrevistou Cacá Rosset e Rosi Campos na estreia da peça "Ubu Rei" em São Paulo.

O segundo é o tempo bem mais lento em que Kubrusly vive hoje. Às vezes um lampejo de memória surge, sempre estimulado pela companhia afetuosa de Beatriz, que traz leveza mesmo às situações mais delicadas. Um estímulo é mais forte do que qualquer outro: a música, paixão do repórter desde seus tempos de crítico e editor da revista "Som Três". Até hoje, Beatriz encontra bilhetes com minirresenhas dentro das centenas de CDs que ele colecionou ao longo da vida.

Um dos pontos altos do filme é o encontro de Kubrusly com artistas que ele louvou em seus textos e reportagens para a TV antes de se tornarem consagrados. Gilberto Gil o visita e canta para ele "Esotérico", de onde saiu o verso que dá nome ao filme. Curioso é que o filme não deixa de exibir um trecho do "Roda Viva", da TV Cultura, em que Kubrusly recrimina o baiano na TV por ter estrelado um comercial de calcinha. Pequenas rusgas à parte, o afeto entre os dois se revela no último encontro, evidente e transparente.

EX-CARIOCA

Outra visita afetuosa é de Wandi Doratiotto, integrante do grupo Premeditando o Breque, destaque da cena paulista de vanguarda nos anos 80, ao lado de Luiz Tatit e outros. Kubrusly foi um ardente defensor do movimento, parte da paixão que desenvolveu por São Paulo desde que se mudou para a cidade –tanto que ele abre uma das reportagens mostradas no filme dizendo: "Eu sou carioca. Quer dizer... eu era".

Se há um ponto fraco no documentário é o fato de aderir demais ao ritmo frenético das reportagens do Fantástico, exibindo trechos muito picotados de matérias que gostaríamos de ver ou rever com um pouco mais de calma. Na rapidez, fica mais difícil entender a dimensão do carisma de Kubrusly, que encontrava personagens únicos em todos os estados e regiões do Brasil, e deles tirava o melhor para levar ao espectador.

"Kubrusly - Mistério Sempre Há De Pintar Por Aí"
Estreia dia 4/12 no Globoplay