Linha Direta ainda nem voltou, mas já recebe críticas
Emissora não quer dar fama a criminosos, mas retoma programa com o midiático caso Eloá
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Há poucos dias, a Globo anunciou que não vai mais divulgar nome, fotos ou vídeos de autores de massacres. A medida foi tomada depois dos horríveis ataques a escolas ocorridos no Brasil e baseia-se em estudos que mostram que esses assassinos buscam exatamente isso: a fama e o reconhecimento que vêm pela exposição de seus crimes e suas identidades na mídia.
Uma prova desse desejo por notoriedade e enaltecimento de outros criminosos é que o garoto que atacou uma escola e matou uma professora adotava como nickname de uma rede social o nome do autor do Massacre de Suzano.
Por isso é difícil entender o motivo que fez a Globo ressuscitar o Linha Direta, que foi ao ar pela primeira vez em 1990, voltando em outras versões até ser extinto em 2007. É fato que o gênero "true crime" cresceu muito nesses últimos anos, em todas as áreas do audiovisual, principalmente em podcasts, movimentando um imenso mercado de novos lançamentos e que, talvez, a Globo queira atender a esse público.
Mas, se a ordem é não dar cartaz para esses desajustados que querem ser eternizados como ídolos, por que voltar com o programa justamente com o caso Eloá? Todos se lembra da jovem Eloá Cristina Pimentel, de apenas 15 anos, que foi sequestrada pelo ex-namorado Lindemberg Alves, mantida em cárcere privado junto com amiga Nayara Silva por mais de cem horas. A história terminou de forma desastrosa, com a morte de Eloá.
A própria Nayara, que sobreviveu ao sequestro, disse em 2012 durante o julgamento do caso, que, durante o cárcere, Lindemberg "dava risada e se vangloriava pela repercussão do caso na mídia" e que "na televisão só passava isso". Voltar com esse caso, então, não seria uma forma de reativar a fama desse criminoso?
Não sabemos exatamente como o novo Linha Direta, apresentado por Pedro Bial e com estreia marcada para 4 de maio, vai abordar esse crime. Mas a lembrança da sucessão de erros cometidos nesse sequestro e da interferência irresponsável de alguns profissionais de televisão, impactou muito o público, que tem se manifestado em suas redes sociais.
Os perfis @choquei e @forumplandlr, que publicaram no Twitter a notícia da nova temporada do Linha Direta, receberam milhões de comentários indignados, muitos mencionando a apresentadora Sônia Abrão que, à época, interferiu na operação e conversou por telefone com o sequestrador Lindemberg —atitude criticada tanto pela polícia quanto pela imprensa.
Particularmente, tenho muito interesse em ver o programa. Em outubro de 2008, quando o crime aconteceu, eu era apresentadora do Atualíssima na Band, ao lado de Leão Lobo, e acompanhei tudo ao vivo. Vivi todas essas cem horas de perto.
Vamos aguardar a estreia para saber como o caso vai ser tratado. E torcer para que a política da Globo de não glamorizar assassinos e nem influenciar outros jovens desequilibrados seja mantida —para o bem de todos nós, em tempos de tanta violência.