Anitta: Ativista ou oportunista?
Cantora escancarou preferência por Lula no 1º turno, mas ficou quietinha no 2º
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O Brasil de 2022 está dividido, rachado e em chamas. E qualquer pessoa que toque no assunto 'política' vai sofrer alguma consequência desse incêndio, seja com um leve cheiro de fumaça nas roupas ou com queimaduras de terceiro grau.
Ninguém escapa. Nem mesmo alguém do tamanho de Anitta. E, sem trocadilho, ela decidiu se "envolver" na eleição, do jeito dela. E esse jeito desandou em muita discussão nas redes sociais que, como tudo nesse ano, rachou.
Uma metade acha que Anitta foi oportunista, como é o caso do perfil @magaligna, que fez um fio comentando a atitude da artista. De fato, no mês de julho, ela fez foto de roupa vermelha numa barra de pole dance, estrela do PT, com o braço formando um "L" e escrito ULA ao lado, com o texto: "já assistiu tudo nosso hoje", referindo-se a seu single "Tudo Nosso". O tuíte gerou muito hype, milhares de likes, aplausos e matérias. E parecia ter deixado sua posição muito clara.
Anitta prometeu se engajar, responder, fazer tudo e depois, sumiu. Aparecia de vez em quando, ou para desautorizar o partido a usar sua imagem ou para escrever de forma dúbia, enigmática, meio que tirando o corpo fora. E, claro, o candidato ora derrotado, bem como seus filhos e apoiadores, capitalizaram esses tuítes de Anitta como se ela tivesse virado o voto. Ficou esquisito.
Em outra publicação, Anitta deu a entender que foi muito "pressionada" pelos fãs e, por isso, posicionou-se. Recebeu em troca muitas críticas e comentários repetidos com a frase "não é sobre você". Para muitos, Anitta foi sim, oportunista.
Mas nem todos concordam. No Brasil bipartido, o outro lado acha que Anitta cumpriu seu papel no primeiro turno, que seu ativismo foi corajoso e necessário e que ela incentivou muitos jovens a votar. Outros fãs fizeram observações pertinentes também: que Anitta merece respeito e que cobram dos artistas mais do que cobram dos políticos.
De certa forma, cada um tem sua razão. Mas, talvez, esteja num tuíte o grande equívoco da cantora. Anitta questiona por que as pesquisas de voto são permitidas pela lei, já que o voto é secreto.
Não sei em que aula da Gabriela Prioli a Anitta faltou, mas claramente ela não entendeu o significado de "secreto". O voto é sim, secreto, garantido pela lei. Isso quer dizer que você tem o direito de manter sua escolha secreta. Ninguém pode obrigar você a revelar em quem você votou. Mas como esse direito é SEU, você pode abrir sua preferência se quiser. Você pode contar, tanto é que milhões de pessoas publicam suas preferências, colam adesivos, empunham bandeiras, fazem campanha e respondem pesquisas de opinião.
O que talvez Anitta não tenha se dado conta é que apoiar um candidato numa eleição tão acirrada é um caminho sem volta. Não dá para imaginar que ela poste o nome, as cores, o símbolo de um candidato e depois vote em outro. Sim, a lei GARANTE, você pode mentir seu voto, mas não é o que se espera de ninguém.
Ao revelar sua preferência, Anitta correu o risco de perder fãs (e consumidores do seu trabalho) que discordam dela politicamente e, talvez por pressões de trabalho, tenha se posicionado inicialmente, depois resolveu ficar quieta e calou-se até o fim.
Claro que ela pode fazer o que quiser. Votar em quem quiser. Mas a vida é arriscada mesmo. Como disse Guimarães Rosa, "viver é mesmo muito perigoso". E isso não é lei dos homens, é a lei da vida. E dessa, não dá para fugir.