Rosana Hermann
Descrição de chapéu memes internet

TV aberta: De altar da família a brechó das redes

Quem nunca viu meme de Nazaré Tedesco ou da grávida de Taubaté?

Carolina Ferraz ('Eu Sou Rycaaaa'), Grávida de Taubaté e Nazaré Tedesco ('Senhora do Destino') - Globo/Folhapress

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Sabe a Adriana Ferrari? Que foi garota do Fantástico nos anos 90? Aquela atriz, que fazia a Linda Rosa na Escolinha do Barulho? Ah, tá, você nem sabe o que foi a Escolinha do Barulho; tudo bem, não julgo.

Mas você deve ter visto a Adriana em alguma de suas redes sociais, tentando quebrar um prato com o rosto do ex-presidente Lula, num quadro chamado Quebrando a Louça com a Cátia Fonseca. Adriana joga o prato três vezes, mas ele não quebra de jeito nenhum. O vídeo, publicado pelo @lucasrohan no Twitter e retweetado pelo próprio Lula, viralizou nos últimos dias do mês de maio: teve 4 milhões de views e fez com que a atriz recebesse um inesperado tsunami de críticas, como Adriana disse ao UOL.

O detalhe é que a cena aconteceu no programa Mulheres da TV Gazeta em 2015! E depois de tanto tempo, a própria atriz, que há 7 anos quis quebrar o prato de Lula, diz ter mudado de postura. Adriana chegou a comentar que achava desnecessário reviver algo tão antigo para usar como meme.

Acontece que todos nós AMAMOS transformar conteúdo de TV em memes. Dá para lembrar de dezenas, centenas, de exemplos de entrevistas de anônimos e famosos em telejornais, apresentadores de programas, cenas de novela, que tiveram esse mesmo destino nas redes sociais.

Quem não se lembra, por exemplo, daquele viral pioneiro do "sanduíche-iche" da entrevistada Ruth Lemos, que falava ao microfone usando um fone de ouvido com "delay", aquele som que entra com atraso e atrapalha nossa fala? Ou do comentário "que deselegante!" de Sandra Annenberg no Jornal Hoje, na volta de uma entrada ao vivo em que uns garotos malucos atacaram Monalisa Perrone. Sem contar todos os bêbados, os doidos, que nos deram frases inesquecíveis como "Se eu pudesse eu matava mil!", do Jeremias Muito Louco ou do garoto que está "cagado de fome".

As novelas são outra fonte generosa de memes. Certeza que você já viu e postou a vilã da novela "Senhora do Destino", transformada em "Nazaré Tedesco intrigada", com aqueles cálculos matemáticos sobre a cara de Renata Sorrah. Ou o meme da Carolina Ferraz como Norma Gusmão, em "Beleza Pura", gritando "Eu sou Rycahhhhhh!".

Os programas de entrevistas também são pródigos em fornecer material para a Internet. Todo ano, no dia 19 de dezembro, a Internet comemora o "Berenice Day", a partir da história "No Limite da Morte" contada pela saudosa Leila Lopes, que quase capotou no ano de 1999 com sua então empresária Berenice. Tem gente (eu) que sabe o texto de cor (um sol belo, azul, 17 horas). É um clássico da cultura pop, por assim dizer. O que dizer então da "Grávida de Taubaté" com sua bola de Pilates sob os vestidos estampados? A Grávida de Taubaté gerou toda uma linhagem de memes que duram até hoje, causando problemas até mesmo para a imagem da cidade de Taubaté, cujo nome passou a ser usado como sinônimo de coisas visivelmente falsas.

Mas se hoje podemos criar todos esses memes a partir de materiais da televisão, foi graças à evolução e barateamento da tecnologia. Sim, porque até os anos 1980 era impossível ter imagens da TV! O que passava na tela, passava. Foi só a partir da chegada do videocassete ao Brasil que tornou-se possível "gravar imagens da TV". Nos anos 1990 chegaram os celulares, mas ainda sem vídeo.

Hoje, não. Hoje podemos usar tudo o que existe e existiu na TV como material para nosso dia a dia. Tudo está ao nosso alcance, tudo pode ser capturado: damos print screen, gravamos da tela do celular, editamos, sonorizamos, adicionamos filtros, efeitos.

A TV, que um dia foi quase um altar ao redor do qual a família se reunia na sala, tornou-se uma espécie de saldão de ofertas do audiovisual, um brechó infinito, onde peças novas, coisas antigas, itens vintage se misturam, prontos para serem selecionados, reciclados, reusados, resignificados e transformados em memes para nossas redes sociais. Para a nossa comunicação. Para a nossa alegria!

Beijo, Leila Lopes.