Shakira e Piqué, Bentinho e Capitu, você e seu krush
O que fazer com o ciúme
Já é assinante? Faça seu login
Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:
Oferta Exclusiva
6 meses por R$ 1,90/mês
SOMENTE ESSA SEMANA
ASSINE A FOLHACancele quando quiser
Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.
Essa semana saiu aqui na Folha que a Shakira tinha contratado uns detetives para descobrir uma traição do Piqué. Confirmando o ditado popular, todo curioso é corno. Mas o que me surpreende não é o relacionamento extraconjugal, e sim uma deusa dessa passar por questões tão mundanas, e, pior, que o casamento tenha acabado ao invés de um ajuste na relação.
Se você tem calafrios ao pensar na possibilidade do krush se envolver com alguém e odiou o que leu no final do último parágrafo, você não está sozinho. Mas saiba, caro leitor, que o ciúme vem causando merda há centenas de anos, muito antes de Bentinho desconfiar de Capitu.
Se o controle é uma ilusão e a gente não controla nem a si mesmo, quiçá o fogo no rabo do krush; será que dá pra lidar de forma melhor com o ciúme?
Papai e mamãe casaram zilhões de vezes, e observar as dinâmicas de casais é um hobby que me acompanha desde criança. O marido mais legal que vi era monogâmico não praticante, tipo aquela pessoa que se diz católica, mas que não vai à missa e não reza, sabe? Um dia conto mais sobre esse casal, questionando a monogamia e tals, mas hoje não, Faro.
Anne Lotterman foi bombardeada no Faustão (Band), também essa semana, ao falar que as traições amorosas podem sim ser perdoadas. Se eu tivesse lá, ela não teria apanhado tanto, porque iriam se horrorizar bem mais comigo dizendo que determinar o rumo da vida da gente por 15 a 20 minutos do parceiro com outra pessoa, apesar dos pesares, me parece no mínimo precipitado.
Tem barraco a rodo nas histórias sobre traição e ciúme, e, até onde minha vista alcança (pelo menos por enquanto), só causa dor. Eis que ouvi uma com final feliz que, coincidentemente, me falaram essa semana.
Quando o ex falou que tinha se apaixonado por outra pessoa, uma gaúcha que fazia vela, e que estava se separando pra mudar pra Porto de Galinhas com ela, o coraçãozinho da fulana, que tinha filhos e uma vida planejada com ele, se liquefez.
Ela poderia ter ficado deprimida, mas nesse caso o ciúme a impulsionou. "Se a tal paquita erótica faz vela, por que eu não posso fazer?" Lá se foi a fulana fazer aulas; comprou um hobie cat, depois foi fazer navegação oceânica, foi a Fernando de Noronha, Abrolhos, e virou vice-campeã brasileira na sua categoria.
O tempo cura quase tudo, dizem, e dois anos depois a fulana foi levar a filha pra Porto de Galinhas num dos encontros de férias com o pai e sua mulher, a tal gaúcha. Papo vai, papo vem, ele diz que a mulher tem hidrofobia. A fulana muito surpresa comenta: "Nossa, deve ser muito difícil pra ela velejar, se tem medo da água". Ele responde: "Velejar? Imagina! Quando te disse que ela fazia vela era a de soprar".
Se o ciúme fez a fulana criar uma paquita erótica no seu imaginário, o tempo curou as feridas, como faz normalmente, desde que o ocorrido não vire um disco arranhado repetindo o que aconteceu no passado.
Nietzsche, em seu livro "Sobre a Utilidade e a Desvantagem da História para a Vida", vai dizer que "existe um grau de insônia, de ruminação, de sentido histórico, que prejudica o vivente e por fim o destrói, seja um homem, um povo ou uma cultura". Ou seja, o fato de alguém ficar remoendo um certo acontecimento, sem conseguir esquecê-lo, é capaz de destroçá-lo.
Um caso horrível é o das pessoas que parecem não aceitar que o parceiro tenha um passado, sem conseguir conviver com o fato de que o outro amou, transou e teve filhos ao longo da vida. Para mim, o cúmulo disso é ter ciúmes dos filhos; tem uma aberração dessa na minha família.
Sobre a história da paquita, eu ouvi da boca da fulana ao lado da gaúcha, em um dia que estávamos reunidas. As duas viraram melhores amigas e viajam juntas com as filhas, que são irmãs. Depois do ciúme da fulana ter sumido, a realidade apresentou uma pessoa maravilhosa pra outra. Aliás, a tal gaúcha, que é um anjo e uma das melhores amigas da minha tia, ama tanto a primeira mulher do ex, que fez a gente amar também.
Então, caro leitor, por mais que fazer uma amizade com a pessoa que seu krush te trocou pareça impossível, é justamente isso que torna essa ação tão mais incrível. Ou melhor, por mais que o ciúme e o rancor pareçam a resposta óbvia, esse remoer acaba nos estagnando e nos adoecendo, ou seja, o perdão e o afeto, apesar de não parecerem, deveriam ser a reação mais óbvia, pois nos encaminham ao amor e a uma vida mais bela.
A fulana e a gaúcha, ao invés de escolherem o rancor, decidiram escolher o amor, o que as possibilitou uma grande amizade para toda a vida. Ambas, ao invés de terem se prendido a olhar somente pra trás, presas em seus próprios buracos, conseguiram se liberar disso ao escolher o caminho do afeto, e passaram a andar pra frente, rumo a uma vida mais gostosa de ser vivida, em todos os sentidos.
A Phoda Madrinha deseja que você não tente controlar o krush, que você não sinta nada de ruim, especialmente ciúme, mas caso ele apareça, que você saiba administrar melhor esse sentimento. E, que na pior das hipóteses, ele te mova pra algo melhor, como um esporte novo, medalhas e uma amizade como a da fulana e a gaúcha.
PS: As obras que ilustram essa coluna são da Julia Panadés, mulher do meu primeiro marido.