Venezuela vence concurso que derruba etarismo e aceita misses até 45 anos
'Não cabem mais machismos', diz a gaúcha Julia Gama, que é madrinha do concurso
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Na noite desta quinta (2), a gaúcha Jéssica Lírio, 29, chegou perto de trazer mais uma coroa mundial de miss para o Brasil. Muito mais que isso, ela quase se tornou uma das primeiras representantes da nova era do mundo das misses. Isso pois a modelo ficou em terceiro lugar na final do Miss Universal Woman, um disruptivo concurso de beleza que chega para fincar mais um prego no novo "perfil da miss".
Apesar de estar só em sua primeira edição, o certame já pode se enquadrar como um dos grandes do setor, pelo grupo numeroso de mais de 20 candidatas. Também pelas suas regras flexíveis, que aceitam misses mais velhas, de 25 a 45 anos, e sem restrições quanto à maternidade ou estado civil. Ou seja, podem se candidatar mulheres que são mães, casadas, divorciadas ou solteiras.
"Como embaixadora do Miss Universal Woman e porta-voz da organização, muita gente me pergunta como eu definiria a nova era da beleza e essa mulher universal que buscamos. Isso é justamente o que não vamos fazer. Não queremos definir o que é essa mulher, pois definir é limitar", explica a vice Miss Universo 2020, a gaúcha Julia Gama, que é uma das madrinhas do evento.
"A Universal Woman são todas as mulheres. São as mulheres sendo livres para serem elas em sua máxima expressão. Acreditamos no poder infinito de cada mulher e estamos aqui como plataforma que promove a união entre mulheres do mundo inteiro para juntas nos potencializarmos mutuamente", adiciona.
Também gaúcha, Julia é considerada hoje um dos maiores exemplos do que é ser uma miss no mundo atual. Acima dos atributos estéticos, ela fala múltiplos idiomas, morou em diferentes países, como China e México, e é uma comunicadora nata. Atriz e modelo, ela também é influenciadora social e já estudou engenharia química numa universidade federal, derrubando desde o início de sua trajetória nesse ramo, em 2014, o estereótipo de que miss não pode ser inteligente.
"O evento é desenhado com regras sensatas e respeitosas, é uma justiça que se faz às mulheres. Já é hora de que toda mulher possa viver o seu sonho e o seu propósito. Não há mais lugar em nossa sociedade para machismos ou etarismos".
Coisa parecida com o Universal Woman vai passar a acontecer, a partir deste ano, nas regras do Miss Universo, que começa a aceitar mulheres que são mães, casadas e divorciadas. No Miss Supranational, outro grande concurso mundial, a idade limite também foi aumentada e agora são aceitas misses até 32 anos.
Esta é também a primeira vez que, em 70 anos de história, o Miss Universo terá sua organização comandada por uma mulher. Isso pois a atual dona da marca é a empresária bilionária tailandesa Anne Jakapong Jakrajutatip, que é uma mulher trans e famosa apresentadora de TV em seu país.
A coroação do Miss Universal Woman foi realizada a bordo de um cruzeiro em Abu Dhabi, e venceu a Miss Venezuela, Valentina Trivella, 27, seguida pela dominicana Karibel Perez, 29, em segundo lugar. Anteriormente Dubai havia sido anunciado como palco da final, mas uma das políticas do país não permitiu sua realização em terra.
Criado pelo conceituado preparador de misses venezuelano Alexander Gonzalez, a premiação para a vencedora é de US$ 100 mil (cerca de R$ 500 mil). Ao longo de seu reinado, ela vai viajar o mundo e trabalhar principalmente entre o eixo Europa-Ásia, atuando como modelo e representante do evento, até passar o posto na próxima edição.
Com tudo isso, entendemos que os novos rumos da indústria dos concursos de beleza corre contra o tempo para poder se encaixar com firmeza no modelo atual de sociedade, onde o patriarcado é cada vez mais questionado e as minorias têm encontrado mais espaço, após muita luta. Sim, os concursos estão atrasados, mas nunca é tarde para ajustar os ponteiros.