De faixa a coroa

Concurso de beleza não reforça machismo, mas continua estigmatizado, diz miss brasileira

Lala Guedes, 27, é primeira nordestina a vencer o Miss Grand Brasil

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Em janeiro deste ano, a paraibana Lala Guedes, 27, tornou-se a primeira nordestina a conquistar o título de Miss Grand Brasil. Com a faixa, ela vai representar o país no Miss Grand International, um dos maiores concursos mundiais de beleza que, por causa da pandemia, ainda não tem data para a próxima edição.

Mesmo assim, ela segue sua preparação intensa para o certame, e esteve semana passada em Curitiba para afinar alguns detalhes com o especialista Paulo Filho, curador do popular blog “Hora da Miss”. Na viagem, ela teve a oportunidade de conhecer outras quatro cidades paranaenses e, entre outras atividades, fotografou no Jardim Botânico, gravou seu desfile na Ópera de Arame e viajou de Litorina de Luxo.

Lala é modelo internacional e morou no México por cinco anos. Quando voltou ao Brasil, começou a estudar medicina e foi aí que o mundo miss surgiu em sua vida. “Costumo dizer que cai de paraquedas”, conta ela bem-humorada. Em uma conversa exclusiva com a coluna, ela falou sobre sua trajetória, expectativas, rotina e o que pensa sobre as disputas de beleza na sociedade atual.

“Os concursos de miss ainda são estigmatizados. Uma parte da população ainda o enxerga como algo fútil, o que é totalmente irreal. Sabe-se que existe uma cultura machista que acredita que as mulheres resumem-se a um corpo e um rosto bonito. Mas concurso de miss não fortalece essa ideia, mas sim serve como porta de entrada para que todos conheçam o poder da mulher e as inúmeras qualidades e habilidades que carregam por trás da sua beleza”, destaca.

Até o momento, nenhuma brasileira conquistou o Miss Grand International, concurso que recebe mais de 70 países e tem a Tailândia como país sede da próxima edição. No ano passado, a paulista Marjorie Marcelle, 24, ficou entre as cinco finalistas e levou os fãs ao êxtase. Lala será a próxima brasileira a tentar o título e falou um pouco sobre suas expectativas à coluna.

*

Visão da sociedade
Os concursos de miss ainda são estigmatizados na sociedade atual. Uma parte da população ainda o enxerga como algo fútil, o que é totalmente irreal. Sabe-se que existe uma cultura machista que acredita que as mulheres resumem-se a um corpo e um rosto bonito e que, com isso, não estão aptas a exercerem importantes papéis na sociedade.

Concurso de miss não fortalece essa ideia de que a mulher é apenas beleza, pelo contrário, serve como porta de entrada para que todos conheçam o poder da mulher e as inúmeras qualidades e habilidades que carregam por trás da sua beleza. Graças ao excelente trabalho das misses e das organizações dos concursos sérios, esse pensamento errôneo vem sendo cada vez mais desmistificado e, em breve, será abolido.

Sua experiência
Costumo dizer que cai de paraquedas. Eu tinha cerca de 16 anos quando iniciei minha carreira como modelo profissional e, após pouco mais de um ano, iniciei minha carreira internacional pelo México. Foram cinco anos no total viajando a trabalho por diferentes lugares como Turquia, Alemanha, Grécia, Tailândia, China, Índia, Londres e outros até que, após iniciar um curso rápido na Universidade de Artes de Londres, decidi voltar para o Brasil e realizar um sonho: ser médica.

Esse ciclo se fechou, iniciei meu curso, até que surgiu o convite de participar de um concurso de beleza, por parte de uma amiga que já era miss. Após muita insistência, decidi participar sem nenhum compromisso, e acabei me apaixonando por todo o propósito que existe por trás de uma miss. E aqui estou, no lugar em que eu nunca imaginei estar, mas que não me imagino mais sem.

Nordestina no Miss Grand Brasil
É uma conquista grandiosa e inexplicável [ser a primeira nordestina a conquista o título]. Sempre quis mostrar ao mundo o poder da mulher paraibana, nossa história, nossa cultura. Conseguir o primeiro título do Nordeste de Miss Grand Brasil foi muito além do que sonhei. Sinto que Deus foi muito generoso comigo e por isso dou o meu melhor, dia a dia, para ser digna desse título e de representar todas as belezas do Brasil.

Rotina de preparação
Acredito que todo propósito necessita de preparação e, sobretudo, organização. Sempre tive uma rotina saudável, o que me ajuda bastante em relação ao meu preparo físico. Porém, competir em um concurso internacional exige muito mais que isso. Por isso acrescentei na minha rotina treinos de passarela, aperfeiçoamento de outras línguas, conhecimento pessoal e, principalmente, fortalecimento do controle emocional, um dos pontos que eu acredito ser o principal em uma preparação não só para um concurso desse porte, mas para a vida.

Novas expectativas
Confesso que não sou do tipo de criar expectativas. Gosto de viver dia após dia e não me antecipar adivinhando o que pode acontecer amanhã. Contudo, acredito que [vencer esse título] seria uma experiência única e desafiadora. Visitei a Tailândia duas vezes e, em uma delas, permaneci por três meses a trabalho. A grande vencedora do concurso morará na Tailândia por um ano e, apesar de eu já ter vivido essa experiência antes, confio que será totalmente diferente.

Primeiramente, por voltar à Tailândia após seis anos com outra maturidade, outras perspectivas e visões sobre a vida. Segundo, por fazer um trabalho que sempre sonhei: defender a paz e lutar contra a violência. Terceiro, por mudar totalmente a minha rotina, que hoje é de estudo e preparação. Não obstante, confio que a vida é feita de experiências. Sempre fui de sair do tradicional, de não me adaptar a rotinas e a sempre ousar. Nada melhor do que esse título para me fazer sair da zona de conforto, fazer algo novo e grande, não só na minha vida, mas na dos outros também.