Anitta entra em fase zen e se diz outra pessoa após terapia de autoconhecimento
Cantora se descobre após diagnóstico de vírus e fará parte 2 do documentário 'Eu', com Ludmila Dayer
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Antes de tentar explicar por que tem se mostrado tão zen nos últimos meses, a cantora Anitta convidou amigos, conhecidos e possíveis interessados em buscar novos caminhos de vida para assistir ao documentário "Eu", estreia da amiga Ludmila Dayer como cineasta e filme do qual a cantora é produtora associada.
As respostas estão todas no longa, exibido para uma seleta plateia formada por alguns jornalistas, profissionais do cinema e de saúde mental --boa parte deles presente no próprio filme-- na tarde deste sábado, 3, em São Paulo.
Uma delas é Max Tovar, xamã que não há de demorar a ser chamada de "guru de Anitta" pela imprensa. É para ela que Anitta telefona quando está em apuros emocionais, como aconteceu no dia do Grammy Latino, quando tudo começou a dar errado. Conhecida pela mão de ferro centralizadora, capaz de cuidar de todos os detalhes da própria carreira, Anitta aprendeu a relaxar, a delegar tarefas e, principalmente, a se colocar em primeiro lugar diante das adversidades.
DEU TUDO ERRADO. E DAÍ?
"É outra pessoa, né?", disse ela após a exibição do filme, acompanhado pela coluna. "Sou outra pessoa, minha equipe não está entendendo nada, as pessoas que estão me encontrando não estão entendendo nada, meus amigos, alguns estão me chamando de Buda", ri. "Acontece um problema? Eu falo 'vamos meditar, peraí'. No dia do Latin Grammy aconteceu tanta coisa! Faltava 30 minutos pra eu entrar no palco e eu não tinha nada pronto, deu tudo errado. Eu liguei pra Max e falei: 'Max, caramba, tá dando tudo errado'.
Até a roupa que eu botei pra ensaiar, que eu era apresentadora, e botei uma roupa preta pra ensaiar e o pigmento inteiro da roupa saiu na minha pele, e eu fiquei cheia de pigmento na pele, e a gente esfregava e não saía. E o cabeleireiro, que não levou as minhas coisas, tudo dando errado. E aí a Max foi falando: 'Calma, vamos lá, não vamos entrar nessa energia ruim'.
E eu: 'é, não vamos entrar nessa energia'. No dia anterior, a gente fez a prova de roupa, não tinha roupa, não tinha mais roupa pra cantar, não tinha mais roupa pra me apresentar. E eu falei: 'Ah, então tudo bem, Max, eu vou descalça, de repente a gente pega um shortinho'".
Um dos mantras para afastar o estresse e o que os outros vão dizer ou pensar, valorizando suas convicções, é apertar o famoso botão do "foda-se", conta. E então, nessas horas, repete: "foda-se, foda-se, foda-se". Respira, expira, e tudo bem. "Eu sempre acredito que tudo vai dar certo."
VÍRUS EBV
Anitta vai rindo do próprio relato. Como endossam Ludmila e Anitta, concordando com parte do que é dito no filme, o que acontece de ruim também tem seu valor. Ludmila reencontrou Anitta, amiga de longa data, no momento em que ela foi diagnosticada com o vírus Epstein-Barr, ou EBV, que pode ser transmitido por saliva.
A atriz, diretora e produtora havia atravessado exatamente o mesmo problema, tendo desenvolvido até esclerose múltipla, o que não chegou a acontecer com Anitta. E soube como conduzir o problema.
"Não existem coincidências. E no dia em que eu encontrei a Ludmila, estava prestes a enfrentar o pior dia da minha vida, e ela soube exatamente como me indicar o caminho", disse Anitta. Mas após o tratamento convencional do vírus, Ludmila disse que Anita deveria procurar Max, o que ela não fez de imediato e confessa que tentou adiar.
"Eu achava que eu estava ótima de cabeça, e não liguei. Aí a Max me ligou, e eu, por educação, achei que não ficava bem não ouvir o que ela me diria".
CONSTELAÇÃO FAMILIAR
A sequência do tratamento de Anitta indicada por Ludmila incluiu ainda Sandra Regina, médica, mentora e consteladora familiar, a quem a cantora levou a família toda para fazer uma "constelação familiar". "Hoje, não tem assunto que meu pai e minha mãe não conversem, eles vão até passar o Natal juntos, na mesma casa", comemora a estrela.
Anitta também recorreu a um mapa astral gestacional para entender como foi sua gestação, e encontrou pesadelos e pensamentos que não eram seus, mas da mãe, durante a gravidez. Um deles era o receio de perder tudo, engravidar e não poder sustentar o próprio filho. "A Max me disse: 'Pense se isso faz algum sentido? Não fazia sentido algum, e eu vim descobrir que esse era um pensamento da minha mãe."
"A gente vê que é sabotado por coisas que nem pertencem à gente. Essa é uma conversa que jamais existiria com a minha mãe", completou Anitta.
"São coisas que a gente tem que aprender a desfazer, porque estão dentro das nossas células, dentro dos nossos neurônios. O primeiro caminho pra sair disso é construir novas memórias celulares pra você", ensinou Ludmila.
O filme
"Eu" é o primeiro filme de Ludmila Dayer como cineasta. Sem acanhamento, ela conta que a ideia nasceu do próprio sofrimento e da busca por compreender dores que a acompanhavam desde a infância. O auge para recorrer a ajuda para a saúde mental veio da síndrome do pânico e da vergonha de ser socorrida constantemente com a resposta de que, clinicamente, ela não tinha nada.
O texto é todo narrado por ela em primeira pessoa, relatando o caminho desse processo, com imagens, sempre de costas, da atriz Fernanda Souza, também sua amiga e produtora executiva do longa. Ludmila admite que mal tinha noções de direção e usou tutoriais do Google para aprender a manejar a câmera principal adquirida para o longa, todo rodado em cenário rural.
A imagem do rosto de Fernanda só surge no final, momento do encontro da narrativa com o espelho. O documentário é todo costurado por depoimentos da própria Max e de Sandra, além da médica psiquiatra Eleanor Luzes, do neurocientista Diogo Lara e do autor e astrólogo Waldemar Falcão.
"Eu" é dividido em sete partes: autoconhecimento; a origem, período pré natal; o mapa gestacional; hierarquia e ancestralidade; a biologia da crença; o poder do coração; e a cura.
Anitta, que já tinha visto o filme, chorou de novo durante a sessão. E já combinou de fazer uma Parte 2 com Ludmila, agora em um texto que deve contar a trajetória das duas na busca por autoconhecimento e na importância da saúde mental para a saúde física.
"Quando eu entrei nesse processo, é um caminho que não tem volta", disse a cantora. "O mundo inteiro precisa saber disso, precisa conhecer a Max e todos os os profissionais que estão nesse filme."
"A Max podia se multiplicar em 30 mil Max, muda nossa vida, esse filme é só uma introdução", avisou Anitta, endossada por Ludmila.
SE FOSSE UMA FESTA...
A cantora contou que atravessou um período difícil, sem motivação física, e que se hoje está "aqui, conversando, falando e andando", deve muito ao caminho apontado por Ludmila.
"Ontem eu fiz um show e estava o diretor musical, tudo o que podia se fazer de errado num show ele fez, e eu estava tão bem. E todo mundo falou: 'quem é essa cantora que a gente não conhece?" E eu falei, cantora 'maximizada'. Eu não sabia se ia conseguir dançar e cantar e chegar ao fim do show, e fiquei tão feliz por ter conseguido."
Anitta contou ter convidado muita gente para a sessão do filme, neste sábado, e muitos não apareceram. "Hoje a gente convidou muita gente, vocês não têm noção, se fosse uma festa com bebida, com loucura...", insinuou, teriam vindo todos.
Presente na plateia, a diretora Laís Bodanzky ("A Viagem de Pedro", "Como Nossos Pais" e "Bicho de Sete Cabeças") pediu que ela não desistisse de investir em cinema e não se assustasse com a sala meio vazia, mas também estávamos no Cine Marquise, com 370 lugares.
Um dos lugares foi ocupado por Nelson Sato, dono de uma das grandes distribuidoras de audiovisual no Brasil, que prontamente se manifestou no bate-papo com a diretora e a cantora após a exibição, para negociar a distribuição do documentário.
Anitta atua junto com Thiago Pavarino como produtora associada do longa autobiográfico de Dayer. Eles assumem as responsabilidades relacionadas a contato, organização, marketing e visão de mercado.
Durante o processo de edição do filme, Ludmila precisou pausar o projeto por problemas de saúde. "Percebi nessa pausa que precisava mudar o formato para primeira pessoa, me expor mais. Se eu quero que as pessoas se identifiquem, preciso me vulnerabilizar e abrir mais sobre o meu próprio processo de autoconhecimento", diz a diretora.
"A gente aprende muito com a dor do outro. Eu acredito nessa troca. Quando acabou a edição eu estava praticamente 100% recuperada. Fazer o filme caminhou de mãos dadas com o meu processo de cura. Com o filme espero conseguir ajudar outras pessoas através da minha própria experiência", finaliza.