Colo de Mãe
Descrição de chapéu Família

No Carnaval fora de época, uma mãe perdeu sua razão de viver

A sociedade falha em proteger crianças e acolher a dor materna

Marcela Portelinha, mãe de Raquel Antunes da Silva, de 11 anos, é amparada no velório da filha, no sábado (23) - Reproduçao Globo News

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São Paulo

Não sei ao certo que horas eram na quarta-feira (20), início do Carnaval fora de época, quando uma notícia saltou aos olhos. No retorno da folia, na Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro, uma menina de 11 anos havia tido as pernas prensadas entre um carro alegórico e um poste.

A menina chegou a ser socorrida, fez uma cirurgia, mas, na sexta-feira (22), morreu. A foto da mãe da garotinha, estampada em jornais e sites, doeu em meu coração. Havia uma feição de desespero ao velar a filha. Relatos são de que ela desmaiou algumas vezes desde o dia do acidente, sem acreditar no que estava acontecendo.

Coloquei-me no lugar daquela mãe com o rosto desfigurado. Sua garotinha morreu, e sua vida, com certeza perdeu o sentido. O que era para ser um feriado de folia e alegria, tornou-se motivo de dor.

A dor dela é minha dor, e deve ser a dor de diversas mães. O choro e o desmaio são meus também. A sociedade que ri e se diverte —e busca retomar suas tradições de forma justa após dois anos de confinamento— entendeu pouco sobre empatia.

O motivo não é o acidente em si, mas o que se faz sempre depois de uma tragédia. Embora a Justiça tenha determinado escolta policial a todos os carros alegóricos —segurança essa que as escolas deveriam ter feito, por si, conforme documento assinado com a Prefeitura do Rio de Janeiro— a vida da menina não será recuperada, muito menos a da mãe.

Acidentes marcam o Carnaval há anos, mas é duro ver uma criança partir assim, por falta de segurança e cuidados de uma sociedade que, inteira, deveria se responsabilizar por sua vida. E é o que vemos diariamente: as infâncias roubadas no trabalho infantil, nas ruas, com crianças como pedintes. A falta de segurança em áreas de lazer, ruas, restaurantes e, até mesmo, escolas.

Quando nos tornamos mães e pais é que a gente percebe a hostilidade do dia a dia, é que descobrimos o quanto os ambientes estão fechados para nós mesmo. Para quem tem filho, não há fim de pandemia. O confinamento segue, se você não quiser ser a mãe que perderá um filho.

Diferentemente do que já cantou Chico Buarque, a dor da gente sai no jornal. Só precisamos avançar um pouco para que essa dor, profunda demais, não volte a ser noticiada. Perder um filho —ainda mais por falhas de adultos—​ é o pior que pode acontecer a uma mãe.