Colo de Mãe
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Educar filhos é ter que saber respostas para as questões mais difíceis

Há algumas semanas, tive que responder a pergunta mais difícil da minha vida materna

A pergunta seca e sem piedade veio da minha filha mais velha: “Mãe, qual o sentido da vida?” - Fotolia

Ser mãe não é tarefa fácil, todas sabemos, até mesmo as mulheres que não são mães.
Noites insones, doenças, dificuldades de aprendizado, vacinas e uma série de medidas duras para educar bem os nossos mini-humanos são apenas algumas das dificuldades da maternidade.

Tenho passado por tudo isso vivendo uma montanha-russa de emoções. Na hora em que o “trenzinho” sobe, vou na calma, já me preparando para a descida inevitável, que dá frio na barriga, é horrível, mas pela qual você vai ter que passar se estiver no brinquedo ou, neste caso, se for mãe. Em geral, vou na fé, na emoção, na raça e no instinto. Mas, como nem tudo é intuição, tem hora que ser mãe é ainda mais difícil.

Desenho de Manuela Silva Bueno, 6 anos - Arquivo pessoal

Passei pela minha maior prova há alguns domingos. Acordei tarde, tínhamos um aniversário no dia, fazia sol, mas estava frio. Eu ainda estava sonolenta, não tinha nem tomado o primeiro gole de café quando veio a pergunta que reverbera em ainda hoje em mim, sem uma resposta final.

Não, meus caros, a pergunta não é “como nascem os bebês?”. Já passei duas vezes por esse teste e creio que me saí bem. Porque a resposta para este questionamento é biológica e tem a ver com a reprodução das espécies. Respondendo conforme a idade da criança, a gente passa por essa fase (logo depois de ter contado a história da cegonha, claro) com nota dez no boletim materno.

A pergunta seca e sem piedade veio da minha filha mais velha: “Mãe, qual o sentido da vida?”
Respirei fundo, pedi tempo, como sempre faço quando não tenho a resposta. Sabia que não dava para pesquisar no Google.

Respondi: “O sentido da vida é viver; transformar o mundo e a sociedade em algo melhor”. A resposta foi rebatida por ela, que usou diversos argumentos dentre os quais se encontravam: “Mas o ser humano coloca fogo na Amazônia, mãe...” foi uma das coisas que ela disse, confrontando-me. Olha, quem disse que a maternidade atual é mais fácil do que a de antigamente está redondamente enganado. Hoje, as crianças têm outro funcionamento cerebral e começam cedo a nos colocar em saias justas maternas.

Pedi mais tempo. Para voltar a estudar os filósofos. Disse a ela que precisava relembrar o que pensa Santo Agostinho, Nietzsche e Platão sobre o tema. Argumentei que é algo complexo e que preciso reler João Guimarães Rosa e Gabriel Gárcia Márquez, além de mergulhar ainda mais nos meus livros e poetas preferidos. 

Precisava de tempo. De tempo comigo, de conexão, de solidão. Mas não tive nada disso. A vida veio passando como um furacão por nós e, nesta semana, perdi meu padrinho. É a terceira morte que contabilizamos em minha família dentro de cinco meses, do lado paterno. 
Primeiro, morreu a minha avó. Depois, minha tia-avó caçula, irmã dela, e, agora, o meu padrinho.

As dores pelas quais passei me fizeram relembrar que eu questionei o sentido da vida na minha juventude, quando era bem mais velha do que Luiza, que tem 12 anos. Aos 18, perdi meu namorado e queria, a todo custo, entender qual o sentido desta existência. O fato é que ainda não encontrei as respostas. Minha proposta é seguir com Luiza e Laura, buscando juntas o sentido da vida.

Enquanto isso, vamos vivendo, nos amando, construindo e cuidando umas das outras e de nossa família, pois a gente não sabe quando será o último abraço, quando é que vamos encerrar a participação na existência. Será que até lá teremos as respostas?

Agora