Colo de Mãe

O mundo corporativo não pode limitar a nossa maternidade

Emails e mensagem podem esperar um pouco

O mundo corporativo não pode limitar a nossa maternidade; filhos merecem nossa atenção, porque o tempo é a única coisa que não podemos segurar nem fazer voltar atrás - Fotolia

Acesso o celular e milhares de mensagens me lembram que tenho compromissos. São prazos a cumprir, problemas a resolver, agendas inadiáveis, trabalho, trabalho e mais trabalho. Entro em meu email, ainda em casa, fora da jornada combinada, e mensagens enviadas quase que 24 horas por dia esperam por respostas ou por atitudes que, mais uma vez, resolvam problemas.

Existe, no mercado de trabalho, uma competição velada que coloca na frente quem lê email primeiro e responde primeiro. Se você não acompanha esse ritmo –em geral de pessoas que não têm filhos– você fica para trás. O mundo corporativo é cruel.

Mas, mais cruel do que o mercado, os compromissos, as agendas e os problemas a resolver é o tempo. O tempo é a única coisa que não dá para segurar, como bem disse Ziraldo em seu clássico “O Menino Maluquinho”. A gente precisa é saber lidar com ele.

Nas redes sociais, há uma vitrine atrativa de conteúdos sendo produzidos e de temas sendo debatidos. São cursos, artigos e assuntos que nós, enquanto seres que vivemos neste mundo, não podemos perder. E, muitas vezes, não queremos deixar passar.

Mas eu paro o tempo para ver minhas filhas crescerem. Eu paro tudo para estar com elas. Correr, brincar, pular, cozinhar. E me estressar, dar broncas e criá-las. Paro o tempo para ver a beleza do desenvolvimento humano. Pauso os problemas e as soluções só para rir de alguma gracinha dita pelos lábios inocentes de uma menininha que acabou de fazer sete anos ou para ouvir as filosofias de uma adolescente que reclama das dores que a vida traz.

Eu me divirto com minhas filhas. Mesmo exausta, eu busco vivenciar os nossos momentos. Porque quando eu decidi ser mãe e escolhi ser jornalista eu já sabia que não seria fácil, mas eu também tinha certeza de que nada iria me deter.

Não seriam horas de trabalho que me impediriam de ver os primeiros passos, os primeiros dentes e vivenciar os primeiros sorrisos. A minha meta de existência é não deixar que nada nem ninguém me limite.

Eu sei que seria mais fácil se eu desistisse. Se eu tivesse escolhido não ter filhos ou  tivesse optado por ficar em casa, me dedicando só a elas. Seria mais fácil, mas não seria eu. Não iria condizer com a minha personalidade.

Na terapia, eu costumo dizer que “quero o mar e o sertão”. Minha terapeuta rebate: “É impossível”. Eu rio, porque eu não coloco limites no que eu quero. Eu coloco força de vontade, desejo, amor, fé e muita esperança.

 

Esperança de que, um dia, essa resistência no mercado de trabalho, sem abrir mão de ser a mãe que está presente (mesmo ausente em alguns momentos), seja o caminho natural de muitas mulheres que hoje, por cansaço, falta de estímulo ou falta de referências, desistem de algum ponto da vida, seja da parte materna ou da realização profissional.

Sei que não vivo em um mundo ideal e também sei que, no capitalismo, seremos sempre punidas por não seguirmos as regras, servindo ao mercado. Serve ao mercado quem só se dedica a ele ou quem fica apenas com a família, pois cuidar das crianças, dos homens e dos idosos também faz a roda da fortuna girar.

Eu não me limito. E vou, sim, em busca de um horizonte a construir. Eu não deixo que nada me defina, apenas a felicidade de ser quem sou e de estar inteira nesta existência. Eu paro o tempo para priorizar minhas meninas, porque elas extraem de mim o melhor sorriso e o maior amor que eu poderia sentir.

Agora