Atiradores como os de Suzano participavam de fóruns na deep web e buscavam exposição
Jovens mataram oito pessoas em escola e depois se mataram
Peço licença aos leitores para, em vez de responder a uma pergunta na coluna desta semana, fazer uma pausa para refletirmos juntos sobre atrocidades recentes que, de alguma maneira, tiveram influência da internet. Falo dos massacres de Suzano e de Christchurch.
Em que ponto a busca desmedida por fama, cliques e curtidas pode descambar para atitudes delinquentes e abomináveis? Há notícias de que tanto os assassinos da escola paulista quanto o atirador das mesquitas da Nova Zelândia participavam de fóruns radicais na “deep web” (internet profunda), uma parte da rede que não aparece em ferramentas de busca como o Google e não pode ser acessada por navegadores normais. Nesses ambientes encontra-se de tudo: de pornografia infantil a tráfico de armas, passando por fóruns que propagam mensagens de ódio, incentivam massacres e exaltam os perpetradores.
Isso é assunto para a polícia. A motivação desses assassinos em particular, tema para psicólogos e psiquiatras. A nós, cabem alguns questionamentos.
Além de buscar o reconhecimento de seus pares doentios da “deep web”, será que eles também não procuravam a fama num sentido mais amplo? Não procuravam ter a sua história conhecida, sair do anonimato, dar algum sentido para a sua vida? E até que ponto esses casos horrendos não são o sintoma extremo de uma doença social crônica, uma epidemia em larga escala que domina cada vez mais o mundo hoje: a hiperexposição em redes sociais?
Longe de mim querer dizer que pessoas que são dependentes de curtidas no Facebook para serem felizes são terroristas em potencial. Não é isso. Mas, se alguém precisa o tempo todo mostrar aos outros o que faz e pensa para validar sua experiência, será que essa experiência é realmente plena? Será que não está faltando algo? Conversas significativas olho no olho? Experiências realmente compartilhadas ao vivo? Vamos pensar juntos?