Produções originais ambientadas nos anos 1980 têm destaque em plataforma de streaming
Temática é explorada em diferentes gêneros de séries e filmes
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Em 15 de julho de 2016, a Netflix fez uma de suas apostas mais certeiras e que definiria um de seus principais nichos daí em diante. Na data, foi lançada a série de ficção científica “Stranger Things”, que contava a história de um grupo de crianças vivendo situações sobrenaturais na década de 1980.
De lá para cá, a série ganhou prêmios Emmy e MTV Awards, dentre outros –o site Rotten Tomatoes, por exemplo, registrou uma aprovação de 95% dos críticos. A terceira temporada de "Stranger Things" estreia no dia 4 de julho, e se passa no verão de 1985.
Em abril de 2018, antes mesmo da estreia da segunda temporada, o produtor e diretor da série, Shawn Levy, confirmou que a produção teria uma quarta temporada, com possibilidade de uma quinta em seguida.
Os cenários, roupas, jogos de RPG, trilha musical e referências à cultura pop da época foram parte desse sucesso. A Netflix descobria assim, com uma produção original, um lugar comum de narrativas que promovem um resgate cultural dos anos 1980 e 1990. No Brasil, a Globo aposta na nova novela das 19, "Verão 90", para conquistar esse público saudosista.
“Temos um ‘lugar de infância’ agradável, que pode ser rememorado com roupas, filmes, cheiros etc. Dá saudade desse tempo em que o futuro não tinha acontecido ainda”, explica a psicóloga e psicanalista Gabriela Malzyner.
A relação emocional e a memória afetiva de um período pós guerra-fria também é vista no campo musical e na moda. Os anos do “verdadeiro rock” dividiam espaço com Madonna e Michael Jackson, que revolucionavam o pop com jeans largos e brilho.
Nos cinemas, Steven Spielberg (inclusive, uma das influências de “Stranger Things”) roubava a cena. E foi em tudo isso que a Netflix se apoiou e compilou nessa nova leva de produções esperando atrair bons números de audiência.
O gênero das novas produções não foi tão relevante quanto a temática oitentista delas. O drama criminal “Narcos” divide a época com a série musical “The Get Down”, os dilemas do high school nos anos 1990 de "Everything Sucks!", a comédia “Glow” (inspirada na homônima que foi ao ar na televisão entre 1986 e 1989) e o drama absurdista “The End of the Fucking World”. Até mesmo a recente produção nacional e original da Netflix, “Samantha!”, investiu na temática.
Analisando a maioria das novas produções próprias que se passam nesses anos, conclui-se que o público-alvo é primordialmente os mais jovens.
“O saudosismo vem de uma lembrança de que aquele tempo era melhor do que o tempo vivido. Nos anos 1980, talvez a pessoa não lidasse com realidades que hoje ela vive. É uma saudade da sensação de não ter limitações”, diz Malzyner.
“Pessoas que viveram os anos 1960 e 1970 também têm saudades dessa época. Sempre existe um saudosismo de época; é uma tendência a gente olhar para o passado e sentir saudades dele", completa.
Mais recentemente, a série “Maniac” se promoveu justamente com a estética dos anos 1980, com a chegada dos computadores e avanço da tecnologia em cores azul e rosa neon, apesar de se situar no futuro.
“O Mundo Sombrio de Sabrina” também usa a estética nas luzes e roupas, apesar de se passar nos dias atuais. Ao mesmo tempo, séries antigas, como “Twin Peaks” e “Freaks and Geeks”, que se passam entre os anos 1980 e 2000, chegaram aos destaques do streaming mesmo tendo sido lançadas há 20 anos.
Séries já consolidadas, como "Black Mirror", que explora justamente o outro lado da linha temporal (o futuro), também deram uma chance à temática. O episódio “San Junipero”, da 3ª temporada, fala de uma tecnologia que permite “viver” o passado, e a história escolhida para representar o saudosismo tem todas as referências do auge dos anos 1980 e sua juventude vibrante. Seja pela escolha da época ou não, a aposta rendeu dois Emmy’s ao episódio.