Carnaval
Descrição de chapéu Alalaô

Rainha da Império de Casa Verde, Valeska Reis diz que vê poucas mulheres negras à frente de baterias

'Traduzo no corpo todas as paradinhas que os percussionistas fazem'

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

São Paulo

Eleita rainha do Carnaval 2008 pela Liga Independente das Escolas de Samba, Valeska Reis, 33, tem muito mais que samba no pé. Recém-casada, ela equilibra o trabalho como assistente de palco de Rodrigo Faro, na Record, há mais de dez anos, o de repórter na emissora e ainda se dedica ao trabalho como influenciadora nas redes sociais.

Com quase uma década à frente da bateria da Império de Casa Verde, a musa pisa novamente no Sambódromo do Anhembi na próxima sexta-feira (21), com uma fantasia chamativa, que representa toda a riqueza libanesa —país homenageado pela escola no samba-enredo deste ano. "Fazendo uma pesquisa, descobri que no Líbano gosta-se muito de joias, de muito ouro, de muito glamour. Então resolvemos traduzir isso na roupa que eu vou colocar na avenida. Ela é totalmente luxuosa", revela.

Essa pesquisa, aliás, se estende além do figurino. Elementos como da dança Dabke e da dança do ventre foram incorporados à interpretação da musa na avenida. "Desde que soubemos que o enredo seria esse, a gente vem recebendo visitas da comunidade libanesa em todos os ensaios. Eles participam mesmo, alguns nem sabem falar português, mas eles estão lá. Interagem, mostram para gente um pouco da cultura deles. Então isso tudo também foi trazido no desfile. É um trabalho feito com bastante cuidado."

Conhecida na comunidade pela dedicação aos detalhes, ela conta que procura ser rigorosa com as pausas e andamentos da bateria. "Eu traduzo no corpo todas as paradinhas que os percussionistas fazem. Esse é um diferencial, as outras rainhas não fazem isso. Todo tipo de paradinha que a bateria faz eu consigo fazer com o corpo também. Faço no quadril, faço com os pés, não apenas sambando."

Atenta aos debates em torno do empoderamento das mulheres negras, ela aponta situações de racismo dentro e fora das escolas, seja no Carnaval ou não. "O debate vem evoluindo, as pessoas têm falado mais sobre isso. Mas também é um caminho inicial, onde muita coisa ainda tem que acontecer, porque existe sim o preconceito nos dias de hoje. Tanto que a gente vê pouquíssimas mulheres negras nas frentes de bateria, então, eu também vejo isso como uma forma de preconceito", afirma.

Não é que ela não apoie as colegas. "Não sou contra, cada escola tem sua opção, mas é uma festa da cultura negra, do povo negro, e a gente vê poucos negros em destaque. A gente já teve presidentes negros, hoje são pouquíssimos."

Por outro lado, Valeska está mais feliz com os corpos que desfilam hoje no sambódromo. "Antigamente a gente via muitas mulheres musculosas, e hoje está mais homogêneo, hoje a gente vê mais corpos de verdade. Eu acho isso muito mais bonito, o corpo feminino. A gente vê que tem um cuidado físico, mas nada exagerado demais. As meninas estão assim."

Essa liberdade, segundo ela, está mais presente em outros aspectos também. Valeska diz que a personalidade da rainha ganha cada vez mais importância, frente aos atributos físicos. "As coisas estão mudando. Hoje as pessoas olham mais o samba no pé, a simpatia, a interação da rainha com a comunidade, a presença dela nos ensaios. Depois disso tudo vem a forma física", comenta.